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É preciso tempo para uma companhia construir o “S” do ESG
Simplesmente ceder a cobranças da sociedade pode levar a efeitos opostos ao que se quer obter
É preciso tempo para uma companhia construir o “S” do ESG
Um relacionamento saudável com os stakeholders precisa fazer parte da cultura das empresas | Imagem: Freepik

A pandemia não só colocou em xeque a sobrevivência das empresas, como também testou a autenticidade de práticas que as companhias vinham adotando — e faziam questão de exibir. Afinal, de que adiantaria manter ações de impacto social da porta para fora, enquanto funcionários estavam sendo demitidos, ou tendo seus salários e benefícios reduzidos, em tempos de profunda incerteza? Olhando por esse lado, o “S” da sigla ESG parece ter saído fragilizado desse período turbulento. Mas, na verdade, a pandemia serviu para mostrar que um relacionamento saudável com os stakeholders precisa fazer parte da cultura das empresas. Essa é uma construção que leva tempo.  


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“Cultura organizacional de responsabilidade social demora de cinco a sete anos dentro de uma empresa para se desenvolver”, afirma André Guillaumon, CEO da BrasilAgro. Inserida em um setor sensível na perspectiva ESG, a companhia voltada à comercialização de propriedades rurais aposta, da porta para dentro, na diversidade de gênero em sua diretoria executiva e seu conselho de administração. Com os stakeholders externos, mantém uma classificação dos fornecedores, acompanhando aspectos como o cumprimento de leis trabalhistas por essas empresas e a assistência médica que elas oferecem aos funcionários. Também mantém o Instituto Brasil Agro, financiado com parte do lucro das empresas, voltado a promover a educação nas regiões onde a companhia atua.  

“As práticas sociais passaram a ser uma vantagem competitiva. Mas vejo muitas empresas soltando relatórios de sustentabilidade, achando-se socialmente sustentáveis [com investimentos feitos] há menos de dois anos. É preciso ter cuidado com os washings”, afirma Guillaumon, citando as práticas de fachada. Mesmo depois de tantos anos em que se fala sobre o assunto no mundo corporativo, ainda é comum as empresas confundirem filantropia com impactos sociais gerados pelo próprio negócio. 


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Sociedade mais vigilante 

Durante a pandemia também tornou-se mais aguçado o olhar e o tom de cobrança da sociedade em relação às empresas, sobretudo pelas redes sociais. “Se a gente anuncia no Big Brother Brasil e existe alguma confusão no programa, vai ter consumidor cobrando um posicionamento nosso, que somos patrocinadores”, conta Luis Ramos, gestor jurídico da C&A. Segundo ele, esse tipo de movimento ajuda as empresas a acharem um norte. “Existe o lado da responsabilidade social de forma genuína, na empresa, mas quando há a interlocução com a sociedade civil e ela te cobra, isso te leva para algum lugar”, diz.  

Caroline Marchi, sócia do Machado Meyer Advogados, pondera, entretanto, que ceder a algumas cobranças pode levar as empresas justamente ao caminho inverso, gerando consequências sociais negativas. “Quando a empresa é pressionada a desfazer o vínculo com um fornecedor, quem está de fora não entende as consequências que isso pode ter”, afirma.  

A advogada cita impactos sobre outros trabalhadores da empresa punida — e que podem se estender à toda a comunidade onde aquele fornecedor atua. Além disso, não há garantias de que ele adotará práticas melhores no futuro. “Se o fornecedor não vender para a grande varejista, que tem alto nível de governança e poderia ajudá-lo a melhorar, ele vai vender para o fabricante do produto falsificado, por exemplo”, diz Caroline.  

Ninguém solta a mão de ninguém 

A indústria têxtil também é um setor sensível a questões ESG, com inúmeros casos de pessoas trabalhando em situação análoga à escravidão. Para Ramos, da C&A, fornecedores não devem deixar de ser punidos em situações extremas. Em outros casos, porém, é possível trabalhar no desenvolvimento do parceiro. “Temos os nossos ratings e, se eventualmente algum fornecedor não estiver em conformidade com a gente, nós o ajudamos a se desenvolver, em vez de simplesmente cortá-lo”, diz o gestor jurídico.  

Mesmo sem atender ao varejo diretamente, a BrasilAgro também aumentou o crivo de seleção dos seus fornecedores nos últimos anos. E desenvolveu métricas: “Fornecedor que paga bônus ao colaborador tem premiação, pois engaja mais os seus funcionários. Também checamos os seus programas que envolvam saúde ocupacional, além de incentivar que eles tenham o mesmo convênio médico que oferecemos aos nossos funcionários”, explica Guillaumon. São iniciativas que reduzem os riscos jurídicos das empresas, mas que também as tornam mais responsáveis socialmente.  

Para Andrea Massei, sócia do Machado Meyer, iniciativas como essa também precisam ser adotadas na empresa da porta para dentro. “As diferenças de cultura e educação também ocorrem dentro da empresa. Não é só dispensar o funcionário que não está alinhado com a cultura organizacional. É também educá-lo sobre um ambiente de diversidade, inclusão e livre de assédio. Não podemos esperar que os stakeholders saibam de tudo sozinhos”, afirma.  

Ainda que aos poucos, as empresas parecem estar percebendo que responsabilidade social não é um centro de custos, mas sim de resultados. Também há um entendimento de que a adoção de práticas que impactam positivamente pessoas dentro e fora da companhia é importante para a sobrevivência do negócio no futuro. As cobranças feitas hoje tendem a se intensificar nos anos que virão. 

 

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