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Combate à crise alimentar exigirá investimento trilionário
Criação de sistema sustentável de alimentos depende não só dos governos, mas também do apoio das companhias
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Crise alimentar. Imagem: Freepik

Prestes a completar três meses na próxima semana, a guerra na Ucrânia continua a ceifar vidas, além de reverberar na geopolítica e economia mundial. No cerne do conflito estão algumas das principais exportadoras globais de commodities, o que explica a preocupação de governos e investidores com a dependência europeia do gás e petróleo produzidos na Rússia. Mas a guerra também abala uma outra estrutura, já fragilizada pela Covid-19 e as mudanças climáticas: a cadeia de produção e distribuição de alimentos.


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Os alertas vinham sendo dados antes mesmo de a Ucrânia ser invadida pelas tropas russas, no último dia 24 de fevereiro. Os dois países em conflito são responsáveis por quase um terço das exportações globais de trigo. Além disso, Rússia e Belarus, aliadas nessa guerra, detêm a posse de 40% do total das vendas mundiais de nitrogênio, fosfato e potássio, macronutrientes usados na fabricação de fertilizantes. A disrupção no fornecimento dessas matérias-primas não só fez os preços de grãos e insumos dispararem, como também representa um risco real de escassez alimentar para o mundo inteiro, sobretudo para as nações mais pobres.

A revista The Economist dedicou a capa de sua edição mais recente para tratar da “catástrofe alimentar que está por vir” e apresentou um dado preocupante: o número de pessoas que pode não ter o que comer aumentou de 440 milhões para 1,6 bilhão devido ao alto custo dos alimentos básicos. Desse total, 250 milhões já estão hoje à beira da fome.

Esse quadro assustador motivou a equipe de análise da Schroders, gestora global com mais de 990 milhões de dólares em ativos sob gestão, a se debruçar sobre o assunto. Em relatório, a asset afirma que a guerra diminui ainda mais o poder de compra de alimentos das nações em desenvolvimento, afetando, principalmente, Egito, Turquia e Bangladesh. Hoje, esses três países são os principais compradores de trigo e grãos produzidos na Rússia e Ucrânia. “Os preços têm sido elevados para patamares acima do que as pessoas podem pagar, em países que já sofrem com a escassez de alimentos”, observam os gestores da Schroders. E esse cenário pode se agravar, alertam, caso os governos de nações mais ricas, como a União Europeia, decidam intervir nos mercados agrícolas, subsidiando os preços dos alimentos para limitar a inflação sentida pelos seus cidadãos.

Diante do aumento da insegurança alimentar, desde o início do conflito mais de 20 países passaram a restringir suas exportações de alimentos. No último dia 14 de maio, a Índia decidiu suspender os embarques de trigo, em um ano no qual previa vendas recordes de 10 milhões de toneladas para o exterior. O país é o segundo maior produtor mundial do cereal — depois da China — e recentemente viveu a maior onda de calor da história, o que prejudicou as plantações. O fato é que as mudanças climáticas já vinham piorando a perspectiva de oferta global de alimentos e, agora, a guerra intensificou esse quadro.

“Por isso, na nossa opinião, a criação de um sistema sustentável de alimentos e água é hoje um dos desafios mais urgentes que o mundo enfrenta”, destacam os gestores da Schroders, reforçando a necessidade de que as companhias desenvolvam soluções que ajudem a garantir a segurança alimentar do planeta. O alcance desse objetivo, na avaliação da gestora, exigirá investimentos pelo menos 30 trilhões de dólares até 2050.  

Caminhos possíveis

Especialistas acreditam que o conflito no leste europeu tende a acelerar a substituição de combustíveis fósseis por energias limpas, para que os países dependam menos do petróleo e gás produzidos na Rússia. Na parte de alimentos, há expectativas semelhantes. Com mais de um quinto das exportações de fertilizantes restritas em função da guerra, os agricultores precisam buscar alternativas para garantir a produtividade das lavouras — e elas já existem. Atualmente, um punhado de empresas oferece tecnologias para otimizar o uso desses insumos e até substituí-los por completo.

Uma empresa que se destaca nesse contexto é a startup americana Pivot Bio, unicórnio do setor de agronegócio avaliada em mais de 2 bilhões de dólares. A empresa cria microorganismos que produzem o nitrogênio necessário para as plantas, tornando o uso de fertilizantes convencionais dispensável. Até julho do ano passado, a Pivot já tinha captado 600 milhões de dólares com diversos investidores, entre eles o Breakthrough Energy Ventures, criado por Bill Gates. O fundo conta ainda com o apoio de outros megaempresários, como Jeff Bezos e Mark Zuckerberg. Aqui no Brasil, empresas como Biotrop e Vittia, que estrearam na B3 no ano passado, apostam em tecnologias semelhantes.

A substituição de fertilizantes minerais por biofertilizantes é promissora. Ela não só diminui a dependência de um mercado cada vez mais restrito, como também contribui para a redução de emissões de gases de efeito estufa. O óxido nitroso (NO2), produzido no manejo de fertilizantes nitrogenados, é 300 vezes mais potente em retenção de calor do que o CO2. Outra importante vantagem dos biofertilizantes é que eles atuam como uma barreira física contra doenças e protegem as plantas de pragas, além de decompor resíduos orgânicos, estimulando o crescimento dos cultivos.

A redução do desperdício de alimentos também é apontada por especialistas como crucial no combate à crise alimentar. De acordo com o World Food Programme das Nações Unidas, aproximadamente um terço da comida produzida no mundo é desperdiçada todos os anos, o que equivale a 1,3 bilhão de toneladas ou, em termos financeiros, a astronômicos 1 trilhão de dólares.

A boa notícia é que, segundo a ReFED, organização sem fins lucrativos que milita na redução do desperdício, várias boas ideias têm surgido para minimizar esse problema. Até 2019, a ong havia mapeado cerca de 70 empresas e organizações que disponibilizam no mercado produtos feitos com base em matérias-primas que normalmente seriam descartadas.

A reportagem da The Economist alerta para a necessidade de os governos olharem para a fome como um problema global, que precisa urgentemente de soluções. Mas não há dúvidas que os investimentos privados também terão papel fundamental no combate à catástrofe alimentar.

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