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As polarizações como um fato político
Democracia pressupõe ideias e grupos heterogêneos. Sem isso, temos problemas
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As polarizações recomeçaram com as eleições livres e diretas, naturais no sistema democrático | Imagem: Freepik

Os partidos e as federações definem os candidatos à presidência da República para as eleições de outubro. Nas incontáveis análises e entrevistas, fala-se muito em terceira via, direta ou subliminarmente apresentada como algo positivo, enquanto a polarização representa o bolo indesejado no tabuleiro político. Não parece que seja assim: antes, talvez, o desejo de alguns setores.


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Terceiras vias são comuns em qualquer área e uma das mais interessantes apareceu no poema Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade, que muitos acham só engraçado, mas é de longo alcance. Como não surgiu nenhum J. Pinto Fernandes, o padrão das eleições passadas deve se confirmar.

Igualmente, as pessoas manifestam suas preferências e as polarizações são frequentes. Tivemos Pelé e Garrincha, Marlene e Emilinha, Brahma e Antarctica, Sonho de Valsa e Serenata de Amor, Bossa Nova e Jovem Guarda, para ficar apenas em exemplos que já não provocam coceiras.

Como fato político, a polarização simplesmente acontece. Nos Estados Unidos, democratas e republicanos protagonizaram disputas acirradas: Kennedy vs. Nixon em 1960; Bush vs. Gore em 2000 (aquela da recontagem); e Trump vs. Hillary em 2016 (aquela em que o eleito perdeu na votação popular). Na França, acabamos de ver Macron vs. Le Pen.

Nas eleições, a divergência é ingrediente tão comum como fermento no bolo. No Império havia disputas aguerridas entre liberais e conservadores, mas, sobre todos, pairava o Poder Moderador (Constituição de 1824), exercido pelo imperador. Esse poder foi extinto pela República e a Constituição de 1988 consagra o modelo da divisão tríplice dos poderes, a eles subordinando as demais instituições civis ou militares.

Na República Velha (1889-1930), aquela da política oligarca dos governadores, os candidatos eram escolhidos a dedo, e as fraudes, costumeiramente, decidiam as eleições, pois não havia voto secreto, nem urnas eletrônicas. Aliás, nem voto das mulheres.

No período democrático de 1946-1964, todas as eleições foram polarizadas e vistas com naturalidade. Durante a ditadura (1964-1985), não tivemos oportunidade de escolher presidentes (com ou sem polarização). Os ocupantes do cargo eram indicados pelos militares e homologados (apenas formalmente) em eleições indiretas no Congresso. Um modelo evidentemente indesejável, repudiado na maior campanha cívica já vista no País.

As polarizações recomeçaram com as eleições livres e diretas, naturais no sistema democrático (tanto que, durante um bom tempo, não incomodaram). Não existia razão para maiores rebuliços cívicos ou anticívicos.

A forma como está sendo tratada agora lembra a observação de quase 60 anos atrás, quando um ex-presidente foi cassado – O afastamento do sr. Juscelino equivale ao caso daquele pai que dava liberdade à filha para casar com quem quisesse, desde que fosse com o genro escolhido por ele. Ora, realizar uma eleição com candidatos homogêneos, representantes dos mesmos grupos e ideologias, é uma tapeação primária que pretendem copiar dos Estados fascistas.[1]

Se for isso, temos problemas, pois a democracia pressupõe ideias e grupos heterogêneos. Provavelmente, se outros candidatos estivessem à frente nas pesquisas, a disputa seria qualificada como “equilibrada”.

Resta investigar as causas do fenômeno, que não é exclusivo do Brasil. Elas estão bem à vista, mas, numa palavra, diria que, sem poderes imperiais, oligárquicos ou autocráticos, um (pelo menos) razoável equilíbrio social e econômico é pré-requisito para o centro político não engasgar com o bolo eleitoral.

*Advogado.


[1] Carlos Heitor Cony. Crônica de 04.06.1964, publicada no Correio da Manhã.

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