O desenvolvimento da economia como ciência é um fenômeno razoavelmente recente e passa por alguns momentos e personagens pivotais. Adam Smith e sua “mão invisível”, John Maynard Keynes e o papel do Estado, entre tantos outros, construíram os pilares desse campo que toca nossas vidas todos os dias. A partir dos anos 60, como a evolução exponencial da capacidade computacional, a academia e o mercado iniciaram uma verdadeira cruzada para buscar a validação dos modelos teóricos e encontrar o Santo Graal para colocar a economia a serviço da melhora do padrão de vida. Toda essa modelagem teórica afastou a economia da psicologia, aproximando-a de uma ciência exata na cabeça de muitos. No entanto, a história tem repetidamente demonstrado que os modelos falham em capturar uma nuance particular do ser humano: seu espírito animal e irracional diante de várias situações.
George Akerlof e Robert Shiller, acadêmicos renomados e recebedores do prêmio Nobel de Economia (2001 e 2013, respectivamente), se debruçaram sobre esse lado sombrio do “homo economicus” e suas implicações. O ponto de partida são dois pilares da teoria econômica moderna: a Teoria das Expectativas Racionais (os indivíduos sabem sempre tomar a decisão que traz mais benefícios) e a Teoria da Eficiência dos Mercados (o preço sempre reflete o ponto de equilíbrio entre oferta e demanda, isto é, o preço de mercado está sempre certo). Os autores apresentam uma série de traços da natureza humana que acabam contradizendo premissas fundamentais dessas teorias, fazendo com que não funcionem exatamente quando mais precisamos delas, isto é, em crises agudas. Eles nos relembram que fatores emocionais como a confiança nas instituições, nos sentirmos respaldados pela justiça, e mesmo narrativas sobre otimismo/pessimismo com o futuro afetam nossas decisões sobre quanto gastar, tomar empréstimos, poupar e investir.
Ao completar a leitura da obra, uma provocação emerge naturalmente: o que Freud fez pelo estudo da mente, os autores fizeram pelo estudo da economia, defendendo a ideia de que as pessoas podem ser levadas por decisões irracionais. Diante dessa realidade revolucionária, resta à sociedade contar com o governo e o Estado resguardar o bem-estar geral, muitas vezes por meio de intervenções para corrigir desequilíbrios de mercado ou mesmo restaurar a confiança e o otimismo no futuro. Akerlof e Shiller argumentam que boa parte do problema reside sobre a baixa confiabilidade do suposto comportamento racional, um dos fundamentos da economia de livre mercado. Em resumo, trata-se de uma história de como a economia descartou a psicologia em sua jornada desde Adam Smith, passando pelo Keynesianismo e chegando ao laissez-faire, e o reconhecimento de que o caminho, daqui em diante, deve ser iluminado pela economia comportamental.
Animal Spirits: How Human Psychology Drives the Economy, and Why It Matters for Global Capitalism
George Akerlof, Robert Shiller
Princeton University Press
264 páginas
1a edição ― 2010
Peter Jancso é consultor e conselheiro independente
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