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Ética nas empresas de tecnologia e rede social é vista com ressalvas
Pesquisa da Brunswick mede sentimento de consumidores e funcionários nos Estados Unidos e na Europa e indica: a visão positiva vem se deteriorando
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Pesquisa da consultoria global Brunswick busca entender como as companhias desse setor encaram suas responsabilidades e qual é a percepção dos públicos interno (colaboradores) e externo (clientes, principalmente) em relação ao tema | Imagem: Anna Beatriz Magalhães – Capital Aberto

As abordagens de questões éticas pelas empresas têm sido — a cada dia mais — acompanhadas de perto por consumidores, investidores e reguladores, o que é especialmente válido quando se trata de empresas de tecnologia e redes sociais. Nesse contexto, é necessário entender como as companhias desse setor encaram suas responsabilidades e qual é a percepção dos públicos interno (colaboradores) e externo (clientes, principalmente) em relação ao tema. Pesquisa publicada pela Brunswick no último mês de novembro aponta que continua evidente a postura reticente dos entrevistados, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, em relação a essas empresas. Esse sentimento já vinha sendo capturado por levantamentos feitos pela consultoria há pelo menos quatro anos. Agora, ele se confirma considerando o recorte da ética.

De acordo com “Techlash: the ethics edition”, esse desconforto é registrado em ambas as regiões. Mas pela primeira vez a percepção em relação às empresas de mídias sociais divergiu entre americanos e europeus, tendo piorado significativamente nos Estados Unidos. Para a pesquisa, a Brunswick ouviu 2 mil consumidores nos Estados Unidos e na Europa (França, Alemanha, Itália, Países Baixos, Suécia, Polônia e Reino Unido), 350 funcionários de empresas de tecnologia nos Estados Unidos e outros 350 na Europa (mesmos países de origem dos consumidores entrevistados no continente). Inicialmente, o levantamento foi feito entre setembro e outubro de 2021 e, adicionalmente, nos Estados Unidos em outubro, para captar efeitos de denúncias contra o Facebook (atual Meta).

Redes sociais na berlinda

O conglomerado de tecnologia e redes sociais liderado por Mark Zuckerberg estremeceu, no ano passado, com revelações feitas por Frances Haugen, ex-executiva do Facebook. Ela denunciou posturas pouco éticas da empresa referentes a conteúdos de suas redes — a companhia tem, segundo ela, dados que mostram que o Instagram contribui para a piora da autoimagem de meninas e seu algoritmo priorizaria posts que motivam discordâncias. Para medir o impacto das denúncias, na semana subsequente ao episódio, a Brunswick aplicou um questionário a consumidores nos Estados Unidos e verificou que 70% acreditam que esses pontos de atenção não são específicos do Facebook, e que impedir essas práticas deveria ser papel de todas as techs.

Escândalos como esse explicam por que a opinião positiva sobre as empresas de tecnologia e redes sociais tem se deteriorado nos Estados Unidos. Se em 2019 o percentual de americanos com avaliação positiva das techs era de 79%, no ano passado esse número caiu para 69%. Já em relação às redes sociais a visão positiva despencou de 57% para 38%. A piora está relacionada não só às denúncias feitas por Haugen, mas também a outros fatos marcantes que causaram discórdia nas mídias sociais, como a eleição presidencial no país em 2020, a invasão do Capitólio no início de janeiro de 2021, o banimento do ex-presidente Donald Trump das redes sociais e o debate acalorado sobre as precauções referentes à Covid-19.

Na Europa, onde ruídos envolvendo essas companhias são menores, a opinião positiva sobre as empresas de tecnologia correspondeu a 73% dos entrevistados, um pequeno recuo ante os 77% de 2019. Para redes sociais, o percentual subiu de 50% para 54%.

O papel dos colaboradores

Outra constatação da pesquisa foi o fato de os funcionários das empresas de tecnologia terem consideravelmente maior propensão a classificar essas organizações como forças positivas para a sociedade. Na Europa, concordam com essa percepção 89% dos funcionários e 76% dos consumidores entrevistados; nos Estados Unidos, esses percentuais alcançam 90% e 69%, respectivamente. Não por acaso, os colaboradores das companhias de tecnologia se sentem responsáveis pela manutenção dos padrões éticos e dos valores dessas organizações. Nos dois mercados, um a cada cinco empregados afirma que essas questões foram preponderantes para a escolha de seu empregador. Além disso, 48% dos profissionais americanos e 39% dos europeus disseram já ter declinado de ofertas de trabalho ou deixado uma empresa por não concordarem com sua abordagem ética.

O tratamento dado à privacidade de dados está entre as questões éticas que os funcionários priorizam no exercício de sua função — 29% na Europa e 36% nos Estados Unidos —, atrás apenas da satisfação dos clientes e acima da performance de produtos, inovação, adequação a leis e regulação e sustentabilidade. A pesquisa verificou que os colaboradores compreendem suas responsabilidades, com a maioria concordando com a afirmação de que as empresas de tecnologia são normalmente submetidas a parâmetros de comportamento ético mais elevado do que o aplicado a empresas de outros setores: 76% dos funcionários nos Estados Unidos e 67% na Europa estão de acordo com essa avaliação.

Nesse sentido, os colaboradores em geral notam um certo esforço de seus líderes para a consolidação da ideia de que as companhias de tecnologia têm a responsabilidade de agir de maneira ética. Interessante observar, no entanto, que essa percepção cai em relação à média quando se trata de empresas de menor porte (com até 100 empregados), tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. Entre os americanos, a média de concordância com essa percepção está em 85%, caindo para 68% nas companhias menores; na Europa, a diferença é de 70% para 56%, respectivamente.

Influência limitada

Embora os dados da pesquisa indiquem claramente que os funcionários têm consciência de suas responsabilidades éticas, eles demonstram reconhecer que sua influência em ajustes é limitada. Paralelamente, a maior parte dos entrevistados admite a necessidade de uma reforma da indústria, abrangendo vários aspectos. Concordam com a avaliação de que muitas techs cresceram demais e que deveriam ser desmembradas em negócios menores 65% dos colaboradores nos Estados Unidos e 49% na Europa. Avalizam a afirmação de que as empresas de redes sociais deveriam ser legalmente responsabilizadas por permitir a disseminação de conteúdos duvidosos em suas plataformas 78% dos colaboradores americanos e 69% dos europeus. Além disso, 83% dos funcionários americanos e 64% dos europeus estão de acordo com a ideia de que os governos deveriam ser mais ativos na regulação de empresas de tecnologia.

A percepção dos colaboradores é de que essas mudanças poderiam ser positivas para as empresas. Na visão de 81% dos americanos e 80% dos europeus, as discussões sobre ética nos negócios das companhias de tecnologia representam uma oportunidade para inovação. E saber aproveitá-la parece ser fator crucial para que essas empresas continuem a atrair — e fidelizar — novos consumidores e talentos.

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