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“Vamos acabar tendo um presidente e diretores no BC mais à esquerda, muito pressionado no final do governo Lula para baixar os juros.”
Sérgio Vale, Economista-Chefe da MB Associados
Sérgio Vale, Economista-Chefe da MB Associados

Um momento macroeconômico difícil, com guerras, inflação e juros altos. Essa tem sido a tônica de discussão entre economistas e os Bancos Centrais (BCs) nos últimos anos, quando os custos e os preços aumentaram consideravelmente desde a pandemia, em função dos gastos globais para conter o vírus. De lá para cá, o cenário global parece estar vivendo uma grande aspiral de combate à inflação, que tem pressionado as economias mundo afora, como Brasil e os Estados Unidos, refletindo claramente no aumento da taxa de juros.

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, conversou com a Capital Aberto sobre estes temas. Segundo ele, “os BCs têm feito o trabalho necessário para combater a inflação”, mesmo que uma ou outra autoridade monetária tenha demorado para começar o controle.

Além disso, o corte da taxa Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom), a disputa econômica entre Estados Unidos e China e o futuro do BC pós-Roberto Campos Neto, que deixa o cargo de presidente da instituição no final do ano, também foram abordados pelo economista.

Sérgio Vale, “Vamos acabar tendo um presidente e diretores no BC mais à esquerda, muito pressionado no final do governo Lula para baixar os juros.”, Capital Aberto

Como é possível a gente interpretar o atual cenário econômico global?

Muito desafiador. Do lado econômico, é preocupante o curto prazo, já que o pouso não está sendo suave nos EUA, uma desinflação com alguma dor, que é a recessão. Do lado eleitoral, isso é mais complicado. O curto prazo nos EUA é complicado, o mesmo vale para a Europa. Na China, o setor imobiliário sofre, enquanto a indústria de exportação voltando. Estruturalmente, há um aumento da competição entre EUA e China. A exportação industrial na China não afeta só o terceiro mundo, mas os países mais ricos. É uma guerra econômica profunda. Guerras importantes estão acontecendo e devem acontecer outras, como na Ásia, por exemplo, envolvendo Taiwan. O cenário é muito mais complicado do que 20 anos atrás.

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Qual o impacto dessa guerra geopolítica para a economia brasileira?

Tem o lado negativo e o positivo. O positivo é que a América Latina não é um ponto de interesse geopolítico, mas é uma grande fornecedora de commodities. O petróleo segue sendo importante, assim como as commodities agrícolas. O Brasil é competidor dos EUA em alguns produtos com a China. Em 2017, o Trump (Donald, ex-presidente) impôs tarifas contra a China e o Brasil se beneficiou. O lado negativo é que todo mundo sofre. Tudo que está acontecendo tem efeito no curto prazo. Com a inflação, a taxa de câmbio sobe e o nosso juro demora a cair.

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Como esse cenário nos EUA mexe com o Brasil?

Nos EUA, está tendo mais inflação e menos crescimento. Precisamos entender a possível recessão nos EUA e as consequências econômicas com a volta de Trump. Lá, pode-se ter um presidente à direita, e aqui, à esquerda, muito mais radical do que no primeiro mandato (Lula). No longo prazo tem essa questão eleitoral e política, de um mundo gradativamente mais autoritário. A democracia está sofrendo, com cenário mais difícil para países como o Brasil. Estamos num continente de interesse econômico grande, mas pouco geopolítico.

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Qual a dificuldade dos Bancos Centrais quanto à inflação?

