
As eleições não me trouxeram surpresas (exceto aquelas de sempre, poucas, no âmbito dos estados). Mas, em compensação, as análises que li e ouvi, durante e após os resultados, surpreenderam muito. Parece que vi outra eleição.
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Os analistas e comentaristas falam em “avalanche bolsonarista”. Bobagem, até porque o bolsonarismo é apenas uma fração do conservadorismo estrutural.
Curiosamente, a análise que me pareceu mais convincente foi a do próprio Jair Bolsonaro, expressa pela sua fisionomia, aparentando desânimo e sem entusiasmo. Quem assistiu a sua fala ao vivo no domingo, após a divulgação dos resultados no 1º turno, pôde perceber a decepção do candidato. Bolsonaro parecia o único que captara o quadro geral.
O 2º turno era a hipótese mais provável e, ainda no domingo, logo depois de votar, disse a um amigo que a vitória de Lula no primeiro turno era possível, mas não provável.
Os institutos de pesquisa não erraram (ou, pelo menos, não erraram tanto). Acertaram a votação de Lula e, quanto à votação de Bolsonaro, é preciso lembrar que, segundo o noticiário, os eleitores de Bolsonaro se recusam a responder às pesquisas, dissimulam e até agridem os pesquisadores.
A direita “soft” (com características “liberais”) partiu para o voto útil e desidratou Simone Tebet (a candidata da terceira via), Ciro Gomes e Felipe D’Ávila.
Quando Henrique Meirelles, Geraldo Alckmin e João Amoedo naufragaram em 2018, a direita se agarrou em Bolsonaro, sem nenhum pudor. No curso do mandato, muitos fizeram vista grossa aos absurdos cometidos na saúde, na educação, no meio ambiente e, inclusive, na economia, tão rigorosamente cobrada de outros governantes.
Entre os governadores, Romeu Zema e Cláudio Castro (RJ), vencedores em 1º turno, fizeram campanhas mantendo distância do bolsonarismo. As vitórias de Castro e de Zema eram certas (os institutos de pesquisas não erraram). No Rio, quem vota no atual presidente votou em Castro, mas nem todos que votaram no governador reeleito votarão em Jair Bolsonaro no 2º turno. Zema ganhou o governo estadual, mas Lula venceu a eleição presidencial em Minas.
Em 2018, Jair Bolsonaro recebeu 12 milhões de votos em São Paulo e Fernando Haddad, 3 milhões. Agora, Bolsonaro teve os mesmos 12 milhões de votos, enquanto Lula recebeu 10 milhões. Mesmo ganhando as eleições no estado, o crescimento foi da oposição. Ainda em São Paulo, nas eleições para a Câmara em 2018, Eduardo Bolsonaro foi o deputado federal mais votado. Agora, em 2022, Guilherme Boulos (PSOL) ficou na frente.
Os analistas também apontam uma vitória bolsonarista no Senado. É discutível. No Rio, Romário venceu. Desde quando Romário é bolsonarista? Quando Bolsonaro se elegeu em 2018, Romário já era senador, eleito por causa do prestígio como ídolo no futebol. O candidato bolsonarista ao Senado, no Rio, foi Daniel Silveira, que perdeu a eleição. Inclusive, em 2018, Romário foi candidato a governador contra Wilson Witzel, que era o candidato de Jair Bolsonaro.
Teresa Cristina foi eleita senadora pelo Mato Grosso do Sul. Por causa do “bolsonarismo” ou do agronegócio? Ora… Damares foi eleita senadora pelo Distrito Federal, por conta do bolsonarismo ou dos evangélicos? Ora… Aliás, a candidata era Flávia Arruda, que perdeu.
Magno Malta (ES) e Rogério Marinho (RN) também se elegeram senadores, mas aí deve ser considerada a força do Centrão e das verbas.
Sérgio Moro venceu no Paraná. Claro que ele não é bolsonarista. Agora, Moro declarou voto em Bolsonaro. E queriam que ele declarasse voto em quem? Lula?!
Hamílton Mourão se elegeu no Rio Grande do Sul. É outra história. São os militares formando uma bancada, e isso vale também para a eleição de Eduardo Pazuello no Rio. Acho que é o estado com maior número de militares ativos e reformados.
Quanto à formação de uma grande bancada na Câmara pelo PL, é de se esperar as inevitáveis brigas e defecções. Aconteceu com o PSL, a partir de 2019, e mesmo com o PT, após 2003 — embora, nesse caso, por questões programáticas.
No mais, para encerrar (que isso vai longe), o candidato bolsonarista (raiz) Abraham Weintraub perdeu a eleição. Gilson Machado (bolsonarista raiz) também perdeu. E o (atual) bolsonarista João Roma, idem. No Rio, seu centro político, Bolsonaro pediu votos para amigos como Hélio Lopes, Max Guilherme e Waldir Ferraz. Só o primeiro foi eleito. Fabrício Queiroz, candidato pelo PTB, não chegou a receber 7.000 votos.
Jair Bolsonaro, aparentemente, percebeu tudo isso (e muito mais) naquele domingo.
Carlos Augusto Junqueira de Siqueira é advogado. Atuou como superintendente da Comissão de Valores Mobiliários e é autor de Fechamento do capital social e Transferência do controle acionário.
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