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Ativistas ESG alertam para riscos da sobrecarga de trabalho
Tentativa de suicídio em escritório de advocacia desperta críticas ao “washing” das relações com colaboradores
Sobrecarga de trabalho
Pesquisa da FEA-USP e FIA mostrou que, com o home office, 45% das pessoas estavam trabalhando acima da jornada de 44 horas semanais | Imagem: Freepik

Na visão de recrutadores, ser capaz de trabalhar sob pressão é uma qualidade que diferencia o candidato nos processos seletivos. Basta olhar a descrição de vagas anunciadas em diferentes áreas para encontrá-la junto a outros requisitos, como “inglês fluente” ou “domínio do pacote office”. As áreas de recursos humanos tratam essa característica como qualquer outra habilidade que se aprende em sala de aula ou com experiências profissionais prévias. Na prática, exigem que o futuro funcionário da empresa seja emocionalmente preparado para lidar não só com situações estressantes, mas quantidades imensas de trabalho. 


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Não é de hoje que os excessos vêm sendo notados e criticados. Esgotamento recebeu um nome chique (burnout), as discussões sobre saúde mental ganharam popularidade, e o tema entrou na pauta de governança das empresas. A Covid-19, porém, evidenciou algumas inconsistências. No home office, mesmo sem o stress do deslocamento e as vantagens de trabalhar de casa, os expedientes ficaram mais longos — justamente num momento em que as pessoas ficaram psicologicamente mais fragilizadas por conta da pandemia.  

Jornadas sem fim 

Uma pesquisa feita pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e a Fundação Instituto de Administração (FIA), em setembro do ano passado, mostrou que, com o home office, 45% das pessoas estavam trabalhando acima da jornada convencional de 44 horas semanais estabelecida pela legislação trabalhista. Do total de entrevistados, 6% trabalhavam mais de 70 horas por semana.  

Quase um ano depois desse levantamento, com a reabertura praticamente total da economia, as empresas parecem dispostas a manter um modelo descentralizado de trabalho — e as jornadas mais longas também. Uma recente onda de demissões tem enxugado o quadro de funcionários de diversas empresas, justamente no momento em que elas tentam recuperar os prejuízos dos lockdowns. A conta é simples: mais trabalho para menos gente.  

Sem empatia 

Nas últimas semanas, um tema delicado e ligado ao excesso de trabalho sob condições estressantes repercutiu entre gestores ESG. Fabio Alperowitch, da Fama Investimentos, e João Paulo Pacífico, CEO do Grupo Gaia, lamentaram, nas redes sociais, a tentativa de suicídio de um estagiário de 19 anos do escritório Mattos Filho no último dia 11. “O estagiário estava muito exausto (relatos, sem comprovação, disseram que estava há três dias sem sair do escritório e ainda assim levou uma bronca da chefe)”, diz a postagem de Pacífico. 

No texto, o CEO usou o termo “RH-washing” para se referir a empresas que usam selos como o Great Place to Work (GPTW) para disfarçar uma “cultura péssima”. Após o episódio, o Grupo Gaia passou a exigir que colaboradores, fornecedores e parceiros de negócio não trabalhem mais nos projetos da empresa entre 21h e 7h, sob pena de rescisão de contrato e suspensão de futuras contratações.  

Alperowitch afirmou que não é possível tratar o escritório onde o estagiário trabalhava como único vilão. “Este é sistema predominante em vários setores do mundo corporativo e precisamos tratar esse assunto como sistêmico e não sermos casuístas”, diz o texto do gestor. Não é possível ser uma empresa responsável, ele afirma, sem contemplar todos os stakeholders.  

“A recente ascensão da temática ESG desinterditou o debate sobre direitos humanos no mundo corporativo — antes vistos como radicalmente ideológicos —, mas não foi capaz de desenvolver empatia em grande parte da alta gestão, especialmente em alguns setores”, escreveu Alperowitch. 

Papel do líder 

Segundo pesquisa da Deloitte feita com 2,1 mil executivos de quatro países, incluindo os Estados Unidos, o topo das organizações vem assumindo a tarefa de cuidar da saúde mental e física dos funcionários. Dentre os participantes do levantamento, 96% disseram ser responsáveis por iniciativas de bem-estar. Em contrapartida, 68% reconhecem que as medidas adotadas não são suficientes.  

Recentemente, o Goldman Sachs aderiu à tendência das férias ilimitadas, passando a permitir que sócios e diretores do banco de investimento tirem folgas quando necessário. Os funcionários juniores também vão ter dois dias extras de descanso além das férias. A iniciativa visa reter talentos, num momento em que o mercado de trabalho norte-americano também passa por uma onda de demissões — desta vez, solicitadas pelos funcionários. Atualmente, há mais vagas do que candidatos no país.  

No entanto, um estudo da plataforma de RH Namely mostrou que os funcionários que trabalham em empresas com férias ilimitadas tiram menos dias de folga do que nos sistemas tradicionais. A empresa britânica de recursos humanos Unknow foi uma das que cancelou o seu programa, pois os funcionários se sentiam culpados em pedir folga e, como resultado, tiravam poucos dias de descanso. Fabio Alperowitch resume o círculo vicioso: “Na ânsia de servir os clientes e os acionistas, despreza-se o capital humano que, no caso, se auto-escraviza em troca de uma gorda remuneração”. E conclui: “Troca-se vida e saúde por grana.”  

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