Os Bancos Centrais estão fazendo o trabalho que é necessário. Tem toda uma discussão, não por aqui, mas nos EUA de terem atrasado um pouco a forma de combater a inflação. O Fed (banco central americano) poderia ter atacado antes, mas nos últimos meses tem acelerado. Com isso, vai fazer uma redução com mais dor na atividade para trazer a inflação à meta de 2%. No Brasil, o BC entrou no tempo correto, mas não consegue trabalhar sozinho. Na política fiscal, os gastos públicos estão subindo muito forte, no mesmo ritmo de Lula 2, e do governo Dilma [Rousseff, presidente de 2011 a 2016]. Junta aqui e lá fora, não tem muito espaço para queda dos juros. Há uma divisão sobre o corte da Selic esta semana, de 0,50 ponto percentual ou 0,25. Antes, a expectativa era que os juros pudessem alcançar 8%, mas hoje a taxa terminal está próxima de 10%, sendo um pouco mais otimista em 9,75%.

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Juros altos por mais tempo nos EUA tende a pressionar ainda mais o consumo?

É um caso muito complicado para o Fed, uma vez que o desemprego está baixo e há uma desaceleração vindo pela frente. Tem um cenário de desaceleração no trabalho para trazer o consumo para baixo. Os consumidores nos EUA estão com uma taxa de poupança baixa, com aumento da inadimplência no cartão de crédito. Há uma compra intensa de imóvel, 40% da renda está indo para hipoteca, taxa mais alta desde 2008, quando estourou o subprime (bolha imobiliária nos EUA). Eu acho que vai acabar caindo (juros) este ano. Se tiver o processo recessivo, o Fed está livre para reduzir os juros no final do ano. De tudo que está acontecendo, eu acho que vai precisar forçar a recessão para trazer a inflação para 2%.

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Internamente, o que podemos esperar da economia?

Parte do crescimento que vimos recentemente é do ano passado. O problema todo é saber se o crescimento é sustentável, ou será que vai continuar o crescimento via commodities. O Centro-Oeste e o Norte foram o que mais cresceram nesse período, como pudemos ver isso no IBC-BR (Índice da Atividade Econômica do Banco Central). Nesse momento, a política fiscal pressiona a inflação. Qual o custo de crescer? O crescimento orgânico é dinâmico, por isso, eu acho que vamos pagar o preço, que é o atraso na queda da inflação e dos juros.

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As commodities podem ajudar nessa retomada?

As commodities subiram com força de 2020 a 2023, mas isso não está acontecendo agora. Não tem supersafra, por exemplo. As questões climáticas têm contribuído negativamente também. As commodities continuarão sendo importantes. Dependendo do time (governo), entrega o estrago para o próximo presidente, fazendo um novo arcabouço fiscal. Vamos ter que voltar a discutir a Previdência, Reforma Administrativa.

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Qual será a decisão do Copom sobre corte de juros?

Sem muita surpresa. Na verdade, eu vejo o primeiro Copom com boas novidades e sinalizações importantes. Será que o voto será dividido? O Gabriel (Galípolo, diretor de política monetária do BC) deve se posicionar para o governo e quem entrou (novos diretores) também. A conversa da divisão vai ser muito importante para analisar o BC. O ideal seria uma queda de 0,50 p.p agora, para na próxima ser de 0,25%. Mas é muito provável que o corte seja de 0,25%, dado todo o estresse fiscal aqui e lá fora.

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Com a saída de Campos Neto, qual deve ser os próximos passos do novo presidente do BC?

Há quase uma concordância sobre a microeconomia bancária e a moeda digital. Precisamos acompanhar porque o BC tem perdido muitos funcionários, um dilema muito grande para funcionar a máquina. O mais preocupante é não perder qualidade com coisas mais atrasadas, as informações estão demorando para chegar, é preciso olhar com muito carinho para isso. A grande diferença é o macro. A visão do BC é de preocupação clara com a inflação. Uma ala mais heterodoxa confortável com o teto da meta (4,5%). Olhando o histórico do PT, a gente sabe que sempre foi muito problemático. O BC foi muito complicado na gestão Dilma, agora não há entendimento do que tem sido feito. Vamos acabar tendo um presidente e diretores mais à esquerda, muito pressionado no final do governo Lula para baixar os juros.


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