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Como a indústria de VC descobre o futuro
A proporção extrema entre sucessos e fracassos é explicada pela “power law”, que alimenta o venture capital no Vale do Silício e no mundo
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Após 50 anos de desenvolvimento, a indústria de venture capital é glorificada e vilanizada o tempo todo, mas seu impacto inegável está ao nosso redor

A natureza da pesquisa científica em qualquer campo do conhecimento humano — química, física, ciências, biologia, etc. — envolve a dura realidade de que o sucesso empírico tem probabilidade quase nula. No entanto, nos raros eventos em que ele acontece, a brutal escala atingida acaba pagando por todas as tentativas frustradas de forma exponencial. Essa proporção extrema entre sucessos e fracassos é explicada pela “power law”, que alimenta a indústria de venture capital (VC) no Vale do Silício e no mundo. 


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Em “The power law: venture capital and the making of the new future”, o consagrado autor e jornalista Sebastian Mallaby conta uma história íntima da indústria de VC a partir de seu acesso às figuras mais expressivas do segmento (Sequoia, Kleiner Perkins, Accel, Benchmark e Andreessen Horowitz, entre outros). O resultado é uma combinação de narrativa envolvente e análise recheada de casos curiosos, fracassos retumbantes e sucessos arrebatadores. 

O livro avança em ordem cronológica, registrando as etapas marcantes desde o nascedouro do venture capital, no fim dos anos 1960, até a exuberância do momento atual, onde se consolidou como uma classe de ativos separada (juntamente com private equity, o chamado investimento em empresas fechadas). 

No início, o capital era escasso, logo o poder de barganha entre empreendedores e investidores pendia fortemente para o lado destes últimos. Alguns milhares de dólares podiam comprar mais de 50% das empresas nascentes na primeira captação, além de garantir uma série de direitos interessantes (como receber antes de todos em caso de venda da empresa). Na década de 1970, a emergência do videogame (Atari) e do computador pessoal abriu canal para levar a tecnologia aos lares, e a escala de potência de 10 (10x, 100x, 1000x) começou a aparecer. Ao mesmo tempo, as primeiras reputações de investidores começaram a se formar nessa classe de investimentos notória por retornos elevados e concentrados em poucas gestoras. 

A partir daí, chegamos aos anos 1990 com a internet, e o resto é história: uma montanha de capital sem precedente é despejada no segmento, que vive uma curta exuberância irracional até o crash, em março de 2001. Como muito dinheiro corria atrás dos melhores negócios, os empreendedores passaram a deter grande poder de barganha nas negociações. Mais adiante, a chegada dos smartphones alimentaram uma nova onda de enormes oportunidades, que atraiu capital em volume igualmente inédito (leia-se Vision Fund, com 100 bilhões de dólares de patrimônio), e o novo ciclo repetiu histórias de excessos, fracassos e unicórnios. 

Após 50 anos de desenvolvimento, a indústria de venture capital é glorificada e vilanizada o tempo todo, mas seu impacto inegável está ao nosso redor, seja nos fones que são quase apêndices de nossos corpos, seja nas vacinas que ajudaram a atravessar a escuridão da pandemia. Toda atividade sujeita à “power law” está na mira dos venture capital, e suas estratégias têm moldado o caminho da inovação da economia global. Mas não espere um compasso moral do segmento: o mesmo dinheiro que financia vacinas pode financiar cigarros eletrônicos. 

The power law: venture capital and the making of the new future 

Sebastian Mallaby 

Penguin Press 

496 páginas 

1a edição ― 2022 

*Peter Jancso é sócio da Jardim Botânico Investimentos e conselheiro independente 

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