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Alex Ibrahim: “Janela para IPOs deve abrir só em setembro — e com sorte”
Head de mercados internacionais da Nyse comenta perspectivas para ofertas de ações nos EUA e o que esperar das listagens de companhias de tecnologia e Spacs
IPOs nos Estados Unidos, Alex Ibrahim: “Janela para IPOs deve abrir só em setembro — e com sorte”, Capital Aberto
Alex Ibrahim: “O Brasil é uma das três regiões fora dos Estados Unidos onde vemos um maior potencial de IPOs.”

Até meados de março, Alex Ibrahim, head de mercados internacionais da Bolsa de Nova York (Nyse), acreditava em condições propícias para a realização de ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) na bolsa americana já no segundo trimestre deste ano. Mas com o crescimento da aversão ao risco — causado pela guerra na Ucrânia e pela escalada global dos preços —  e a tendência de aumento dos juros pelo Fed, ele reviu suas perspectivas. Agora, com sorte, considera que a fila de IPOs deve começar a andar com algum vigor somente a partir de setembro.

De fato, o movimento de aberturas de capital deste ano nos Estados Unidos em nada lembra o frenesi de 2021. Segundo dados da Dealogic, de 1º janeiro até o dia 22 março, apenas 22 empresas fizeram IPOs no país, levantando a soma de 2,3 bilhões de dólares. Os números são bastante inferiores em relação ao ano passado, quando 79 empresas arrecadaram quase 36 bilhões de dólares no mesmo período.


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Na entrevista a seguir, Ibrahim fala mais sobre a janela para IPOs nos Estados Unidos — inclusive para empresas brasileiras — e as perspectivas para listagem de companhias de tecnologia e special purpose acquisition companies, mais conhecidas pela sigla Spacs.

Capital Aberto: Já estamos na metade do segundo trimestre de 2022 e a janela para IPOs ainda não se abriu. Alguma chance de isso mudar até o final de junho?

Alex Ibrahim: Este ano está realmente mais complicado para o mercado de capitais, mas não é a primeira vez que isso acontece. E nas ocasiões em que janelas ficaram completamente fechadas por vários meses, ao reabri-las, tivemos períodos fantásticos. Vimos isso acontecer em 2021, que sucedeu o ano de estouro da pandemia de Covid-19. O mercado voltou muito rápido, com uma dinâmica muito forte. Não dá para ter certeza se vai acontecer de novo ou não, mas esperamos mais atividade no mercado para o segundo semestre deste ano. Há um número enorme de empresas esperando para lançar ações, não só dos Estados Unidos, mas no mundo inteiro.

Capital Aberto: O que é preciso para que essa janela volte a se abrir?

Ibrahim: O mercado precisa se estabilizar. A volatilidade tem que diminuir para que os investidores voltem a olhar para o mercado de capitais e para as novas empresas entrando no mercado. Há muitas questões que dependem do governo: taxa de juros, controle da inflação. E ainda tem a guerra na Ucrânia, que, como se sabe, cria muita incerteza — e os investidores não gostam disso.

Capital Aberto: A guerra impulsionou os preços das commodities e aumentou a procura por empresas desse segmento. Isso pode provocar uma mudança no perfil das empresas que buscam listagem na Nyse?

Ibrahim: Nos últimos anos, houve uma predominância das empresas de tecnologia de todo o mundo se listando aqui. E elas ainda são maioria na fila de companhias que pretendem abrir o capital. Mas como o setor não tem performado muito bem [as ações de empresas de tecnologia do S&P 500 registravam queda de 19,8% no ano até 26 de abril], os IPOs dessas companhias devem demorar um pouco mais para acontecer. Por outro lado, vemos empresas de outros segmentos, como energia, mineração e consumo, com boas chances de atraírem recursos dos investidores. Inclusive, em abril, uma empresa de energia [a Excelerate Energy] se listou aqui, no meio da turbulência do mercado, e se saiu muito bem [o papel foi precificado em 24 dólares, mas abriu o pregão valendo 28,20 dólares].

Capital Aberto: E como ficam as empresas de tecnologia que pretendem se listar?

Ibrahim: É um momento bem delicado para elas. As primeiras que se listarem depois deste período turbulento vão precisar apresentar um histórico de rentabilidade bem claro, pois é isso que atrai o investidor. Não pode ser um negócio de abrangência apenas local, precisa atingir um mercado maior. Não digo que precise ser uma companhia global, mas que seja ao menos uma empresa regional.

Capital Aberto: E como está o Brasil no pipeline da Nyse hoje?

Ibrahim: É uma das três regiões fora dos Estados Unidos onde vemos um maior potencial de IPOs. Está junto com mercados bastante promissores, como Israel e sudeste asiático. Temos pessoas baseadas nesses locais acompanhando as empresas. Mas também não descartamos o Canadá, principalmente por causa da realocação de recursos para setores de mineração e energia, e o país tem muitas empresas nesses segmentos.

Capital Aberto: O fluxo de estrangeiros na B3 foi pujante nos três primeiros meses do ano. Isso impacta a Nyse em termos de competitividade?

Ibrahim: No momento, há um forte interesse no setor de commodities e o dinheiro está migrando para esse segmento no Brasil. Em outros períodos, ocorre o contrário, com o fluxo de recursos saindo de empresas do Brasil e vindo para o mercado americano. Isso é in and out. O mais importante é entender que existem 34 empresas brasileiras na Nyse e a maioria delas também possui ativos negociados no Brasil. Assim, os investidores que estão olhando para o Brasil têm a opção de negociar no mercado local ou no americano. Petrobras, Vale e Cemig, por exemplo, têm ativos nos dois mercados e isso facilita bastante a alocação de recursos onde o investidor percebe que é mais vantajoso, em termos de custo ou de câmbio.

Capital Aberto: Um dos atrativos para a listagem de companhias brasileiras nos EUA era a possibilidade de adoção do voto plural. Mas, recentemente, essa estrutura também foi adotada na B3. Isso gera algum tipo de competição?

Ibrahim: A Nyse não se vê como um competidor da B3. Uma listagem aqui não é para qualquer empresa e tende a ser um complemento para quem já está no mercado local. Acreditamos que a empresa brasileira precisa do investidor brasileiro, que constituiu um enorme pool de liquidez no mercado de origem. A listagem nos Estados Unidos é vantajosa para as companhias que querem alcançar o investidor que não chega diretamente ao Brasil e é mais focado em setores.

Capital Aberto: Qual a avaliação da Nyse sobre as Spacs? Os IPOs dessas empresas continuarão a se sobressair?

Ibrahim: Nos últimos dois anos, o segmento de Spacs avançou fortemente, gerando grande interesse tanto de investidores institucionais quanto do varejo. Mas a SEC [regulador do mercado de capitais nos EUA] está olhando com mais cuidado como esse mercado opera e estabelecendo algumas regras. Na reabertura da janela para IPOs, acredito que as ofertas de Spacs não devem ter a mesma força, enquanto não houver uma regulação clara sobre essas estruturas. A tendência é que sobre espaço apenas para veículos com boa governança, administradores já conhecidos e com visão clara do que querem fazer no futuro.


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