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Como amadurecer a pauta ESG 
Processo envolve engajamento de investidores institucionais com empresas, além de trabalho persistente e de longo prazo
Ana Siqueira
Ana Siqueira é sócia fundadora da Artha Educação | Ilustração: Julia Padula

A atenção dada à pauta ESG cresceu de forma exponencial nos últimos dois anos — entre outros fatores, como decorrência da perplexidade causada pela pandemia de covid-19. Esse foco, no entanto, demanda alguns cuidados, sendo o principal a observância da máxima de que a essência deve se sobrepor à forma. Muito se fala de greenwashing quando o assunto é a pauta ESG, mas é também preciso jogar luz sobre um outro problema, que particularmente no Brasil ainda não foi equacionado: o governance washing. Emblemáticos foram episódios recentes envolvendo empresas cuja comunicação corporativa a respeito de sua governança em nada correspondia ao que se comprovou que faziam na prática, o que caracteriza um engodo de governança. Os pilares ambiental, social e de governança são indissociáveis nas organizações, mas o primeiro é o central na estrutura. 

Existem numerosas razões para as empresas incorporarem os aspectos ESG às suas estratégias de negócios, das altruístas às pragmáticas. Entre as pragmáticas, perenidade, mitigação de riscos, geração de valor, demanda de investidores e clientes (corporativos e consumidores finais), competitividade, reputação, retenção e atração de talentos, legislação e regulamentação, custo de capital, avaliação da empresa etc.

Entretanto, as empresas precisam estar cientes de que não existe um caminho único e de que a rota escolhida precisa ser genuína, refletida e bem estruturada. Nesse sentido, é relevante elencar alguns fatores críticos de sucesso na jornada ESG:

— firme comprometimento do conselho de administração com a ambição da organização referente à sustentabilidade

— inserção da sustentabilidade na estratégia e no modelo de negócios

— reconhecimento de que se trata de uma jornada, na qual a essência precisa se sobrepor à forma

— alinhamento entre cultura, estratégia e liderança, com uma transformação cultural na forma de se fazer negócios

— eleição da política de remuneração como um importante instrumento de direcionamento de comportamentos (ela precisa ter coerência com o propósito e a cultura da organização)

Papel dos institucionais

É provável que muitos dos problemas corporativos que hoje se apresentam poderiam ter sido evitados caso essas questões-chave tivessem recebido a devida atenção do conselho de administração e dos investidores institucionais.

Esses investidores, vale destacar, têm muito a contribuir, por meio do exercício do stewardship, prática que envolve engajamento com as companhias investidas. A presença engajada pode ser traduzida como um diálogo que ambiciona gerar uma mudança na forma de atuação da empresa — e é essa mudança que vai preservar e valorizar os ativos dos investidores institucionais, em nome dos beneficiários e clientes.

Continuamente a cultura organizacional e os valores das companhias têm conquistado a atenção dos investidores institucionais. Uma cultura corporativa saudável e forte, afinal, resiste firme mesmo em momentos de estresse agudo, além de mitigar os impactos das crises.

Os investidores devem iniciar um engajamento de forma planejada, com uma clara visão dos objetivos a serem alcançados, desde o início do processo. O engajamento pode fazer parte do processo de investimento do investidor e/ou ser motivado em função de algum evento que causou e/ou ameaça causar destruição valor. O ideal é que o engajamento faça parte do processo de investimento do gestor, pois assim a empresa pode adotar ritmo de transformação adequado à sua realidade. Quando o engajamento não é planejado, muitas vezes ele pode se mostrar tardio.

O processo envolve a definição de objetivos e a abordagem do engajamento, abarcando a estratégia e as táticas que serão utilizadas, a identificação de interlocutores, o gerenciamento de conflitos e a negociação de acordos. É importante, nessa trajetória, que o investidor continuamente avalie os resultados, à luz dos objetivos incialmente definidos.

Senioridade, competências-chave e alocação adequada de tempo são, portanto, decisivos para o exercício do engajamento dos investidores institucionais. O processo de mudança demanda tempo, e ter uma escuta ativa é fundamental. A combinação desses fatores denota amadurecimento pleno da adesão à pauta ESG, que hoje ainda falta no País.


Ana Siqueira, CFA ([email protected]) é sócia fundadora do Artha Educação

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