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A combinação nefasta de menos petróleo com juros elevados
Decisão da Opep+ de reduzir a oferta da commodity reforça necessidade de migração para fontes alternativas de energia
Opep, A combinação nefasta de menos petróleo com juros elevados, Capital Aberto
Enquanto o petróleo sobe, as tecnologias verdes, como motores elétricos e painéis solares, estão ficando mais baratas de se produzir | Imagem: Freepik

A partir do mês que vem e até o final do ano, a oferta global de petróleo será reduzida em mais de um milhão de barris por dia. A decisão foi tomada pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) e pegou o mercado de surpresa. Em outubro do ano passado, as nações que controlam a oferta e o preço da matéria-prima, encabeçadas pela Arábia Saudita, já haviam anunciado um primeiro corte de 2 milhões de barris diários. As duas restrições combinadas reduzem a disponibilidade de petróleo em 3,66 milhões de barris por dia, o equivalente a 3,7% da demanda global atual.  


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A decisão da Opep+ tem como pano de fundo a perspectiva de desaceleração da atividade econômica e até mesmo de uma recessão, que tende a diminuir a demanda por commodities. Ao reduzir a oferta, os exportadores tentam favorecer a estabilidade desse mercado, conforme justificou o Ministério de Energia da Arábia Saudita. No primeiro semestre de 2022, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, os preços do Brent dispararam e chegaram a superar os 130 dólares por barril. No mês passado, porém, oscilavam em pouco mais de 70 dólares, menor patamar em 15 meses.  

Na última semana, após o corte surpresa, houve um novo rali. As cotações internacionais da matéria-prima acumularam alta de mais de 6% em quatro dias e as negociações já caminham para próximo dos 90 dólares. Não demorou para que o Goldman Sachs revisasse suas projeções. O banco passou a prever o barril do petróleo a 95 dólares ao final deste ano e a 100 dólares em 2024. No cálculo, incluiu também os cortes de produção na Rússia, que devem se estender até o segundo semestre de 2023, e enxugar ainda mais a oferta global da commodity. 


Combinação nefasta 

A conduta dos exportadores foi duramente criticada pelo seu momento, considerado claramente inoportuno. A redução na oferta de petróleo e a valorização da matéria-prima ocorrem no contexto em que os bancos centrais pelo mundo estão subindo os juros para tentar conter a escalada de preços. Os temores de uma inflação mais alta, com a energia mais cara, também trouxe dúvidas sobre os próximos passos do Federal Reserve. O mercado vinha se acostumando com a ideia de que o ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos estaria próximo do fim, mas teme que essa hipótese seja frustrada por desdobramentos da decisão da Opep+. 

“Não achamos que os cortes de produção são aconselháveis neste momento, dada a incerteza do mercado”, afirmou o porta-voz da Casa Branca, John Kirby, sobre a redução adicional de 1,16 milhão de barris de petróleo. A fala reforça a posição contrária dos Estados Unidos sobre os recentes movimentos dos exportadores. Quando o primeiro corte foi anunciado em outubro, o presidente Joe Biden chegou a dizer que a Arábia Saudita “sofreria consequências” pela decisão, mas não houve qualquer tipo de retaliação contra o maior produtor individual de petróleo da Opep.  

Até agora, a única manifestação do BC americano veio de James Bullard, presidente distrital do Fed em St. Louis. Em entrevista à Bloomberg, ele disse que o impacto dos novos cortes no longo prazo ainda é incerto. Na mais recente reunião do Fed, realizada no mês passado, a autoridade monetária reduziu o ciclo de aperto promovendo uma alta mais moderada dos juros, em 25 pontos base. A decisão coincidiu com uma crise de liquidez em bancos regionais, que levou à falência do Silicon Valley Bank (SVB), conhecido financiador de startups do Vale do Silício.  

 
Teto de resistência 

Ainda é cedo para dizer se os preços do petróleo vão se firmar em um novo patamar ou se a alta recente é somente uma volatilidade momentânea. Por ora, perto dos 80 dólares, a cotação oscila em torno de um nível de resistência, de acordo com analistas gráficos. De qualquer forma, olhando pelo lado fundamentalista, caso um cenário de recessão se confirme, dificilmente as cotações resistiriam em níveis elevados.  

Ole Sloth Hansen, chefe de estratégia de commodities do Saxo Bank, acredita que a própria Opep não tenha interesse em manter os preços acima dos 100 dólares. A experiência recente, da guerra na Ucrânia, mostrou uma maior busca pela transição para energias limpas quando a cotação do petróleo disparou. “Isso impacta a demanda e acelera a transição”, disse Hansen à Bloomberg.  

“Não são os EUA que sentiriam mais dor com o petróleo a 100 dólares; seriam os países que não têm recursos domésticos de petróleo: Japão, Índia, Alemanha, França, para citar alguns dos grandes exemplos”, disse Pavel Molchanov, diretor do banco de investimento privado Raymond James, em entrevista à CNBC. Especialistas apontam que os países emergentes e mais dependentes de combustíveis fósseis, do Sul e do Sudeste asiático, estariam entre os mais afetados.  

 
Novas oportunidades 

Fato é que enquanto o petróleo sobe, as tecnologias verdes, como motores elétricos, turbinas eólicas e painéis solares, estão ficando mais baratas de se produzir — seus insumos vêm caindo de preço este ano. O que não significa, necessariamente, que a transição vai ser acelerada em função disso. Caso os recentes movimentos da Opep se traduzam em inflação mais elevada e os BCs continuem subindo os juros por causa disso, os próprios projetos de energia limpa seriam impactados, com maior restrição ao crédito. 

 
De qualquer forma, a migração para fontes alternativas mostra sua importância, e não só pelo viés da redução da emissão carbono. É urgente o mundo tornar-se menos vulnerável à imprevisibilidade dos exportadores de petróleo.  

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