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O que esperar da auditoria independente na era dos dados
Ferramentas de big data e inteligência artificial prometem aumentar a qualidade e agilizar o trabalho do auditor
Valdir Coscodai é presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon)
Valdir Coscodai é presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon) | Ilustração: Julia Padula

O acesso maior e quase instantâneo à informação, propiciado pela tecnologia, tem alterado a forma como nos relacionamos, consumimos e produzimos conhecimento. Para os auditores independentes, tais mudanças, em função do volume elevado de dados disponíveis para análise, podem implicar aumento da cobrança de que toda inconsistência seja descoberta e relatada. Sabemos, contudo, que essa exigência é infundada, já que eventuais fraudes praticadas por gestores e/ou colaboradores de empresas auditadas, em especial em conluio, têm maior risco de não serem detectadas. 

A crescente informatização e automatização de processos também abre a perspectiva de que funções desempenhadas por humanos sejam substituídas por sistemas de tecnologia da informação (TI). Em 2015, o Fórum Econômico Mundial realizou estudo com especialistas da área e executivos, que foram questionados sobre qual era sua expectativa de tempo para que mudanças tecnológicas tivessem impacto expressivo em alguns setores econômicos. Mais de 70% dos respondentes consideraram grande a probabilidade de que, até 2025, 30% das auditorias fossem feitas por inteligência artificial. Em trabalho científico publicado em 2017 pela editora holandesa Elsevier, os pesquisadores pontuaram que atividades relacionadas a auditores e contadores nos Estados Unidos são altamente suscetíveis à automação, com mais de 90% de probabilidade de ocorrência nos próximos anos. 

E tudo indica que essa automação ocorrerá num ritmo cada vez mais acelerado. Em artigo do Fórum Econômico Mundial sobre o futuro do emprego, publicado em 2020, destacou-se a busca crescente por automatização e digitalização dos trabalhos e processos, em decorrência da crise gerada pela pandemia de covid-19. Considerando-se o fato de que o chamado desemprego tecnológico já vinha sendo observado há alguns anos, esse cenário pode acarretar uma retomada econômica sem a possibilidade de recuperação de empregos na mesma proporção.  

Cabe enfatizar que a automação total de determinadas funções e profissões estaria relacionada às tarefas mais laboriosas e com menor exigência de habilidades e conhecimentos específicos. No caso dos auditores independentes, para os quais a tecnologia tem sido uma fundamental aliada, ela não substitui o trabalho intelectual. A auditoria baseia-se no ceticismo profissional e na sensibilidade e experiência do auditor em detectar problemas nos relatórios. O trabalho desenvolvido apenas com ferramentas de data analytics carece de tais habilidades cognitivas e podem tornar a análise enviesada, levando à observação apenas de indicadores e indícios selecionados por uma “máquina”. Por isso, dentro de um trabalho de auditoria com qualidade, o papel dessas ferramentas é de apoio ao profissional, simplificando processos e agilizando a obtenção de evidências. 

Os auditores independentes devem estar alinhados com as novas tecnologias e com as mudanças que elas já estão promovendo. Sua adequada qualificação para usar ferramentas de big data e inteligência artificial — seja na graduação ou em cursos especializados — auxiliará nessa transição e fará com que, aplicando seu conhecimento, ganhem protagonismo nas transformações em curso. Com sua participação na concepção e adequação das novas tecnologias à realidade da auditoria, será possível que esse arsenal seja adotado em favor de seu trabalho, da alta qualidade e da prestação de serviços à sociedade, sem afastar o cumprimento dos princípios éticos e a vivência dos profissionais na verificação das demonstrações contábeis. 


Valdir Coscodai é presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon) 

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