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Dinheiro estrangeiro busca a democracia e aterrissa no Brasil
Guerra na Ucrânia incentiva investidores a tirar capital da China e direcionar recursos para outros emergentes
Guerra na Ucrânia incentiva investidores a tirar capital da China e direcionar recursos para outros emergentes
Mercado chinês registra saídas líquidas de 11,2 bilhões de dólares de investimentos em renda fixa e de 6,3 bilhões de dólares em ações, algo sem precedentes | Imagem: freepik

Ainda sem um prognóstico de quando chegará ao fim, a guerra na Ucrânia evidenciou a negligência dos investidores em relação aos riscos de se aportar recursos em países autocráticos. A parte boa é que, ao que parece, eles aprenderam a lição — e como consequência, uma mudança nos fluxos de capital está em curso. Em seu relatório de março, o Instituto de Finanças Internacionais (IIF) apontou que a China, outrora um dos mercados emergentes preferidos dos investidores, registrou saídas líquidas de 11,2 bilhões de dólares de investimentos em renda fixa e de 6,3 bilhões de dólares em ações. Assinado pelo economista Jonathan Fortun, o documento destaca que esse movimento acontece numa intensidade e escala sem precedentes para o mercado chinês, e não encontra eco em outros países emergentes — o que é uma ótima notícia para o Brasil.

“Nos últimos anos, a China sempre recebeu entradas estáveis de recursos de investidores estrangeiros, mesmo diante de choques como a imposição de tarifas de importação pelos EUA e o início da pandemia”, observa Fortun. “Mas o atual momento da saída de capital — que se intensificou após a invasão russa à Ucrânia — sugere que os investidores internacionais estão olhando para a China sob uma nova ótica”, complementa.

Além de terem se dado conta dos riscos de manter investimentos sob governos antidemocráticos, eles observam o gigante asiático perder brilho. As perspectivas em relação ao crescimento da China têm sido prejudicadas pela política Covid Zero adotada por Pequim, que mantém duras restrições para controle da pandemia, e pela diminuição de estímulos econômicos. Na última semana, o yuan registrou a pior queda dos últimos três anos. No mesmo período, o Hang Seng China Enterprise Index, que acompanha a performance das maiores empresas listadas em Hong Kong, esteve entre os piores índices de ações do mundo. Neste ano, as empresas mais negociadas no mercado acionário chinês já perderam cerca de 2,7 trilhões de dólares em valor de mercado.

“Para que esse cenário mude, é preciso haver um grande aumento de liquidez ou que a classe política se esforce para promover uma mudança significativa na situação econômica de Xangai”, disse Wang Yugang, gestor de fundos da Beijing Axe Asset Management Co., para o South China Morning Post.

Brasil em destaque

Com a China perdendo terreno, a América Latina desponta como um dos mercados preferidos dos gestores de recursos. Enquanto a média de saídas líquidas de capital dos emergentes atingia 9,8 bilhões de dólares em março (considerando os mercados de ações e renda fixa), o fluxo de entrada de recursos para portfólios nos países latinoamericanos alcançou 10,8 bilhões de dólares, de acordo com o IIF.

E uma boa parte do dinheiro direcionado para a América Latina vem para o Brasil. Mesmo após o saldo do fluxo de capital estrangeiro na bolsa brasileira ter sido corrigido para baixo pela B3 por causa de um erro metodológico, ele ainda bateu recorde ao superar 64 bilhões de reais no início de 2022. E a expectativa é que essa quantia continue crescendo — e atingindo novos recordes — graças a alguns fatores. Um deles é o aumento da procura dos investidores por mercados ancorados em commodities. O setor de matérias-primas viu os preços dispararem devido ao descompasso entre oferta e demanda causado pela pandemia e, neste ano, a alta continua por causa da guerra na Ucrânia. Nesse contexto, o Brasil, cujas empresas produtoras de commodities correspondem a cerca de 30% do Ibovespa, torna-se um dos países mais lógicos para se investir.

Outro atrativo é o fato de que o Ibovespa está sendo negociado hoje com um desconto de cerca de 30% sobre a média histórica, o que torna as ações brasileiras baratas em relação às bolsas internacionais. Do lado dos investimentos em renda fixa, o país também se favorece por ter iniciado o ciclo de aperto monetário antes de outras economias, em especial os Estados Unidos. O Comitê de Política Monetária (Copom) começou a subir os juros em março do ano passado e sinalizou que pretende encerrar o ciclo de alta em sua próxima reunião, elevando a Selic para 12,75% ao ano.

“Somos uma democracia grande e consolidada, num momento em que se penalizam as autocracias”, acredita Felipe Miranda, CEO do Grupo Empiricus, em artigo para o Pipeline. “Entre os emergentes relevantes e com alguma liquidez, a Rússia se tornou ‘ininvestível’, a Índia está consensualmente cara, enquanto a China oferece grande complexidade e desalinha-se dos valores ocidentais clássicos, num momento em que esses valores voltam a ser enaltecidos em termos relativos. Dos BRICs, só sobrou o B”, ressalta.

O IIF acredita que os mercados permanecerão voláteis até que a guerra na Ucrânia termine e que haja mais clareza sobre o regime de sanções à Rússia e suas consequências para as economias globais. Por isso, sugere que os fluxos de capital sejam analisados cuidadosamente nos próximos meses, para que conclusões precipitadas não sejam tomadas. Ainda assim, por ora, não resta dúvidas de que uma mudança do fluxo de capital estrangeiro está em andamento. E, felizmente, ela favorece o Brasil.

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