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Covid-19: a corrida pela vacina continua 
Países — incluindo os ricos — enfrentam dificuldades de acesso aos imunizantes, estendendo a aflição pelo fim da crise de saúde e econômica  
Colunista Walter Pellecchia comenta o mercado de capitais a nível internacional

Walter Pellecchia | Ilustração: Julia Padula

Segundo a teoria darwinista, todos os organismos estão em constante evoluçãoEm 1988, o biólogo molecular Joshua Lederberg, prêmio Nobel de Medicina de 1958, publicou o artigo intitulado Pandemic as a Natural Evolutionary Phenomenon (A Pandemia como um Fenômeno Evolutivo Natural”, em tradução livre). No texto, ele discute, no auge da pandemia do HIV/aids, a necessária — mas negligenciada  interação da teoria darwinista dos estudos de Louis Pasteur sobre micro-organismos e a importância das vacinas e da higiene pessoal no combate às infecções. 

Embora contemporâneo de Pasteur, Darwin posiciona o homo sapiens, assim como todas as outras espécies, no topo da cadeia evolutiva em razão apenas da seleção naturalsem parecer ter incorporado à sua teoria a existência e a influência dos micro-organismos. Entretanto, conforme avalia Lederberg, o homem, em posição privilegiada decorrente de sua inteligência, cultura e tecnologia, diferencia-se de seus competidores, sem que isso deixe de contribuir para sua própria evolução. O artigo de Lederberg não poderia ser mais apropriado para o momento atual. 

Como disseminar as vacinas 

Que as vacinas são a única forma concreta e viável para contornar a pandemia não é surpresa. O foco agora é fazer com que cheguem a todos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, nos reconhecendo como humanidade, prevê que todo ser humano tem direito a saúde. Mas como podemos nos reconhecer como uma humanidade quando a maior parte dela está à margem do mínimo? 

Em 10 de fevereiro, pelo menos nove vacinas já eram autorizadas para uso em pelo menos um país e 148 milhões de doses já haviam sido administradas — superando, inclusive, o número (oficial) de casos confirmados de covid-19 desde o início da pandemia. Em Israel, até 6 de fevereiro, 40% da população tinha sido vacinada e o governo disse verificar redução de dois terços na hospitalização de pessoas com mais de 60 anos. 


Confira outras colunas assinadas por Walter Pellecchia aqui.


Fato a se comemorar, embora, no momento, Israel esteja vendo o crescimento de casos de covid-19 na população ainda não vacinada em razão da variante evoluída do vírus originada bem longe, no Reino Unido, muito mais contagiosa do que a original. Cepas evoluídas e mais contagiosas também foram identificadas na África do Sul e no Brasil. Que o vírus evoluiria também não é surpresa. Porém, o novo coronavírus e suas variantes evoluídas não respeitam fronteiras; daí a importância de se agir rápido. 

Vacina é bem escasso 

O problema é que a vacina contra a covid-19 ainda é um bem limitado, custa caro e, portanto, não está disponível para todos — nem mesmo para os mais ricos. A União Europeia (UE), que negocia de forma unificada a aquisição de vacinas para todos os seus 450 milhões de habitantes, está sendo altamente criticada pelos países-membros pela demora no acesso à vacina. Até 6 de fevereiro, apenas 13,5 milhões de pessoas no bloco haviam sido vacinadas. Mesmo com laboratórios e fábricas de vacinas no seu território, há problemas com a capacidade limitada de produção com abastecimento de suprimentos 

Como se não bastasse, a inglesa AstraZeneca, que desenvolveu a vacina com a Universidade de Oxford (e de quem a UE comprou 300 milhões de doses), está sendo pressionada pelo governo britânico a não exportar suprimentos localizados nas fábricas do Reino Unido para o continente até que os britânicos os tenham em quantidade suficiente para atender a demanda local. Em contrapartida, a UE anunciou em 29 de janeiro a introdução do controle de exportação de vacinas produzidas dentro do bloco europeu para priorizar seus cidadãos. 

O mesmo movimento foi feito pela Índia logo nos primeiros dias de 2021, ao proibir que o Serum Institute of India, parceiro da AstraZeneca na produção da vacina de Oxford, realizasse a exportação até que a sua população vulnerável recebesse a vacina  medida posteriormente flexibilizada. 

Países pobres no fim da fila 

Se a situação está difícil para os mais ricos, muito pior para os pobres. Esses países estão dependendo da distribuição de vacinas vinculadas à Covax, iniciativa liderada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para fornecer vacinas produzidas pela AstraZeneca e pela Pfizer-BioNTech para todaanações, com prioridade aos 92 mais pobres. Mas essa distribuição deve começar apenas no fim de fevereiro, e em quantidades bem limitadas. 

Diante desse cenário, os países continuam forçados a manter medidas de distanciamento social, incluindo lockdownspara evitar que seus sistemas de saúde colapsem, e, como consequência, pressionam ainda mais suas economias já bastante fragilizadas. Enquanto a vacina não chegar a todos os lugares do mundo, vamos continuar patinando. 

Como espécie, evoluímos o suficiente em termos intelectuais e científicos para, em menos de um ano, evitar que a seleção natural de Darwin causasse uma catástrofe sem precedentes. Por outro lado, como humanidade, ainda estamos bem aquém de onde deveríamos estar.


Walter Pellecchia, advogado especialista em mercado financeiro ([email protected]). O texto reflete opiniões do autor e não deve ser considerado como consultoria de qualquer natureza. 

 

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