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Meta de inflação vai a debate público com estratégia de Lula
Após presidente declarar insatisfação com a conduta do Banco Central de manter os juros altos, grupo de 2.400 economistas apoia a pressão e lança manifesto
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Defensores da conduta do Banco Central dizem não ver lógica em uma redução dos juros justamente pelo fato de a inflação continuar distante do centro da meta | Imagem: Freepik

O mercado financeiro começou 2023 confiante de que o Banco Central iria reduzir os juros básicos da economia em algum momento do ano. A Selic está em 13,75% desde o último mês de agosto, quando a autoridade monetária elevou a taxa pela última vez. Em setembro, os juros foram mantidos, interrompendo um ciclo de 12 altas consecutivas. Mas uma redução pode demorar mais tempo para acontecer do que se esperava inicialmente. E, ao que tudo indica, tende a ocorrer em menor magnitude. No primeiro Boletim Focus de janeiro, os economistas consultados semanalmente pelo BC previam que a Selic terminasse 2023 em 12,25%. No relatório mais recente, contudo, a taxa já aparece em 12,75% no final do ano.   


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Por trás da piora dessas previsões está um cenário incerto de inflação ainda elevada, com o agravante de um embate entre o novo governo e o Banco Central. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou explícito seu descontentamento com o resultado da primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em sua gestão. O colegiado já vinha sinalizando que manteria os juros estabilizados por um período “suficientemente prolongado” e assim o fez, no começo de fevereiro, deixando a Selic em 13,75%. Lula disse que a decisão foi “uma vergonha” e voltou a questionar a autonomia do BC, um discurso que se tornou frequente desde que tomou posse.  

O governo alega que os juros altos impedem que a economia se recupere. E defende que a meta de inflação, hoje em 3%, seja revista na próxima reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), em junho. Deputados do PT no Congresso defendem uma revisão para 4%. Tanto Lula quanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, observam que a Selic está um patamar bem mais elevado do que a inflação, enquanto nos Estados Unidos e na zona do Euro, os juros, mesmo em elevação, continuam abaixo dos índices de preços.   

Visões distintas 

Um grupo de 2.400 economistas concorda com esse argumento e lançou, este mês, um manifesto em defesa da redução dos juros no Brasil. Nomes como Luiz Gonzaga Belluzo, Luiz Carlos Bresser-Pereira e Monica de Bolle assinam o texto, que diz não haver justificativa para a Selic ser mantida no atual patamar tanto do ponto de vista do cenário internacional quanto pela teoria econômica. Em um recente evento do BTG Pactual, gestores de casas como Verde Asset, SPX Capital e JGP também proferiram discursos alinhados com o governo, afirmando que é preciso revisar a meta de inflação para que os juros possam voltar a cair. 

Os defensores da conduta do Banco Central, por sua vez, dizem não ver lógica em uma redução dos juros justamente pelo fato de a inflação continuar distante do centro da meta. E acreditam que uma mudança na meta inflacionária poderia trazer um efeito contrário ao desejado. “A manobra de elevar a meta para a inflação parece arriscada, com benefícios no máximo temporários e com riscos de ocasionar uma elevação maior do que a planejada da taxa de inflação”, afirmou Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú. 

A consultoria britânica Capital Economics acredita que o Brasil pode repetir o caso da Turquia, onde uma pressão do Poder Executivo para reduzir artificialmente os juros levou o país a registrar uma das inflações mais altas do mundo.  

Os indicadores mais recentes mostram que os preços estão subindo com mais força, independentemente de impactos sazonais. E não apenas isso: a inflação continua cada vez mais disseminada. Não é à toa que, assim como nas projeções para os juros, também houve piora nas expectativas para inflação do Boletim Focus. Alguns economistas já preveem que o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) termine 2023 acima de 6%. 

Há quem diga também que não é possível comparar a conduta do BC brasileiro com a das autoridades monetárias do “primeiro mundo”, visto que o Brasil possui um nível reduzido de poupança interna e endividamento mais alto que o dos países ricos. Assim, diante de um histórico de inflação elevada e volátil, diferentemente dos Estados Unidos e Europa, a Selic se torna o prêmio de risco para o investidor topar investir por aqui.  

Já o economista André Lara Resende, um dos pais do Plano Real, acredita que a remuneração é incompatível com o risco do investimento. “No mundo hoje, só o Brasil garante aos rentistas uma taxa real perto de 8% ao ano sem risco e com liquidez imediata. Sem risco, sim, pois a dívida pública de um país com moeda fiduciária e um estado institucionalizado não tem risco de crédito”, escreveu, em artigo publicado no final do ano passado. Lara Resende fez parte da equipe de transição econômica de Lula e também é crítico dos juros altos.  

Essa é uma discussão que deve continuar, no mínimo, pelos próximos meses. Além da relação controversa juros versus inflação em si, há as preocupações sobre a responsabilidade fiscal do governo Lula, que já teve início com um rombo nas contas públicas. O fato é que essa incerteza tende a resultar em projeções piores do mercado para a inflação — as quais, por sua vez, costumam levar o Banco Central a manter os juros elevados. Não será uma discussão fácil, mas um fato chama a atenção desta vez e parece salutar: pensamentos econômicos de diferentes matizes permeiam o debate. A conferir o quanto eles influenciarão as decisões do Copom. 

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