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Serenidade na retomada – II
Importante trabalhar para que os erros cometidos com a governança não se repitam nas agendas ambiental e social
Ana Siqueira
Ana Siqueira é sócia fundadora da Artha Educação | Ilustração: Julia Padula

Em novembro de 2017, escrevi a coluna “Serenidade na retomada”, na qual  alertei, em momento de retomada das ofertas iniciais de ações (IPOs), sobre o cuidado necessário em cenários de euforia de mercado, quando a atenção e a diligência devem ser redobradas. Importante lembrar que em ambientes de festa, quando o volume da música aumenta e a iluminação é reduzida, os convidados são obrigados a fazer grande esforço para ouvir e enxergar — mas muitas vezes não conseguem superar as limitações impostas pelo ambiente festivo. É o que pode acontecer com ofertas de ativos


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Abordei na época o fato de algumas empresas pré-operacionais terem aproveitado o mercado aquecido1 para fazerem o IPO apesar de pularem etapas de amadurecimento relevantes para o processo de abertura de capital. Diversas empresas não estavam preparadas: faltou robustez em planos de negócios, muitas encontravam-se em estágio incipiente, tinham problemas de governança corporativa ou uma motivação errada para abertura de capital.  

Os efeitos negativos desse tipo de expediente ficaram claros no caso das empresas X. Expoente do grupo, a OGX abriu o capital em 2008, com a captação de 6,7 bilhões de reais. Era uma startup atuante na área de exploração e produção de petróleo e gás natural (E&P) que tinha importantes contratos comerciais com outras startups do mesmo acionista controlador. Vale observar que a atividade de E&P é de elevado risco, intensiva em capital e com maturação dos investimentos no longo prazo. 

Embora a OGX tivesse riscos relevantes de diversas naturezas — e que se somavam —, foi muito bem-sucedida no IPO. Soube aproveitar cenário extremamente positivo, de rara combinação de eventos: o Brasil tinha acabado de se tornar investment grade, o barril de petróleo estava acima de 130 dólares e a Petrobras descobrira o pré-sal havia pouco tempo. Isso sem falar no discurso otimista do prospecto e de sua administração. 

Mas por que voltar ao tema OGX? Em 15 de setembro, a CFA Society Brazil e a AMEC publicaram, conjuntamente, o whitepaper A anatomia da governança do Grupo X1. As duas instituições produzirão juntas uma série de publicações sobre governança corporativa — e o Grupo X foi escolhido como primeiro tema, face à relevância do caso sob a ótica de governança corporativa e pelo fato de ele já ter sido julgado pela CVM. 

O whitepaper traz detalhada análise do caso Grupo X, com contextualização do momento econômico da época, histórico do acionista controlador e das empresas do grupo, dos processos instaurados pela CVM, além de abordar os aspectos da governança corporativa. Tudo isso acompanhado de números, como, por exemplo, o grupo ter chegado a um valor de mercado de 98,1 bilhões de reais (58,4 bilhões de dólares), sendo que a OGX, sozinha, respondia por 76% desse montante (75 bilhões de reais) — sem ter produzido um único barril de petróleo. Adicionalmente ao whitepaper, as instituições realizaram um webinar, quando tive oportunidade de debater o whitepaper com o Fabio Coelho, presidente da AMEC, e com o Gustavo Herkenhoff Moreira, board member da CFA Society Brazil. 

Algumas reflexões  

  • A eficácia do trabalho do conselho de administração é essencial para a perenidade das empresas. Temas determinantes para o futuro precisam ganhar relevância nas pautas dos conselhos de administração.  
  • A atenção dada à pauta ESG cresceu de forma exponencial nos últimos três anos. Ainda enfrentamos relevantes desafios na pauta de governança por parte de algumas empresas (um exemplo é quando a prática difere daquela propagandeada na comunicação corporativa). Importante trabalhar para que os erros cometidos com a governança não se repitam nas agendas ambiental e social.  
  • A realização de um IPO é um divisor de águas para a empresa e, portanto, um momento propício para o investidor exercer o stewardship, influenciando e demandando que as companhias avancem em temas determinantes para o seu futuro. Os investidores institucionais têm muito a contribuir, monitorando e se engajando com companhias investidas.  

Precisamos avançar, sob o risco de perdermos relevância em relação ao mercado global. 

1 Particularmente em 2007, quando as ofertas de IPO totalizaram 60,5 bilhões de reais. 

2https://cfasociety.org.br/advocacy/policy-papers/ 

Ana Siqueira, CFA ([email protected]) é conselheira de administração e sócia fundadora da Artha Educação 

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