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NFTs: bolha ou oportunidade?
O entusiasmo dos investidores com o fenômeno curioso que domina o mercado cripto
NFTs: bolha ou oportunidade?
Cada NFT representa um ativo digital único e com garantia de autenticidade, o que explica seu sucesso entre colecionadores e investidores — Imagem: freepik

Ao escrever o seu primeiro tuíte em 2006, o cocriador da rede social Twitter, Jack Dorsey, não imaginava que 15 anos depois poderia transformá-lo num ativo digital certificado e vendê-lo por 2,9 milhões de dólares. A bolada foi paga pelo CEO da empresa de blockchain Bridge Oracle, Sina Estavi, que recebeu uma versão autografada digitalmente da postagem. Um tanto lacônica, ela se resume à frase “Apenas configurando meu Twitter”. Ainda assim, Estavi acredita que fez um bom negócio. “Acho que, com o passar dos anos, as pessoas perceberão o verdadeiro valor desse tuíte, como a pintura da Mona Lisa”, escreveu em sua rede social. Por mais estapafúrdia que a afirmação pareça ser, ela reflete o entusiasmo dos investidores com um fenômeno curioso que dominou o mercado cripto: os NFTs, sigla que, em português, significa tokens não fungíveis.

Armazenados em blockchain, principalmente na plataforma Ethereum, os NFTs são uma espécie de certificado. Quando atrelado a um item digital, como um tuíte, uma imagem, uma música ou um vídeo, por exemplo, assegura sua originalidade e exclusividade. Isso significa que cada NFT representa um ativo digital único e com garantia de autenticidade, o que explica seu sucesso entre colecionadores e investidores. Nos últimos 12 meses, esse mercado movimentou 22 bilhões de dólares, montante 220 vezes superior ao registrado em 2020. Segundo a empresa de dados DappRadar e a bolsa americana de criptomoedas Kraken, os preços dos tokens não fungíveis subiram 42% somente em novembro de 2021 — a melhor performance no setor cripto — graças ao frenesi em torno do chamado metaverso, ambiente futurista que promete extinguir os limites entre a vida real e a digital e que já vem sendo aclamado como o próximo capítulo da internet.

NFTs na bolsa

Com todo esse dinheiro sendo movimentado, não demorou para a euforia em torno dos NFTs chegar à bolsa de valores. No último ano, investidores reviraram Wall Street em busca de ações de empresas de tecnologia que, mesmo sem relação direta com o nicho de NFTs, pudessem ganhar exposição a eles no futuro. “Se a companhia tem algum envolvimento com blockchain, entretenimento ou varejo de ativos digitais, há uma grande chance de suas ações serem alvo de especulação”, afirmou Amos C., especialista da plataforma StockMarket.com, em artigo publicado no portal da Nasdaq.

Esse cenário ficou evidente na ocasião da parceria entre a agência de marketing e conteúdo Dolphin Entertainment e a empresa de entretenimento e esportes Hall of Fame Resort & Entertainment. O anúncio, em março passado, de que as empresas decidiram se unir para desenvolver NFTs focadas no universo do futebol fez os papéis da Dolphin subirem de 5,69 dólares para 18,6 dólares em apenas um dia e da Hall of Fame, de 2,4 dólares para 5,8 dólares. Meses depois, a Dolphin firmou mais uma parceria, dessa vez com a bolsa de criptoativos FTX.US, para desenvolver um marketplace de tokens não fungíveis para marcas do setor de esportes e entretenimento. Outras empresas de capital aberto que anunciaram projetos relacionados a NFTs são DraftKings, Funko, Playboy e Atari.

Corrida insustentável?

O crescimento vertiginoso do mercado de NFTs tem dividido as opiniões do mercado. Os mais céticos acreditam que a atual valorização é sintomática de uma corrida insustentável por “ouro digital”. “Esse movimento pode muito bem ser a apoteose, o auge no paradigma das bolhas financeiras”, afirmou Michael Every, chefe de pesquisa em mercados financeiros do eixo Ásia-Pacífico do banco holandês Rabobank, em entrevista para a CNBC.

