Ethan Hunt (o personagem da saga Missão Impossível) recusaria esta missão. O oponente é tão formidável em termos de recursos, proteção e falta de escrúpulos que seria absolutamente impossível expô-lo, quanto mais derrotá-lo. Mas quando um amigo e membro da sua equipe é assassinado de forma covarde e os culpados são protegidos por um Estado moralmente corrupto, um poderoso combustível alimenta a alma humana. Sede por justiça? Ou mera vingança? Muito difícil e complexo tentar compreender as motivações por trás da saga vivida por Bill Browder, o autor de Freezing order.
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Detido pela Interpol, ameaçado de morte, em constante alerta por sua família, etc. Não foram poucas as represálias. O que leva, então, um ser humano a uma busca quixotesca por justiça, quando até seu inimigo é alguém sem rosto, uma “Spectre” sem um vilão?
Fundo Hermitage
Após a queda do muro, muitos investidores se aventuraram pelos países do Leste Europeu e pelas ex-repúblicas da União Soviética em busca de oportunidades. Foi nesse contexto que Bill Browder fundou e liderou o fundo Hermitage até 2005, o maior fundo estrangeiro a investir na Rússia na esteira do fim da guerra fria. Ao perceber as mudanças políticas em curso e o crescente antagonismo do “establishment” russo à sua atividade, ele decidiu liquidar suas posições e sair finalmente do país. Recomendou o mesmo ao restante de sua equipe, então composta de vários cidadãos russos.
Sergei Magnitsky, seu advogado, resolveu, contudo, ficar. E acabou falecendo em condições muito suspeitas em uma prisão russa. Magnitskyfoi o bode expiatório de uma operação de lavagem de dinheiro orquestrada por burocratas russos de várias instâncias do governo — do Executivo ao Judiciário.
Inimigo poderoso
A violência de Estado como instrumento da cleptocracia transformou-se no combustível da cruzada do autor contra o inimigo poderoso e sem rosto, narrada como uma história de espiões em Freezing order. Diante da impossibilidade de levar à Justiça os mandantes dos crimes, Browder escolhe uma estratégia conhecida para atingir o objetivo final dos envolvidos: arrestar o dinheiro roubado, “lavado” e espalhado pelos bancos suíços e destinos das elites (afinal, ninguém rouba pra passar férias no melhor resort da Sibéria).
O autor adota a linha do “siga o dinheiro”. E, após muita investigação e com a ajuda dos “Panama papers”, a trilha — que parte da Russia passa pelo Chipre e vários países até chegar aos Estados Unidos — é, por fim, descoberta.
Dinheiro congelado
Muito ativismo e reviravoltas depois, o “Magnistsky Act” acaba promulgado nos Estados Unidos. É posteriormente adotado em outros países e resulta no indiciamento de 18 (!) membros do governo russo. Em resumo, trata-se de uma lei que impõe sanções sobre indivíduos ou entidades condenados por abusos de direitos humanos. Um dos seus maiores predicados é poder levar ao congelamento dos ativos desses envolvidos.
Ainda hoje, o Estado russo acusa Browder de crimes contra o povo. Já emitiu vários alertas para sua apreensão pela Interpol, levando a uma detenção no aeroporto de Madri (o autor achou que iria acordar em uma prisão russa). Antes da invasão da Ucrânia, a opinião pública mundial estava dividida sobre Putin, seu círculo de poder e seus objetivos. Mas isso já ficou pra trás. Se essa história tivesse maior repercussão antes, talvez estivéssemos mais bem preparados para entender e reagir.
Freezing Order: A True Story of Russian Money Laundering, Murder, and Surviving Vladimir Putin’s Wrath
Bill Browder
Simon & Schuster
332 páginas
1a edição ― 2022
*Peter Jancso é conselheiro independente
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