Há muito não faço listas de final de ano, como aquelas com propósitos para o novo período. No entanto, por conta da pandemia, tentei elaborar uma relação de ganhadores e perdedores no difícil ano de 2020.
Entre os chefes de Estado, a vencedora é Jacinda Ardern, primeira-ministra da Nova Zelândia, e não só por causa da atuação na pandemia, mas pelo conjunto da obra no governo. Liderança e sensatez são artigos cada vez mais raros.
O grande derrotado foi Donald Trump, que perdeu nas urnas, nas cortes estaduais e na Suprema Corte (em torno de 60 processos), no colégio eleitoral, na Câmara, no Senado e na batalha da comunicação, onde até foi apagado pelas redes (de televisão e sociais). Dizem que os americanos estão divididos, mas essa foi uma derrota coesa.
Vejo explicações a respeito da derrota de Trump, mas pouco se fala sobre a ampla aliança costurada pelos democratas, incluindo ex-presidentes e pré-candidatos no equivalente ao nosso primeiro turno, segundo o modelo adotado por lá.
Por aqui, ao que tudo indica, nas eleições municipais a imprensa tradicional derrotou as redes sociais.
Os vegetais, ainda que imunes à covid-19, sofreram ataques virulentos e não contaram com cordões sanitários adequados. O resultado foi devastador.
A área da saúde pública ficou dividida. Na cúpula prevaleceram os negacionistas, sem suprimentos nem planos. Já os servidores de carreira saíram vencedores, combatendo a pandemia em todas as frentes, com instituições de qualidade e profissionais (aqueles que consomem as receitas públicas) assumindo os riscos exigidos pelo trabalho. Um dado importante a ser considerado na anunciada reforma administrativa.
Quanto aos setores da economia, aviação e turismo perderam. A indústria farmacêutica ganhou, funcionando a todo vapor. Já a bolsa de valores, na taquicardia, se saiu bem, de forma surpreendente. A dinâmica financeira tem seus próprios motores, nem sempre atrelados à lógica comum. Mas, como dizia o Ibrahim, olho vivo que cavalo não desce escada.
O comércio eletrônico entra no topo da lista positiva. Certamente, depois do salário e do crediário, é a grande revolução na seara do escoamento da produção. Já utilizava os meios digitais para consumo de alguns poucos itens, como livros e discos. De repente, me vi obrigado a ampliar o leque, incluindo produtos que jamais imaginei comprar a distância.
E é nos discos (vinil, preferencialmente) que descubro perdedores no ano da pandemia. São os instrumentistas, esses mágicos que embelezam e inspiram nossas vidas em qualquer lugar do planeta e em todos os ritmos.
Pois não restaram alternativas para eles. Os músicos dependem de público em seus shows (teatros, casas noturnas, espaços livres, bares, fundos de quintal) e o momento não permite aglomerações. As raves clandestinas (suicidas e homicidas) usam música eletrônica, sem pagamento de direitos autorais.
Ouvir música é bem melhor do que escutar sandices a torto e a direito. As lives não suprem as necessidades dos músicos e é preciso apoiar essa classe realmente indispensável à qualidade de vida. A televisão pouco fez até agora. Será que nem na medíocre programação do final de semana na TV aberta há espaço? Afinal, não vai tão longe o tempo do Projeto Aquarius.
No mais, deixo de comentar os ilusionistas e os iludidos de todos os setores. Perdem sempre, mas pensam que ganham. Com ou sem pandemia.
Carlos Augusto Junqueira de Siqueira é advogado
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