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O dúbio efeito do abandono da paridade de preços pela Petrobras
Mudança na PPI ganha voto de confiança do mercado, mas, ao mesmo tempo, ressuscita temores
PPI, O dúbio efeito do abandono da paridade de preços pela Petrobras, Capital Aberto
A intenção da Petrobras está clara, mas os meios que a petrolífera escolheu para alcançar seus objetivos ainda estão sendo assimilados | Imagem: Freepik

Dias depois de reportar lucro de 38 bilhões de reais, referente ao primeiro trimestre de 2023, e anunciar a distribuição de 25 bilhões em dividendos aos seus acionistas, a Petrobras, por fim, implementou mudanças em sua política de preço de combustível. Assim, abandonou o mecanismo de Preços de Paridade de Importação (PPI), adotado em 2016 pelo governo Michel Temer, aderindo a um modelo que passa a levar mais em conta as características do mercado doméstico. A premissa da estatal é diminuir o impacto da volatilidade internacional do petróleo e do câmbio nos preços dos combustíveis. Os reajustes vão continuar levando em conta a referência do cenário externo, mas de maneira que variações bruscas na cotação da matéria-prima sejam sentidas de forma mais suave pelo consumidor brasileiro.  


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“A paridade de importação era uma abstração. Temos uma refinaria aqui, com a grande maioria dos custos em reais, e íamos pelos preços internacionais. Pegávamos um preço lá de fora, do nosso concorrente, que não produz aqui, e colocávamos aqui dentro. É o pior cenário de competição”, afirmou Jean Paul Prates, presidente da Petrobras, depois que as mudanças foram anunciadas. Segundo ele, a nova política de preços coloca um filtro sobre a referência internacional, levando em conta a capacidade de refino da petrolífera, com custos em moeda brasileira, para mitigar os efeitos da volatilidade externa.  

Críticas à transparência

A intenção da Petrobras está clara, mas os meios que a petrolífera escolheu para alcançar seus objetivos ainda estão sendo assimilados. Assim que anunciada, a nova política de preços foi reconhecida por sua maior flexibilidade, porém criticada em termos de transparência.  

Ao calcular o valor do combustível, a estatal vai levar em consideração o custo alternativo do cliente, ou seja, os valores praticados pelos concorrentes, como refinarias privadas e estrangeiras, na comercialização de um determinado produto. Os reajustes também vão considerar o que a estatal chama de “valor marginal para a Petrobras”. Nessa conta, entram os custos internos da estatal para a produção de combustíveis e o retorno que a empresa tem ao optar por vender o produto no mercado nacional em vez de exportar.  

“A Petrobras fará seu preço de acordo com cada cliente, com o ambiente em que aquele cliente se insere e com questões de instalações e logística”, acrescentou Prates, ao detalhar a nova política da empresa. O CEO nega que haja falta de transparência e disse que o conselho de administração da companhia pode pedir esclarecimentos sobre o novo método de cálculo sempre que for necessário. 

Menos previsibilidade

Analistas afirmam, entretanto, que as mudanças trazem critérios pouco objetivos, menos previsíveis e, portanto, mais difíceis de serem precificados. Muitos também se questionam o que poderia acontecer, por exemplo, caso o preço internacional do petróleo voltasse a explodir, como ocorreu no primeiro semestre do ano passado. A Petrobras manteria as cotações artificialmente mais baixas? Ainda que a estatal tenha se comprometido a praticar valores competitivos e a preservar sua rentabilidade, a nova metodologia de precificação ressuscitou temores de que a petrolífera pudesse repetir erros do passado, com risco de intervenção do governo nos futuros reajustes.  

A Petrobras é o maior player do mercado brasileiro de energia. Mas, apesar do seu tamanho, ainda compra do exterior uma boa parte do combustível que vende no país. Caso a empresa decida comercializar o produto por um valor abaixo do preço de importação, o impacto para as concorrentes seria relevante. Os críticos do fim da paridade internacional acreditam que a mudança abre espaço para concorrência desleal com importadoras privadas e aumenta, até mesmo, o risco de desabastecimento. Assim sendo, a Petrobras teria de trazer mais combustível de fora, o que penalizaria a própria empresa financeiramente.  

Voto de confiança

Mesmo ciente dos riscos, os investidores, a priori, parecem ter dado um voto de confiança à estatal. As ações da petrolífera subiram mais de 2% no pregão da última terça-feira (16), quando a nova política de preços foi anunciada, na contramão do Ibovespa, que fechou em baixa naquele dia. O JP Morgan avaliou que a nova estratégia comercial mantém referências de mercado e deve respeitar as diretrizes para manutenção de operações rentáveis. Para os analistas, ainda que a paridade “pura” tenha sido abandonada, as mudanças não são radicais. Já o Goldman Sachs avalia que a nova política de preços parece ter afastado um cenário de maior intervenção da União. 

Desde que as mudanças entraram em vigor, os preços da gasolina e do diesel estão 12,6% mais baratos nas refinarias da estatal. O diesel custa 8% menos no mercado interno, na comparação com o Golfo do México, e a gasolina, 4% menos. O dado sinaliza que a Petrobras talvez não escape à necessidade de importar mais combustível para evitar um desabastecimento. Resta acompanhar como esses desdobramentos vão afetar o caixa da companhia no futuro e impactar a remuneração de seus acionistas. A boa receptividade do mercado não significa que a aprovação permanecerá por muito tempo.  

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