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Ômicron: ameaça ou esperança para o mercado?
Apesar dos efeitos deletérios da nova variante para os negócios, economistas acreditam que crise é passageira
Avanço da omicron preocupa investidores mercado financeiro
Apesar da recuperação econômica mais lenta, a expectativa de boa parte do mercado financeiro é que a crise causada pela ômicron seja passageira — Imagem: freepik

Desde que foi detectada e anunciada pelo Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do Sul (NICD) em 25 de novembro, a ômicron, a mais recente mutação do vírus SARS-CoV-2, elevou a níveis recordes o número de casos diários de coronavírus no mundo. No último dia 20 de janeiro, 3,79 milhões de pessoas foram infectadas em 24 horas. Enquanto a população enfrenta com certa tranquilidade a variante, que gera sintomas mais leves do que seus pares, empresários e investidores apertam os cintos diante das implicações negativas para os negócios, que enfrentam não só o recolhimento do consumidor como os efeitos da ausência de milhares de trabalhadores doentes. Mas há quem acredite que a turbulência seja passageira e o surgimento da ômicron — por mais contraditória que a afirmação pareça —, um sinal de esperança. Sua disseminação poderia indicar que 2022 será o ano em que o mundo vai finalmente ver o fim da pandemia de Covid-19.

Até que esse otimismo se prove real, no entanto, a situação é alarmante, principalmente no Brasil, onde o pico de infecções causadas pela ômicron está previsto para fevereiro. Como uma pessoa infectada pelo coronavírus precisa de, ao menos, 14 dias para voltar ao trabalho presencial, a variante tem o potencial de afastar contingentes de pessoas de seus postos de trabalho — problema que já abala alguns setores. Isso significa que, na prática, a já debilitada economia brasileira vai sofrer — como já está sofrendo — um baque significativo.

Estudo do Instituto Fecomércio de Pesquisas e Análises (IFec RJ) realizado na primeira semana de janeiro constatou que 39,2% dos empresários afirmam que seus colaboradores foram diagnosticados com coronavírus e, portanto, estão em isolamento. A pesquisa também revelou o impacto desse surto para o comércio de bens, serviços e turismo do estado do Rio de Janeiro: 40,5% dos comerciantes afirmam que foram prejudicados ou muito prejudicados em seus negócios pelo avanço da ômicron.

A média móvel de novos casos de Covid-19 por dia no Brasil entre 14 e 20 de janeiro atingiu 110.047, a maior desde o início da crise sanitária, segundo dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Apesar da quantidade de mortes seguir abaixo do pico da pandemia, o nível de ocupações em UTIs de alguns estados se aproxima daquele registrado em junho do ano passado. Na quinta-feira, dia 20 de janeiro, graças ao avanço da ômicron, o País era a quinta economia com mais casos confirmados em 24 horas, atrás de Estados Unidos, Índia, Israel e Itália.

Setores em alerta

Entre os setores econômicos mais abalados pelo surto da ômicron e pela nova gripe — o número de casos de H3N2 também explodiu entre dezembro e janeiro —, estão o bancário e o de construção civil. De acordo com balanço preliminar feito pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), alguns canteiros de obras já registram afastamento de até 30% dos funcionários. Um levantamento do Sindicato dos Bancários, que contempla São Paulo, Osasco e outras 18 cidades da região metropolitana, igualmente mostra um cenário preocupante: apenas entre 7 e 12 de janeiro, 150 agências foram fechadas por falta de pessoal suficiente, devido a casos confirmados de coronavírus e H3N2 entre os funcionários.

No setor aéreo, a ômicron tem gerado uma onda de infecções entre comissários de bordo e, consequentemente, de cancelamentos de voos. Diante do alto número de profissionais em quarentena, Azul, Gol e Latam pediram à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) autorização para voarem com equipes menores (de até 3 comissários) nas aeronaves. A solicitação foi concedida, mas implica que atendam a uma quantidade menor de passageiros em cada avião. De acordo com a Latam, entre os dias 9 e 16 de janeiro, a companhia atingiu 135 cancelamentos de voos, o que representa 1% do total de voos programados para janeiro no Brasil.

Os shopping centers também enfrentam com apreensão o momento atual. Entre 14 e 20 de janeiro, mais de 5,5 mil lojas pelo País fecharam as portas temporariamente devido ao afastamento de funcionários contaminados com covid-19 ou gripe, segundo levantamento da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce). E mais de 5 mil lojistas vêm trabalhando com horário de funcionamento reduzido para driblar o desfalque nas equipes. Levando-se em conta essas duas situações, o volume de estabelecimentos prejudicados corresponde a aproximadamente 10% das 111 mil lojas dos 600 shoppings associados à Abrasce.

