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Spacs enfrentam inferno astral
Retornos ruins e falta de negócios para compra pioram cenário para empresas de cheque em branco nos Estados Unidos
Spacs em baixa nos Estados Unidos
Desde o início de 2020 cerca de 850 Spacs completaram seus IPOs, mas aproximadamente 600 ainda estão procurando empresas nas quais podem investir — Imagem: freepik

Como acontece com quase toda estrutura pouco convencional no mercado de capitais, há um momento em que as circunstâncias são favoráveis para a disparada do interesse dos investidores. Nessas situações, o modelo acaba tendo muita procura, movimenta altas somas em captações, chama a atenção dos reguladores e, eventualmente, começa a mostrar seus pontos frágeis. É mais ou menos o que ocorre neste início de ano com as Spacs (special purpose aquisition companies), também conhecidas como companhias de “cheque em branco”. Retornos abaixo do esperado, principalmente de veículos lançados por gestores (sponsors) renomados, falta de negócios adaptáveis ao mecanismo heterodoxo das Spacs e maiores exigências regulatórias são ingredientes de um início de ano nada favorável para esse segmento.

De maneira simplificada, as Spacs são estruturas criadas especificamente para a captação de recursos via oferta pública inicial de ações (IPO), com a particularidade de não estarem associadas a uma empresa. Os recursos obtidos na operação são destinados a um negócio que ainda será prospectado e adquirido. Daí a ideia do cheque em branco: quando entram num IPO de Spac, os investidores não sabem que tipo de empresa vão financiar, confiando no “feeling” do sponsor — o gestor, fundo, asset ou até celebridade — que está por trás do lançamento para encontrar as melhores opções.

Depois do IPO, as Spacs têm entre 18 e 24 meses para encontrar um negócio suficientemente bom para oferecer o retorno que os investidores esperam. O que tem acontecido, no entanto, é que cada vez mais Spacs têm desistido da busca antes mesmo de ter começado. De acordo com dados da provedora de informações financeiras Dealogic, mencionados em reportagem do Financial Times, desde o início de 2020 cerca de 850 Spacs completaram seus IPOs, mas aproximadamente 600 ainda estão procurando empresas nas quais podem investir. Ainda conforme a Dealogic, 270 têm registro na Securities and Exchange Commission (SEC), o regulador do mercado americano, mas ainda não completaram o IPO.

Essa sinalização de um movimento desfavorável das Spacs trava também as novas ofertas. Os coordenadores de sete Spacs (que envolveriam IPOs de cerca de 2,5 bilhões de dólares no total) desde o início do ano avisaram o regulador americano que desistiram da listagem. Em dezembro, os cancelamentos já haviam somado cinco, ante apenas três de janeiro a novembro de 2021, também segundo o FT.

Na avaliação do colunista da Bloomberg Chris Bryant, as Spacs provocaram um furor de tal magnitude nos mercados que agora essas estruturas se tornaram disfuncionais. “As empresas de cheque em branco levantaram pelo menos 160 bilhões de dólares nos Estados Unidos em 2021, o dobro do volume captado no ano anterior, como mostram dados da Bloomberg. Quase 600 Spacs hoje estão em busca de uma empresa para adquirir, com outras 250 indicando que pretendem listar ações. É muito mais do que um mercado de ações frágil é capaz de digerir”, escreveu.

Nessa dinâmica nada animadora, há um desconforto adicional: as remunerações dos sponsors de Spacs cujas ações caíram muito desde o IPO. A questão é que os investidores têm visto seus retornos minguarem nos últimos meses (mesmo considerando as Spacs que conseguiram fazer aquisições) sem que a “fama” dos respectivos sponsors tenha revertido a situação.

Os ganhos desses profissionais são baseados em ações conhecidas como “promotes”, que eles adquirem a um preço simbólico e que, na ocasião da compra de uma empresa pela Spac respectiva, são convertidas em uma fatia do capital. Ou seja, os ganhos estariam mais “blindados” do que os dos investidores, que correm o risco da desvalorização dos papéis pós-IPO. Importante mencionar que, no caso das Spacs, como não há uma companhia associada à operação, não é possível calcular o preço de lançamento das ações por meio de um valuation tradicional. No modelo das Spacs, são arbitrados valores iniciais, sobre os quais se dão as altas e baixas posteriores no mercado.

Para se ter uma ideia do quadro geral, de 199 Spacs que fizeram aquisições no Reino Unido em 2021, apenas oito tiveram retorno superior ao do S&P, tradicional benchmark do mercado global. As ações da empresa de saúde Clover Health, adquirida por meio da Spac lançada pelo investidor de tecnologia Chamath Palihapitiya, despencaram 82% em 2021. Vale destacar que Palihapitiya é conhecido como “rei de Spacs”, tendo lançado dez estruturas desse tipo, compradoras de cinco negócios. Destino semelhante tiveram as ações de investidas das Spacs bancadas pelo executivo-chefe da empresa de serviços financeiros Cantor Fitzgerald, Howard Lutnick. Nesses casos, as perdas no ano passado foram de 66% das ações da fabricante de vidros View e de 64% para a indústria de sensores Aeye. Perdas amargas para investidores que se fiaram nas estrelas dos sponsors e que evidenciam bem o inferno astral das Spacs.

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