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A onda do antiativismo
Praticado por empresas como Netflix e Tesla, atributo tem sido usado para atrair talentos no setor de tecnologia
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Hoje, mais de 9.500 vagas ofertadas na TrueUp são para empresas com “ambiente de trabalho livre de ativismo” | Imagem: Freepik

A TrueUp é uma plataforma de busca de empregos no setor de tecnologia e atualmente disponibiliza mais de 200 mil vagas — a maioria nos Estados Unidos. Como em qualquer site do tipo, os candidatos podem usar filtros para refinar a pesquisa de acordo com as qualificações exigidas, mas também pelo perfil da empresa com posições em aberto. Há o grupo das startups unicórnio, das que estão em fase inicial, das mais investidas pelos fundos de venture capital e até mesmo uma categoria exclusiva para “empresas do Elon Musk”. Mas esse não é o filtro de busca mais inusitado da plataforma. Na TrueUp, o usuário também pode limitar a pesquisa por empresas com “ambiente de trabalho livre de ativismo”.  


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Hoje, mais de 9.500 vagas ofertadas na plataforma batem com esse perfil. Na lista de recrutadores estão 11 empresas, incluindo algumas que já foram explícitas em seu posicionamento contrário ao ativismo de funcionários. É o caso da Coinbase, corretora de criptomoedas do Vale do Silício, que, em 2020, proibiu discussões sobre política e causas sociais dentro da empresa.  

À época, Brian Armstrong, CEO da Coinbase, escreveu uma carta aos funcionários no estilo “se não gosta, pode ir embora”, informando que indenizações seriam pagas àqueles que decidissem deixar a companhia por não concordar com a diretriz. O argumento de Armstrong era de que o ativismo dividia a empresa, gerava distrações e tirava o foco da geração de resultados.  

A Netflix não chegou a ser tão direta quanto a Coinbase, mas também deixou explícito o seu recado. Em maio deste ano, a gigante do streaming enviou um memorando para os funcionários com a seguinte mensagem: “Se você achar difícil oferecer suporte à nossa amplitude de conteúdo, a Netflix pode não ser o melhor lugar para você”, dizia um trecho do texto.  

A ação foi resultado de um episódio polêmico vivido pela companhia alguns meses antes, quando o especial “The Closer”, apresentado pelo comediante norte-americano de stand-up David Chapelle, estreou na plataforma. No show, Chapelle fez um comentário que foi considerado transfóbico ao dizer que “gênero é um fato”. A fala gerou protestos do público e levou funcionários da companhia a cobrarem um posicionamento da Netflix em relação ao tema. Dentre as reivindicações, foi pedido que a empresa contratasse mais pessoas trans e não-binárias e garantisse produções que não contivessem discursos de ódio.  

Outra empresa considerada livre de ativismo pelo filtro da TrueUp é a Tesla, fabricantes de carros elétricos de Elon Musk. O polêmico bilionário tem estado quase que diariamente nas manchetes desde que assumiu oficialmente o comando do Twitter, comprado por ele por 44 bilhões de dólares. Musk mandou milhares de funcionários da rede social embora e muitos deixaram a empresa voluntariamente por não concordarem com as exigências da nova gestão. Entre elas, o fim do home office e uma jornada de trabalho mínima de 40 horas semanais.  

Musk é crítico do movimento progressista conhecido como “woke”, que ganhou força com os protestos do “Black Live Matters”, após a morte do afro-americano George Floyd, em 2020, sufocado por um policial branco. Atualmente, o “woke” abrange lutas contra outros tipos de opressão e se tornou até mesmo um termo pejorativo entre os conservadores.  

Contradição? 

Por décadas, as empresas foram pouco explícitas em termos de posicionamento político e se engajavam pouco com o assunto. A mudança de postura ficou clara depois que bigtechs como Amazon e Microsoft entraram na justiça contra as políticas migratórias do então presidente Donald Trump. O movimento “Black Lives Matter” também atraiu o apoio ideológico e financeiro de diversas companhias.  

Teria a polarização piorado a ponto de as empresas usarem o antiativismo como uma qualidade para atrair talentos? “Certamente se eu estivesse procurando emprego, utilizaria esse filtro”, escreveu um usuário brasileiro do Twitter, em uma discussão sobre a ferramenta da TrueUp. “Me impressiona essas empresas não terem sido fortemente canceladas até o momento”, disse outro. 

Os críticos do antiativismo, por sua vez, acreditam que as empresas não vão conseguir um ambiente de pertencimento para todos, banindo assuntos como política e causas sociais no local de trabalho. “Para mim, uma empresa que se define como ‘antiativista’ é ativista”, afirma Daniel Wiedemann, diretor da Brunswick, consultoria internacional de comunicação corporativa. Sem sinais de trégua no clima de polarização que se abateu sobre o mundo, resta saber se o antiativismo ficará restrito a um grupo de empresas “isentonas” ou se outras vão abraçar esse “não-causa” também.  

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