A euforia exagerada observada por Every preocupa inclusive entusiastas do mercado de criptoativos, como o bilionário Mike Novogratz, atual CEO da gestora Galaxy Digital. Durante o evento Token2049, que aconteceu em outubro, em Londres, Novogratz questionou se a atual valorização de NFTs é sustentável e aconselhou os investidores a se desfazerem de alguns tokens não fungíveis. “Eu acredito que os NFTs estão aqui para ficar, mas isso não significa que o preço de um Ringers ou um Punk [obras de artistas famosos que viraram NFTs] permanecerá num nível elevado”, alertou o gestor. “Parece ser um bom momento para colher alguns lucros e voltar-se para a compra de bitcoins ou outros tipos de tokens.”

Mas há quem discorde dessa visão, principalmente diante do crescimento que o mercado de NTFs pode apresentar com a disseminação do metaverso. Essa é a opinião de Sylvia Jablonski, head de investimentos e co-fundadora da Defiance ETFs, que lançou, em dezembro passado, o primeiro fundo de índice de NFTs. A equipe da asset se debruçou sobre a negociação de tokens não fungíveis por cerca de um ano e, após estudar o potencial trilionário do metaverso, acredita que é hora de os investidores aumentarem a exposição a esses ativos.

Os NFTs são a base de metaversos já existentes, como a plataforma argentina Decentraland e a americana The SandBox, que permitem ao usuário não só jogar e socializar, mas também comprar terrenos virtuais, construir ambientes e alugá-los — tudo assegurado com certificados de autenticidade e exclusividade em blockchain. Já há, inclusive, empresas comercializando NFTs para esses universos. Em junho de 2021, em celebração ao Dia Internacional da Amizade, a Coca-Cola levantou 575,8 milhões de dólares com o leilão de uma coleção de tokens não fungíveis que podem ser usados dentro da Decentraland. Eles incluíam uma versão digital das máquinas de venda de refrigerantes da Coca-Cola da década de 1950, uma jaqueta futurista personalizada da empresa, áudios contendo os sons de uma garrafa sendo aberta e de uma bebida sendo derramada em um copo e um cartão da amizade da Coca-Cola inspirado em cartões colecionáveis da década de 1940. Diante do sucesso do leilão, outras empresas, como as marcas de itens de luxo Gucci e Balenciaga, se preparam para realizar iniciativas semelhantes.

Arte questionável

É no setor da arte, entretanto, que os NFTs fazem mais sucesso. “À medida que o que é digital pode ser copiado, ter um certificado de autenticidade [possibilitado pelo NFT] é realmente importante para atestar a posse de um item”, ressalta Jon McCormack, professor de ciências da computação na Monash University. O encaixe perfeito entre os NFTs e o mercado de colecionáveis resultou no aumento exponencial do número de artistas que transforma suas obras em tokens não fungíveis, para disponibilizá-los em plataformas especializadas em NFTs, como a OpenSea, que permite vender, comprar e leiloar ativos digitais.

Não à toa, o NFT mais caro vendido até hoje foi justamente o de uma obra digital. A colagem Everyones: The First 5000 Days, que reúne cinco mil artes digitais feita pelo artista americano Beeple, foi leiloada por 69,3 milhões de dólares em março de 2021. Com isso, tornou-se a obra de arte mais cara vendida por um artista vivo. Beeple também embolsou 29 milhões de dólares com o leilão da obra Human One, em setembro. Ela foi negociada na britânica Christie, uma das maiores casas de leilão do mundo e a primeira a vender uma arte digital.

Embora esse mercado tenha viabilizado uma nova forma de os artistas lucrarem, nem todos veem seu crescimento com bons olhos. O crítico de arte Waldemar Januszczak e a artista David Hockney consideram que os NFTs incentivam o surgimento de artistas gananciosos e sem consciência ambiental, cujas criações “mal se qualificam como arte”. A questão de sustentabilidade é particularmente delicada no atual contexto de crise climática, uma vez que a criação de NFTs exige um consumo gigantesco de energia elétrica e deixa uma pegada de carbono tão grande quanto a mineração de criptomoedas. O The Guardian estima que o desenvolvimento de apenas um NFT da artista Grimes em fevereiro, vendido por 5,8 milhões de dólares, tenha produzido 70 toneladas de dióxido de carbono — o que equivale à energia elétrica consumida por dez residências ao longo de um ano. Além disso, a falta de regulação do mercado cripto torna a negociação de NFTs um campo fértil para lavagem de dinheiro, fraude e infrações a direitos intelectuais. Questões que, por ora, parecem estar longe de arrefecer o entusiasmo dos que garimpam ouro digital.

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