Em 2004, quando o Google abriu o capital usando a polêmica estrutura do voto plural — que confere direitos de voto superiores aos criadores do negócio em relação aos demais investidores —, os cofundadores Larry Page e Sergey Brin enviaram uma carta aos acionistas na qual prometiam fornecer dados fidedignos e consistentes em seus resultados trimestrais. Mas será que empresas que adotam esse tipo de ação superpoderosa — e, consequentemente, estão mais propensas a conflitos de agência — estão fornecendo informações financeiras de qualidade ao mercado?
A Capital Aberto tem um curso online sobre direitos dos acionistas. Confira!
Essa pergunta motivou a elaboração do estudo “The quality of earnings information in dual-class firms: persistence and predictability”, publicado no Journal of Law, Finance, and Accounting. No paper, Rimona Palas e Dov Solomon partem do princípio de que uma demonstração financeira de qualidade é aquela que fornece informações úteis para a avaliação da capacidade de uma empresa de gerar fluxos de caixa futuros. E a boa notícia para os investidores de companhias com voto plural é que, nesse aspecto, os relatórios financeiros de empresas com essa estrutura acionária são superiores aos de emissoras que têm uma única classe de ações.
De acordo com o estudo, os lucros de empresas que adotam o voto plural são significativamente mais recorrentes de trimestre para trimestre — e essa assiduidade aumenta ao longo do tempo. Isso faz com que essas companhias também se sobressaiam na projeção de fluxos de caixa futuros para períodos de um trimestre, um ano e dois anos em relação a empresas que têm uma única classe de ação. Outro dado interessante é o fato de empresas com voto plural registrarem um número inferior de reapresentações de balanços.
Essas evidências, segundo Palas e Solomon, sugerem que, ao sofrerem menos pressões de curto prazo por causa da soberania de seus fundadores, empresas com voto plural conseguem se concentrar mais nos seus resultados. Essa situação também reduz incentivos que poderiam ter para manipular os lucros reportados, uma vez que precisam se preocupar menos com o alcance de metas imediatistas.
“Os resultados mostram que, para as empresas com voto plural, o fato de estarem livres das pressões do mercado tem mais influência sobre os relatórios financeiros do que os custos de agência, incentivando os fundadores a fornecerem aos investidores informações de qualidade em troca de direitos de voto superiores”, ressaltam os autores.
Matérias relacionadas
O voto plural vai “pegar” no mercado brasileiro?
Voto plural vira escudo para bigtechs
Voto plural: oportunidade perdida?
Seria a hora de rediscutir a governança corporativa no Brasil?
Para continuar lendo, cadastre-se!
E ganhe acesso gratuito
a 3 conteúdos mensalmente.
Ou assine a partir de R$ 34,40/mês!
Você terá acesso permanente
e ilimitado ao portal, além de descontos
especiais em cursos e webinars.
User Login!
Você atingiu o limite de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês.
Faça agora uma assinatura e tenha acesso ao melhor conteúdo sobre mercado de capitais
Ja é assinante? Clique aqui