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A participação decisiva dos ofídios na política 
Quando aparecem em lugares indevidos, as cobras são recolhidas e devolvidas às suas tocas. Mas, cuidado: elas nem sempre são visíveis e podem continuar perigosas
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Para além das ficções cinematográficas e das metáforas na imprensa, as cobras reais podem participar decisivamente na política | Imagem: Freepik

Jon Voight (os mais novos talvez o conheçam apenas como pai de Angelina Jolie) é um ator de altos e baixos. Mostrou o lado Jekyll quando despontou fazendo o jovem rufião caipira em Perdidos na noite (1969) ou quando personificou o veterano de guerra paraplégico em Amargo regresso (1978), desempenho que lhe valeu o Oscar. 


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Foi um dos muitos atores que personificaram presidentes dos Estados Unidos (reais ou de ficção), no papel de Franklin Roosevelt em Pearl Harbor (2001). O filme é uma orgia de efeitos especiais, combinados com a história amorosa paralela — pastiche de Titanic (1997). Mas ele se destacou. 

Já o seu lado Hyde (embora, para G. K. Chesterton, seja o contrário, mas isso é outra história) foi exibido em vários trabalhos, como no caso de Anaconda (1997), uma daquelas barbaridades que surgiram na esteira de Tubarão (1975). 

A tal anaconda (uma sucuri amazônica) gigantesca engole Jon Voight inteirinho, mas, aparentemente, não gostou e teve alguma espécie de indigestão, pois devolveu a refeição. Então, o ator pisca um olho e desaba, encerrando sua participação nessa tragédia cinematográfica. 

Antecipando esses acontecimentos na tela (que me obriguei a assistir como cinéfilo inveterado), logo após o impeachment de Fernando Collor, em comentário que entrou direto para as antologias da crônica política brasileira, o jornalista Elio Gaspari escreveu: “Dessa vez, a jiboia não engoliu

Pois é assim. As jiboias escolhem o prato e, às vezes, devolvem. A convivência com elas é difícil, embora existam aqueles que as adotem como pets de estimação, para horror da vizinhança. Mas dizem que as jiboias, quando envelhecem, engolem qualquer coisa. 

Para além das ficções cinematográficas e das metáforas na imprensa, as cobras reais podem participar decisivamente na política. Nas eleições de 1974, aquelas em que a oposição elegeu 16 senadores (22 vagas na disputa) e ficaram como um marco da rejeição popular ao regime ditatorial (dando origem à famigerada Lei Falcão, que restringiu a propaganda política em rádio e TV), aconteceu um fato inusitado.  

Em Mato Grosso (ainda não dividido), o líder do MDB, Miguel Marcondes, foi picado por uma cobra em Ponta Porã, não resistiu e o partido acabou derrotado. Não fosse isso, a oposição poderia ter conquistado mais uma cadeira no Senado, aumentando o placar da vitória. 

O então presidente Ernesto Geisel entendeu o recado e, preparado que era, tanto na área militar quanto na vida civil, se convenceu de que a abertura política seria inevitável. Entre outras providências, antes de deixar o cargo ele revogou o AI-5 e iniciou o desmonte dos porões, aqueles por onde andava a jiboia usada em sessões de tortura, como aconteceu com a jornalista Miriam Leitão. 

Bem antes disso, na Segunda Guerra, a cobra (fumando) desempenhou papel nobre, como símbolo da Força Expedicionária Brasileira na luta vitoriosa contra os nazistas e fascistas. 

Há quase cem anos, em 1928, Mário de Andrade publicou Macunaíma, um livro que trata da formação do Brasil e pode ter várias interpretações (assim como O homem cordial, de Sérgio Buarque de Holanda). A história seria adaptada para o cinema em 1969 por Joaquim Pedro de Andrade — e Macunaíma, interpretado por dois atores inesquecíveis: Grande Otelo (negro) e Paulo José (branco). 

Em 1975, a Portela homenageou o personagem, fruto da imaginação e das pesquisas de Mário, no samba-enredo de David Correa e Norival Reis, com o refrão que o povo cantou entusiasmado: Macunaíma índio branco catimbeiro/Negro sonso feiticeiro/Mata a cobra e dá um nó.  

Hoje em dia, com as justas e necessárias preocupações ambientais, quando as cobras aparecem em lugares indevidos, são recolhidas e devolvidas às suas tocas naturais. Mas elas nem sempre são visíveis e continuam perigosas. É preciso ter cuidado. Feliz Ano Novo! 

* Carlos Augusto Junqueira de Siqueira é advogado. Atuou como superintendente da Comissão de Valores Mobiliários e é autor dos livros Fechamento do capital social e Transferência do controle acionário. 

 

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