As fortes quedas nas taxas de juros exigem que o investidor brasileiro mude a sua forma de investir. Acostumado a rendimentos na casa dos dois dígitos resultantes dos aportes em títulos públicos e CDBs, ele precisa agora se reinventar para enfrentar um cenário de juros reais negativos. Para rentabilizar a carteira acima da inflação, é necessário buscar alternativas aos produtos tradicionais, como poupança e tesouro direto, por exemplo.
A inclinação das curvas de juros tem duas consequências diretas: a redução de spreads em mercados mais eficientes (aumento dos preços de ativos) e o aumento da volatilidade nos mercados de renda variável. Dessa forma, a construção da carteira atual demanda necessariamente um cuidado maior com a diversificação, visando, ao mesmo tempo, proteção e posicionamento estratégico.
Descolamento do CDI
Uma carteira preparada para performar nesse mundo dos juros baixos exige ainda descorrelação, descolamento do CDI e proteção. Nesse sentido, o investidor deve diversificar em moedas, classes de ativos e buscar alocações estratégicas para reduzir o nível geral de volatilidade de seu portfólio.
Quando se pensa em diversificação, muitos lembram de investimentos em ações, mas o momento exige cautela. A volatilidade está intensa e há muitas incertezas em relação às perspectivas futuras. Para exemplificar, o Ibovespa que passou pelo mínimo de 63 mil pontos em março de 2020, recentemente ultrapassou o patamar pré-pandemia, chegando aos 120 mil pontos, quando a situação econômica era muito mais estável. E ainda não se vê uma situação clara em relação à velocidade da retomada econômica em diversos setores.
E as incertezas não se restringem apenas ao Brasil. Embora a vacinação já tenha sido iniciada em diversos países do mundo, não se sabe ao certo quando a economia voltará para os eixos — dado que os juros estão em nível baixíssimo em todo o mundo e os governos já comprometeram os balanços fiscais com estímulos de grandeza sem precedentes.
Prêmio pela liquidez menor
Nesse cenário, os investimentos em ativos alternativos de alta rentabilidade e não correlacionados à performance da bolsa de valores são uma boa opção. Neles, o prêmio de risco está ligado principalmente à iliquidez, então o investidor opta por deixar parte de sua carteira menos líquida, mas em troca ganha proteção da volatilidade e posicionamento estratégico em ativos que têm uma relação risco-retorno bem atrativa.
Howard Marks, notável investidor e fundador da Oaktree Capital, destacou muito bem em seu último memorando que os ativos alternativos e os mercados ineficientes podem ser uma saída inteligente para o trade-off: aumentar a exposição em ativos de renda variável e expor a carteira a mais volatilidade e spreads apertados ou aumentar a exposição em ativos de renda fixa e aceitar ter retornos baixos.
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Além do risco de concentração, destaco o risco de correlação (nada adianta ter muitos ativos na carteira, mas que se movimentam na mesma direção), risco de inflação e risco de sobrepreços. Em suma: a forte queda das taxas de juros exige que o investidor assuma mais riscos, caso mire retornos altos, o que exige coragem e controle de riscos.
Um exemplo de alocação estratégica em um ativo alternativo é a destinação de um percentual da carteira para aquisição de precatórios. Eles conferem proteção à inflação (são corrigidos monetariamente por IPCA-E), descorrelação à performance dos mercados de renda variável e descolamento do CDI, uma vez que a rentabilidade está vinculada ao deságio com que os títulos são adquiridos. A originação desses ativos passa por uma análise jurídica e estruturação da operação, buscando controlar os riscos operacionais inerentes aos precatórios, que chegam a render 25% ao ano.
Com a evolução das regulamentações, digitalização de processos e surgimento de fintechs especializadas, o investidor consegue encontrar boas alternativas para investimento com rentabilidades bastante superiores à Selic.
Carteira diversificada
É importante ressaltar que esses ativos devem compor uma carteira diversificada de investimentos por envolverem riscos e não terem liquidez antes do prazo de liquidação da operação. O ideal é que os investidores destinem no máximo 25% de sua carteira a ativos alternativos por conta do maior risco e menor liquidez.
Ao montar uma carteira diversificada, o investidor vai conseguir combinar ativos mais seguros e com liquidez maior, ao mesmo tempo em que busca aumentar a rentabilidade total da carteira.
É crucial que, ao procurar esse tipo de ativo, o investidor selecione plataformas confiáveis, com excelente reputação, clareza e transparência na comunicação. Além disso, as operações devem ser lastreadas em ativos reais e formalizadas em contratos com validade jurídica.
Caio Fasanella ([email protected]) é fundador e CEO da gestora Balko
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