Na virada do século 21, nenhuma empresa era objeto do mesmo respeito e admiração da General Electric, a mais valiosa do mundo naquele momento. Um símbolo da engenhosidade, da inovação e da capacidade industrial norte-americana, a GE estendia seus tentáculos da área de iluminação à linha branca, de cartões de crédito a bancos, de plásticos a mídia, de turbinas de avião a geração de energia. Vinte e poucos anos depois, o gigante de mais de 140 anos dá seus últimos suspiros como conglomerado industrial, em processo de spin off que irá mudar sua configuração de forma permanente. Esta é a história de “Power failure: the fall of an American icon”, do aclamado jornalista financeiro Bill Cohan.
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Da imponência de suas 816 páginas, não é exagero afirmar que a leitura remete a uma tragédia grega. Meticulosamente pesquisada e permeada por vários depoimentos dos principais atores empresariais dos últimos 40 anos (Jack Welch e seu sucessor, Jeff Immelt), a obra passeia pelos bastidores e decisões que pontuaram a montanha russa financeira da empresa. Em geral, o sucesso da GE em seu início é associado à engenhosidade de Thomas Edison e sua lâmpada de filamento, mas Cohan nos apresenta Charles Coffin, o verdadeiro homem de negócios por trás das aquisições e combinações dos primeiros 20 anos da empresa. Após uma série de diversificações em áreas relacionadas à eletricidade devido às oportunidades e aos esforços das duas guerras, chegamos a um conglomerado industrial robusto e empenhado no desenvolvimento da emergente arte do “management”. Deste ponto nos anos 1950, começamos a acompanhar a trajetória de um aguerrido engenheiro da área de plásticos chamado Jack Welch, até sua ascensão ao cargo de CEO em 1981.
Acertos, erros e excessos
Reverenciado como o “CEO do século 20”, Welch foi um dos líderes empresariais mais respeitados de sua era. Sob sua condução, a GE chegou ao lugar mais alto do pódio de Wall Street. Segundo o comentário de um executivo da empresa no livro, “o conselho da GE deixava Jack tomar as decisões e as seguia, e ele acertava muito… (continua abaixo)”. Além disso, entre 1981 e 2001, o ambiente doméstico e internacional foi muito favorável aos negócios da GE — mas nuvens estavam se formando no horizonte.
Após um longo processo de escolha interna, Jack decide apontar Jeff Immelt como sucessor, e, completando o comentário registrado acima, “… o conselho também deixava Jeff tomar as decisões e as seguia, e ele errava muito”. Além disso, apenas alguns dias após ser aclamado como CEO, dois aviões se chocaram contra as torres gêmeas, e o resto da história já conhecemos. Recessão, guerra do Golfo, e um breve respiro até a crise dos subprime, que acertou o coração da máquina de fazer dinheiro da empresa, a GE Capital. A partir daí, começa o processo de encolhimento e perda contínua de credibilidade financeira, até a substituição de Immelt em 2017. A pandemia, dois anos depois, selou o destino das operações industriais, uma vez que o lado financeiro já havia sido completamente desmantelado.
A obra de Cohan provê uma lente eficaz para o entendimento do capitalismo norte-americano e sua evolução desde os anos 1970, a partir do microcosmo da GE. Os excessos construídos nas épocas de bonança, que alimentam egocentrismo e idolatria, acabam semeando a tempestade futura.
Power Failure: The Rise and Fall of an American Icon
William D. Cohan
Portfolio
816 páginas
1a edição ― 2022
*Peter Jancso é conselheiro independente
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