Brasil entra na mira das SPACs
De párias a queridinhas do Vale do Silício, companhias de “cheque em branco” já planejam 1,1 bilhão de reais em aportes no País
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Spacs atendem as novas demandas conjunturais, criadas pelas taxas de juros baixas e pelo excesso de liquidez global | Imagem: vectorjuice — freepik

Uma consequência econômica inesperada da crise da covid-19 foi a popularização de mais um acrônimo no mercado de capitais: Spac, de special purpose acquisition company. Envolvendo as chamadas empresas de “cheque em branco”, as Spacs correspondem a negócios criados com o propósito de captar fundos por meio de ofertas iniciais de ações (IPOs) para, em um intervalo de 24 meses, adquirir empresas que passam a ser listadas após a operação. A onda está tão intensa nos Estados Unidos que, segundo o Spac Research, 215 novas Spacs levantaram 69,4 bilhões de dólares somente neste ano — o que significa que o recorde anterior de 248 SPACs e 83,4 bilhões de dólares atingido em 2020 está fadado a ficar para trás.

Carlos Lobo, do escritório de advocacia norte-americano Hughes Hubbard & Reed LLP, de Nova York, explica que as Spacs atendem as novas demandas conjunturais, criadas pelas taxas de juros baixas e pelo excesso de liquidez global. “Em paralelo, o mercado descobriu que as Spacs são um meio flexível e rápido de abrir o capital, numa dinâmica que não requer o longo e tortuoso processo de um IPO tradicional”, observa. Ainda que não exista uma Spac listada na B3, algumas dessas companhias abriram capital recentemente nas bolsas americanas com a promessa de investir em empreendimentos brasileiros. São elas HPX, Itiquira, Alpha Capital, Softbank e Waldencast, que, juntas, pretendem levantar 1,1 bilhão de reais em ativos no País.

Diferencial das Spacs

Ao longo de 2020, 46% das listagens em bolsa nos Estados Unidos foram feitas por meio de Spacs, versus 54% da via tradicional do IPO, de acordo com levantamento da Bloomberg. Sem saber qual empresa será adquirida pela Spac, os investidores baseiam as suas apostas nas figuras que lideram esses veículos — chamados sponsors, profissionais renomados e conhecidos no mercado financeiro.

Para empresas interessadas, o veículo é, sem dúvidas, uma forma rápida de abrir capital e captar investidores e recursos. Segundo relatório da PwC, um processo de IPO habitual leva, em média, 12 meses, ao passo que a abertura de capital via Spacs pode ser concluída em três ou quatro meses. Outra vantagem é a estabilidade do preço das ações na abertura de capital — diferentemente do IPO, em que os valores podem flutuar, o preço das ações costuma ser fixado em 10 dólares por papel no caso das Spacs.

Esse tipo de operação se mostrou o meio preferido de captação de empresas de certos tamanhos e setores, com destaque para o segmento de tecnologia. “Uma empresa consolidada, com receitas altas e uma marca reconhecida tanto em seu próprio nicho quanto no mercado como um todo provavelmente escolherá a rota do IPO tradicional”, destaca o banqueiro do J.PMorgan Aloke Gupte, responsável por organizar fusões e aquisições na Europa, no Oriente Médio e na África, em declaração para a edição global do Marketplace Morning Report. “Mas uma empresa que está em estágio inicial, tem uma prova de conceito* complexa ou está inserida em um setor desconhecido para leigos pode realmente se beneficiar com uma Spac porque, fundamentalmente, esse modelo permite que uma empresa compartilhe com os investidores seu plano de negócios”, complementa.

Em busca de companhias brasileiras

Por limitações regulatórias, ainda não é possível criar uma Spac no Brasil, já que são necessários três anos de balanço auditado ou um estudo de viabilidade econômica para se fazer um IPO. Mas nomes de peso no mercado estão criando empresas de cheque em branco nos Estados Unidos como uma maneira de direcionar os recursos para o País.

A HPX foi a primeira. A companhia, criada pelos brasileiros Bernardo Hees, Carlos Piani e Rodrigo Xavier, levantou 220 milhões de dólares na Bolsa de Nova York (Nyse). “As Spacs são uma classe de ativos que veio para ficar. Logo veremos mais players no mercado nacional”, afirmou Piani, em uma live do Credit Suisse, realizada em janeiro deste ano.

Na última semana de fevereiro, a Alpha Capital concluiu uma captação de 230 milhões de reais na Nasdaq. Os empreendedores por trás da empresa, os argentinos Alec Oxenford, fundador da OLX, e Rafael Steinhauser, ex-CEO da Qualcomm na América Latina, afirmam que o alvo é uma companhia de tecnologia na América Latina. Também neste ano, a Itiquira Acquisition, comandada por Paulo Gouvêa, ex-sócio da EBX e da XP, também levantou 230 milhões de dólares na Nasdaq para adquirir um empresa das áreas de tecnologia, saúde, farmácia, educação ou serviços ao consumidor no Brasil.

Há ainda outras Spacs em fase de captação. Em janeiro, o Softbank Latin America aderiu a essa onda ao anunciar o LDH Growth Corp. I, que pretende levantar 200 milhões de dólares para comprar um ativo mais maduro da área de tecnologia. E, por fim, a gestora Dynamo está por trás do Waldencast Acquisition, uma Spac que vai tentar levantar 250 milhões de dólares para criar uma holding de marcas no setor de cosméticos. Os sponsors estariam dispostos a colocar mais recursos, elevando o poder de fogo para pelo menos 400 milhões de dólares.


*Prova de conceito ou POC (proof of concept):  evidência documentada de que um software pode ser bem-sucedido.

 

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