A mineradora anglo-australiana Rio Tinto, que tem operações também no Brasil, surpreendeu o mercado no começo deste mês com a divulgação voluntária de um relatório que apresenta dados alarmantes sobre sua cultura de trabalho. Elaborado pela ex-comissária de discriminação sexual da Austrália, Elizabeth Broderick, o documento expôs ao mundo o ambiente racista e sexista ao qual os funcionários da companhia estão submetidos. As descobertas servem de alerta, num momento em que os investidores se mostram cada vez menos tolerantes com empresas que desrespeitam seus colaboradores, o meio ambiente e a sociedade.
A investigação de Broderick ouviu 10 mil funcionários da mineradora. Nas pesquisas, 21 mulheres relataram terem sofrido estupros ou tentativas de estupro nos últimos cinco anos. No total, 30% das funcionárias e 7% dos funcionários disseram que já foram sexualmente assediados no trabalho. O relatório também relata que racismo e bullying são problemas sistêmicos na companhia.
A ex-comissária descreve ainda uma “cultura do silêncio” na Rio Tinto, que pelo menos nos últimos cinco anos protegeu os abusadores e abafou as queixas feitas por mulheres, membros da comunidade LGBTQIA+ e pessoas não brancas. Testemunhas disseram que não acreditavam que o reporte dos comportamentos abusivos à companhia trariam consequências para os abusadores e temiam colocar suas carreiras em risco.
“É fantasioso pensar que esses problemas são exclusividade da Rio Tinto, da Austrália, ou mesmo do setor de mineração”, afirma Helen Thomas, colunista do Financial Times. “As descobertas demonstram o abismo existente entre o discurso afável dos administradores das empresas e a realidade do dia a dia, e o ‘vazio’ dos investimentos ESG que confiam em documentos para fazer suas avaliações”, observa.
Em entrevista ao Financial Times, o presidente da empresa, Jabok Stausholm, disse que sentiu “vergonha e grande pesar ao descobrir até que ponto bullying, assédio sexual e racismo acontecem na Rio Tinto”. A companhia disse que vai trabalhar para identificar e corrigir as estruturas que permitiram que essa cultura tóxica se estabelecesse.
Assédio moral e sexual são problemas frequentes no setor. A mineradora BHP, concorrente da Rio Tinto, informou no ano passado que desde 2019 demitiu 48 trabalhadores por assédio. Nesse cenário, a divulgação voluntária do relatório pela Rio Tinto surge como um aceno positivo. Um sinal de que existem companhias dispostas a reconhecerem publicamente seus erros e a tomarem as rédeas da situação.
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