Recuperação econômica abalada

Diante do tsunami de infecções gerado pela ômicron, o Banco Mundial reduziu sua projeção para o crescimento da economia global em 2022. Em relatório divulgado em janeiro, a instituição prevê uma expansão de 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, ante 4,3% da projeção anterior. Para 2023, a perspectiva é de um crescimento ainda menor do indicador, de 3,2%. O banco considera que o mundo deve ingressar em um período de desaceleração do crescimento, com uma economia ameaçada não só por possíveis novas variantes do coronavírus, mas também pelo aumento da inflação, da dívida e da desigualdade de renda.

Nos países emergentes, esses desafios se unem a potenciais efeitos deletérios causados pela desaceleração das economias dos Estados Unidos e da China. Em conferência, o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, mostrou apreensão com a política mais severa adotada pelo gigante asiático para conter a nova variante. “Quando você olha para as coisas que estão sendo enviadas para fora da China, você começa a ver algum impacto. Provavelmente é muito cedo para dizer, mas se houver uma interrupção no fornecimento, isso afetará a todos”, disse Campos Neto. O relatório do Banco Mundial prevê que, enquanto o PIB das nações ricas deve voltar aos níveis pré-pandemia em 2023, nas economias emergentes e em desenvolvimento isso não vai acontecer. A expectativa é que, no fim do próximo ano, o indicador nesses países permaneça ainda 4% abaixo do patamar anterior ao surgimento do vírus.

Especificamente em relação ao Brasil, o banco projeta um crescimento do PIB de 1,4% em 2022 e 2,7% em 2023. A projeção para este ano é a menor entre as 18 economias emergentes destacadas no relatório. O banco atribui esse cenário “ao fraco sentimento dos investidores, à erosão do poder de compra em decorrência da inflação alta, às restrições da política macroeconômica, à redução da demanda pela China e à queda nos preços do minério de ferro”.

Transtorno passageiro

Apesar da recuperação econômica mais lenta, a expectativa de boa parte do mercado financeiro é que a crise causada pela ômicron seja passageira. André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, avalia que fechamentos drásticos como os que ocorreram em 2020 e 2021 não voltarão a se repetir. “A ômicron pode criar uma diminuição da força de trabalho significativa ao longo dos próximos meses, que tende a se normalizar a partir de junho. Sim, é um transtorno. Sim, vai ser difícil para todos os países. Mas agora a questão é mais objetiva e depende menos da atuação do setor público”, observou o economista, em entrevista ao Uol Notícias.

Economista-chefe do UBS, Paul Donovan, também vê a “ômicron como uma disrupção de curto prazo” e com efeitos restritos na economia, uma vez que os consumidores aprenderam a conviver com novos surtos de Covid-19. “O vírus em si tem um impacto econômico relativamente limitado. É o medo do vírus que tem impacto econômico”, observa. “O que temos que reconhecer agora é que, com a vacinação muito mais ampla, o nível de temor é muito mais baixo. Por isso, eu não acredito que a ômicron muda a narrativa econômica de 2022”, disse à Bloomberg.

A visão de que a turbulência atual é efêmera é corroborada por alguns especialistas da área da saúde, que acreditam que ômicron traz a esperança de que a pandemia possa chegar ao seu fim em 2022 — opinião também manifestada por analistas do J.P. Morgan em dezembro do ano passado. Em entrevista à rádio Band News, a pneumologista da Fiocruz Margareth Dalcomo observou que, apesar do aumento do número de casos de coronavírus nos últimos dias, as características da ômicron lembram as de outras viroses respiratórias: alta transmissibilidade e sintomas leves. Isso seria um bom sinal, já que quando vírus fortes ganham variantes mais fracas e altamente transmissíveis, essas servem como imunizante contra as formas mais graves da doença. Em sua explicação, a especialista esclarece que o vírus provavelmente irá manter um comportamento endêmico daqui para frente — ou seja, se tornará uma doença frequente e mais comum, como a gripe.

Mas outros especialistas são mais cautelosos. O infectologista Renato Kfouri, presidente do departamento de imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, alerta que, tendo em vista que muitos países ainda não conseguiram vacinar nem 30% da população, especialmente as nações africanas, não é possível fazer previsões sobre o fim da pandemia. Já o epidemiologista francês Antoine Flahault lembrou, em entrevista concedida à agência de notícia francesa AFP, que o conceito de imunidade coletiva é puramente teórico. “Se queremos começar a aprender as lições do passado recente dessa pandemia, precisamos nos recordar de que ela é amplamente imprevisível.” E, por ora, não há nenhuma certeza de que o coronavírus não possa surpreender o mundo com uma nova mutação. 

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