Pesquisar
Close this search box.
Auditoria de direitos civis entra no radar dos investidores
Prática permite que acionistas avaliem se companhias estão cumprindo promessas
auditoria de direitos civis, Auditoria de direitos civis entra no radar dos investidores, Capital Aberto
AirBnB foi a primeira grande companhia dos Estados Unidos a passar por uma auditoria de direitos civis, em 2016. Imagem: Freepik

O assassinato do americano George Floyd, homem negro de 46 anos asfixiado por um policial branco em maio de 2020, mudou a forma como a sociedade olha para injustiças raciais e o cumprimento de direitos civis. O episódio foi o estopim do movimento Black Lives Matters, que tomou as ruas em todo mundo com uma série de protestos em plena pandemia. Desde então, cada vez mais as companhias têm sido cobradas pelos investidores a adotar iniciativas de combate ao racismo e a outros tipos de discriminação e a comprovar, na prática, o que têm feito. Esse cenário explica por que renomadas empresas, como J.P Morgan, Citigroup, Johnson & Johnson e McDonald’s, já estão implementando — ou estudam implementar — auditorias externas de direitos civis.


A Capital Aberto tem um curso online sobre investimentos responsáveis. Saiba mais!


Nas empresas que adotam políticas antirracismo, por exemplo, esse tipo de auditoria permite que um agente externo identifique, de forma objetiva e independente, se a empresa contribui de fato para a promoção da equidade racial ou se de alguma forma ainda fomenta a discriminação. Os apoiadores da iniciativa argumentam que a adoção desse tipo de avaliação pode ajudar no combate ao racismo estrutural — que ocorre, por exemplo, quando um banco cobra taxas mais altas ou concede menos crédito a pessoas negras.

O trabalho do auditor também oferece um diagnóstico sobre se as promessas feitas pelas empresas estão sendo colocadas em prática. Atualmente, uma auditoria de direitos civis analisa se o J.P. Morgan está cumprindo com o compromisso de disponibilizar 30 bilhões de dólares para o financiamento imobiliário e de hipotecas a negros e latinos e para ações de filantropia em comunidades formadas por minorias. O Citibank igualmente passa por uma auditoria do gênero. O banco prometeu destinar 1 bilhão de dólares para reduzir a desigualdade racial de renda nos Estados Unidos.

Resultados práticos

Ainda que tenham ganhado força após a morte de George Floyd, as auditorias de direitos civis já vêm sendo conduzidas há alguns anos, gerando mudanças significativas em algumas empresas. O AirBnB foi a primeira grande companhia dos Estados Unidos a passar por esse tipo de avaliação, em 2016, depois de usuários da plataforma relatarem que tiveram pedidos de reserva rejeitados pelos locatários por causa da cor de sua pele. Por recomendação dos auditores, a empresa adotou termos de uso que proíbem práticas discriminatórias. As regras estabelecem que anfitriões do AirBnB não podem recusar reservas com base em raça, cor, etnia, nacionalidade, religião, orientação sexual, gênero ou estado civil. Segundo a companhia, mais de um milhão de usuários da plataforma não quiseram aceitar os termos.

Foi também por causa de uma auditoria de direitos civis que a conta do ex-presidente Donald Trump foi bloqueada no Facebook em janeiro do ano passado, quando radicais de extrema-direita invadiram o Capitólio na tentativa de impedir a posse de Joe Biden. A rede social já vinha sendo criticado pela forma como gerenciava o conteúdo publicado por Trump e outras postagens de incitação à violência, e a conclusão dos auditores ao se debruçarem sobre a questão foi de que o Facebook não estava sendo capaz de proteger seus usuários de desinformação e discriminação.

Demanda crescente

Interessados nos diagnósticos feitos pelas auditorias de direitos civis, acionistas ativistas têm demandado, em assembleia, a adoção desse tipo de prática. “Os líderes das empresas não são especialistas em diversidade, equidade e inclusão. Por isso, uma auditoria de justiça racial é crucial. Ela pode examinar com objetividade o impacto externo que uma empresa tem nas comunidades formadas por minorias”, justificou a Mercy Investments, ao propor, em assembleia geral deste ano, que a Johnson & Johnson se submetesse a uma avaliação independente sobre questões raciais. Alegando que a contratação de uma auditoria de direitos civis tiraria recursos de outras medidas de diversidade em curso, a empresa pediu aos acionistas que votassem contra a proposta. Ainda assim, mais de 60% dos participantes da assembleia votaram a favor da sugestão da Mercy.

No mês passado, metade dos acionistas do McDonald’s, incluindo grandes investidores, também votaram a favor da implementação de uma auditoria independente de direitos civis na rede de fast food, contrariando recomendação da companhia. Cerca de 95% das unidades da empresa são franquias que usam critérios próprios de contratação e remuneração. Por meio do trabalho auditores, os acionistas esperam identificar se a prática está contribuindo com disparidades sociais e raciais.

E é possível que, em breve, os auditores tenham que se debruçar sobre temas ainda mais sensíveis, como o aborto. A interrupção da gravidez é um direito nos Estados Unidos garantido pela Constituição desde 1973, ainda que alguns estados tenham implementado leis próprias contra a prática. Organizações de apoio à reprodução e saúde materna incentivam as companhias a avaliarem o impacto dessas restrições em seus negócios, alegando que as funcionárias podem sofrer com falta de assistência médica nos locais onde o aborto é proibido. A pauta vem ganhando espaço nas assembleias e já chegou aos encontros de acionistas de Walmart e TJX. As empresas pediriam à Securities and Exchange Commission (SEC) que o tema não fosse votado, afirmando que ele “transcende questões ordinárias do negócio”, mas o pedido não foi acatado.

O fato é que, dada a complexidade dos assuntos ligados a direitos humanos, a contratação de auditorias de direitos civis deve ser cada vez mais entrar no radar dos investidores. Então, é bom que as companhias comecem a se acostumar com a ideia.

Matérias relacionadas

Empresas britânicas terão metas de diversidade mais ambiciosas

Como os mercados podem contribuir com a luta contra o racismo

Cultura de trabalho tóxica da Rio Tinto serve de alerta

Fim do fast fashion?


Para continuar lendo, cadastre-se!
E ganhe acesso gratuito
a 3 conteúdos mensalmente.


Ou assine a partir de R$ 34,40/mês!
Você terá acesso permanente
e ilimitado ao portal, além de descontos
especiais em cursos e webinars.


Você está lendo {{count_online}} de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês

Você atingiu o limite de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês.

Faça agora uma assinatura e tenha acesso ao melhor conteúdo sobre mercado de capitais


Ja é assinante? Clique aqui

mais
conteúdos

APROVEITE!

Adquira a Assinatura Superior por apenas R$ 0,90 no primeiro mês e tenha acesso ilimitado aos conteúdos no portal e no App.

Use o cupom 90centavos no carrinho.

A partir do 2º mês a parcela será de R$ 48,00.
Você pode cancelar a sua assinatura a qualquer momento.