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Bem-estar dos funcionários desponta como prioridade para investidores
Movimento desafia companhias a darem mais transparência sobre métricas ligadas a sua força de trabalho
Bem-estar dos funcionários desponta como prioridade para investidores
Retenção de funcionários se tornou um enorme desafio para as companhias | Imagem: freepik

Normalmente, os custos com mão de obra correspondem por uma fatia bastante significativa das despesas de uma empresa. Por isso, ao longo das últimas cinco décadas, não foram raras as situações em que companhias viram suas ações subirem na bolsa após o anúncio de que promoveriam demissões. A alta seria um “prêmio” pela decisão dos administradores de adotar uma política austera e que beneficia o aumento das margens de lucro. Porém, em tempos de capitalismo consciente, é bastante provável que a atitude gerasse o efeito contrário sobre as ações — além de uma enxurrada de críticas. Para os investidores comprometidos com as práticas ESG, a forma como as empresas tratam — e remuneram — seus colaboradores já é tão ou mais importante do que as questões ligadas ao clima.

A preocupação com o tema ganhou força neste ano principalmente nos Estados Unidos, onde a retenção de funcionários se tornou um enorme desafio para as companhias. O país vive uma onda de demissões que ficou conhecida como “A grande renúncia” (The great resignation). Para se ter uma ideia da proporção desse movimento, no ano passado, o número de americanos que deixaram seus empregos por vontade própria chegou à média de 4 milhões por mês.

Na visão de especialistas, o fenômeno reflete mudanças nas relações com o trabalho impulsionadas pela crise sanitária. Após a experiência da pandemia, muitos trabalhadores passaram a priorizar mais o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e se negam a abandonar a rotina flexível do home office. Outros, beneficiados por subsídios oferecidos pelo governo, preferiram deixar suas posições atuais para buscar oportunidades — e salários — melhores.

“Quando os funcionários estão financeiramente inseguros, é mais difícil que contribuam para o ambiente de trabalho e atendam bem os clientes”, afirmou John Rainey, CFO da PayPal, em entrevista à CNBC.  Ciente disso, nos últimos anos, a empresa desenvolveu métricas para entender o quanto seus funcionários tinham de renda disponível após cobrir custos essenciais. E descobriu que até mesmo trabalhadores com salários mais altos passavam por dificuldades caso tivessem que lidar com imprevistos, como despesas médicas inesperadas.

As descobertas levaram a PayPal a promover ajustes nas remunerações pagas aos funcionários. Como consequência, em 2021, a renda mínima disponível de seus empregados com cargos mais básicos nos Estados Unidos aumentou 18% por hora trabalhada. “Esse tipo de investimento tem um impacto positivo no engajamento dos funcionários, no faturamento e na capacidade da companhia de inovar”, destaca Rainey.

Atualmente, a PayPal faz parte da Iniciativa de Bem-Estar Financeiro do Trabalhador (Worker Financial Wellness Initiative), que abrange um número ainda simbólico de companhias, incluindo Chipotle e Verizon. Criada em 2020, seu objetivo é tornar a segurança financeira do funcionário um tema prioritário na pauta de executivos e investidores. A iniciativa também é capitaneada pela Just Capital, uma organização sem fins lucrativos que ranqueia anualmente as 100 empresas americanas listadas em bolsa mais comprometidas com questões ESG.

Cadê a transparência?

Para elaborar o ranking, a Just Capital primeiramente faz uma pesquisa com 150 mil americanos, para definir os temas que irão ter maior peso no levantamento. Na edição mais recente, publicada no começo deste ano, questões trabalhistas — como pagamento de salário justo e tipo de contrato de trabalho — foram apontadas como o tópico de maior relevância, superando com folga o tema das mudanças climáticas. Isso explica, por exemplo, por que a Uber não recebeu o selo “Top 100” oferecido pela Ong, apesar de ter conquistado a 41a posição no ranking.

A Just Capital classificou a empresa como “em observação”, justificando que os dados disponíveis sobre sua mão de obra forneciam uma visão limitada a 2,3% da sua força de trabalho. O percentual restante é referente a motoristas independentes, sem vínculo formal de trabalho com a empresa de transporte.   

“Estou certo de que os funcionários da Uber que trabalham em tempo integral são muito bem pagos e recebem ótimos benefícios. Existem dados sobre isso. Mas sabemos que o modelo de negócios da empresa é baseado em um relacionamento diferente com os motoristas, e nessa parte não tínhamos dados suficientes para fazer uma avaliação precisa”, explicou o CEO da Just Capital, Martin Whittaker, à CNBC, ressaltando que a falta de transparência — e não necessariamente a terceirização dos trabalhadores — é o problema.

Presidente da Securities and Exchange Commission (SEC), Gary Gensler compartilha dessa visão. Atualmente, as companhias americanas já são obrigadas a divulgar os salários de seus CEOs, mas ele considera que um disclosure maior sobre dados relativos à força de trabalho seriam úteis para os investidores. Por isso, hoje está em estudo na SEC a possibilidade de as companhias criarem e publicarem, por exemplo, métricas sobre sua taxa de turnover e investimentos feitos nos funcionários, seja através de remunerações e benefícios ou programas de treinamento. E se o regulador está olhando o assunto, é prudente que as companhias comecem a fazer a lição de casa desde já.

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