Na maratona do desenvolvimento, medida pela renda per capita, o Brasil seguidamente tem ficado para trás. Em 1960, havia uma centena de países com renda média (nem pobres, nem ricos), e o país não conseguiu figurar entre os 13 que “se graduaram” para o clube dos desenvolvidos em 2020. Em “Nós do Brasil: nossa herança e nossas escolhas”, a economista Zeina Latif compõe o mosaico de elementos interrelacionados que explicam nossa dificuldade em avançar econômica e socialmente.
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Não há falta de publicações que buscam explicar nosso desempenho medíocre no período destacado, mas Latif aplica uma lente perspicaz para organizar as peças desse quebra-cabeças a partir de nossa herança e nossas escolhas institucionais. Às vésperas de uma eleição polarizada e sob constante ataque à desinformação, é fundamental uma reflexão sóbria sobre os nós que amarram a nação ao subdesenvolvimento.
Segundo a autora, o pecado original reside na educação. A baixa qualidade da educação primária impede a construção de capital humano, que é elemento fundamental para a formação de cidadãos e uma sociedade equilibrada. A este elemento da base da pirâmide, juntam-se tantos outros como o patrimonialismo, o funcionamento do Judiciário e a própria dinâmica do regime democrático. Como disse Churchill, “é o pior regime político, mas o único aceitável”. Mas ele não morava no Brasil.
Um exercício interessante é analisar esses países que compõem o seleto clube que ascendeu à série A. De forma simplista, há dois caminhos para a graduação: um exógeno (por exemplo, Portugal ingressando na comunidade europeia) e outro endógeno (por exemplo, Coreia do Sul). No segundo grupo, um elemento de destaque é o sistema de governo autoritário, que permite a implementação de políticas com baixo diálogo e representatividade da sociedade. Embora existam exemplos de regimes democráticos com sucesso desenvolvimentista (Austrália, Nova Zelândia), a ausência de sentimento de urgência e a heterogeneidade das populações permitem a grupos de interesse organizados capturarem o sistema político para implementar seus objetivos patrimonialistas. Na democracia, é mais complicado.
Por fim, fica claro que todas as soluções passam pelo nó górdio da barganha política, onde reside a dinâmica do sistema democrático. Infelizmente, o sistema de financiamento público fomentou a fragmentação dos partidos e sentenciou à morte as políticas de governo, substituídas por políticas dos partidos. Embora as instituições que sustentam a democracia tenham amadurecido a duras penas, a armadilha do baixo crescimento está sempre à espreita. É triste, mas insistimos em desperdiçar um tempo precioso.
Nós do Brasil: Nossa herança e nossas escolhas
Zeina Latif
Record
252 páginas
1a edição ― 2022
Peter Jancso é sócio da Jardim Botânico Investimentos e conselheiro independente
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