Pesquisar
Close this search box.
Virando a página
Pelo jeito, ainda não é desta vez que o Brasil vai entregar o prometido espetáculo do crescimento. Para o mercado, é hora de olhar 2007

 

Faltam ainda três meses para alcançar, se não todos, pelo menos parte dos números que foram projetados para o Brasil no final de 2005. Por enquanto, sabemos apenas que o desempenho econômico deixou muito a desejar. No início de setembro, o Banco Central anunciou que a previsão do mercado para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2006 sofrera o quarto reajuste do ano, caindo de 3,6% para os atuais 3,2%. Duas semanas depois, foi a vez de o relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmar que o País irá registrar a menor taxa de crescimento entre seus pares na América Latina.

Numa análise global, o Brasil até bate recordes nas exportações, exibe uma inflação abaixo da meta e um risco-país perto dos 200 pontos. Mas basta avaliar com calma esses resultados para enxergar que as vendas externas, na verdade, vêm se mantendo por conta da elevação do preço das commodities no ambiente internacional — que deu sinais de recuo apenas nas últimas semanas. A inflação é controlada sob o cajado da taxa de juros que, apesar da vertiginosa queda de 19,75% para patamares próximos de 14%, ainda continua a maior do mundo. Por fim, a melhor avaliação frente às agências de risco faz parte de um cenário mundial compartilhado pelos demais países emergentes que fazem par com o Brasil. Em resumo, o tão sonhado grau de investimento ainda está longe.

A esse quadro, o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, acrescenta a crise política deflagrada pelos escândalos do mensalão que, confirmada a hipótese da reeleição, pode enfraquecer a governabilidade da administração federal. “Como conseqüência, reformas estruturais imprescindíveis como, por exemplo, a da Previdência e a tributária, dificilmente conseguirão sair do papel, pois precisam de força para tramitar no Congresso”, explica. No ambiente externo, segundo ele, é esperada a redução do crescimento global em função do aperto monetário, principalmente, dos Estados Unidos. “No entanto, acredito que ainda haverá liquidez, mesmo em cifras menores, o que irá beneficiar os países emergentes”, acrescenta Agostini.

Se o fluxo de capitais é apontado como o grande alívio para a economia brasileira em 2007, cabe lembrar que nem todos os setores serão beneficiados da mesma maneira. A convite da Capital Aberto, seis analistas do mercado se dispuseram a traçar as perspectivas em diversos mercados para o ano que vem e comentar o que mais os surpreendeu nos meses passados.

A elevação do preço do petróleo, por exemplo, não era esperada por Gilberto Pereira de Souza, analista do Banco Espírito Santo. Segundo ele, houve uma pressão muito forte na demanda, e a oferta não cresceu na mesma velocidade. “No meio do caminho, ainda tivemos a guerra do Irã, que impactou ainda mais o valor do barril”, explica. Para 2007, a cotação ainda estará bastante atrelada aos efeitos de um eventual novo conflito. E mesmo num cenário sem atritos internacionais, é previsto que os preços se mantenham elevados acompanhando os custos da extração e refino, que permanecem altos.

Para a Petrobras, a alta do petróleo é o melhor dos mundos. Porém, as ações tendem a sofrer alguma oscilação, sobretudo porque o mercado esperava uma produção maior que a divulgada pela companhia após a estréia das novas plataformas. “Isso significa que os números previstos para 2007 também podem não se concretizar”, diz Souza. Ainda assim, o analista acredita que a ação está barata, logo, com espaço para crescer. No setor petroquímico, o ano só não foi pior por conta da elevação do preço internacional desses produtos no segundo semestre. Daqui em diante, Souza enxerga o setor com mais otimismo. “Pelo menos, devem começar um 2007 numa condição um pouco melhor.”

DESTAQUE INTERNACIONAL — E quem disse que as indústrias de siderurgia e mineração se sairiam bem em 2006 acertou. Fábio Zagatti, do HSBC, conta que as boas notícias para a mineração começaram logo no início do ano, com o anúncio de um reajuste dos preços pela Vale do Rio Doce acima do esperado. A CSN também surpreendeu positivamente com um plano de aumentar em 150% a capacidade anual de produção de aço e fazer investimentos significativos em minério de ferro. “Esse anúncio não estava no preço”, explica o analista. Já a Usiminas e a Gerdau, além da boa performance internacional, também aproveitaram as vendas decorrentes do aquecimento do consumo interno.

Os investidores desse setor precisam ficar de olho na China, que segue em ritmo acelerado na produção local de minério de ferro. É sabido que a matériaprima daquele país não tem a mesma qualidade que a brasileira. Mas, segundo Zagatti, essa situação pode se inverter, pois já existe uma tecnologia própria para o enriquecimento do produto. A China hoje tem um potencial de produção tão impressionante que, em um único ano, poderia criar uma Vale do Rio Doce no país. Numa eventual exportação da matéria-prima, as companhias brasileiras certamente perderiam seu poder de barganha sobre os preços. Perguntado se tal cenário pode ocorrer ainda em 2007, o analista responde: “É difícil precisar, porque as coisas acontecem de um modo muito rápido na China”.

Outro segmento que aproveitou a valorização das commodities no cenário externo é o de papel e celulose. Em 2005, os analistas acreditavam que a oferta iria superar a demanda causando uma redução no preço da celulose. Porém, as indústrias que tinham a intenção de aumentar suas capacidades adiaram os planos de expansão. “Ninguém imaginava que, em vez de crescer, a produção iria diminuir”, afirma Juliana Chu, analista do Banco Espírito Santo. Entre os destaques deste ano, ela aponta a Aracruz e a Suzano, que ganharam com as exportações. “Na bolsa, ambas andaram 23%, contra um Ibovespa de 8%”, exemplifica. Para 2007, as projeções são favoráveis, pelo menos, até o final do ano, quando deverá acontecer a expansão da oferta prevista para 2006. No segmento de papel, o cenário tende a ficar estável.

MERCADOS NACIONAIS — A área de infra-estrutura voltada para o mercado interno refletiu o comportamento econômico do País: cresceu, mas frustrou quem esperava mais. “O setor energético voltou a apresentar um certo equilíbrio depois da capacidade ociosa”, informa João Ribeiro, analista da Link Corretora. Segundo ele, empresas como a Energias do Brasil e a CPFL, que negociaram no mercado livre, obtiveram resultados melhores. Já a Cemig merece um olhar especial por conta do potencial de realizar aquisições no setor. Conclusão: a energia é uma área bastante interessante para investimentos, pois é menos vulnerável às questões externas e conta com um marco regulatório já aprovado pelo mercado.

Ainda na lista dos que estão à espera de mais demanda em virtude do aumento da renda do brasileiro, vêm os setores de telecomunicações, varejo e bancos. Esse último continua indicado por analistas como boa opção para se ter em carteira, pois, apesar de suas ações já estarem bem precificadas, são esperadas mais altas com novos anúncios de lucros, expansão do crédito e redução da inadimplência.

No varejo, Fabio Anderaus, da Geração Futuro, acredita que o cenário esperado para 2006, assim como já tinha acontecido em 2005, ficou adiado para o ano que vem. Mas assim que a última folha do calendário virar, será possível falar dos bons retornos previstos, por exemplo, para as Lojas Renner e a Guararapes, por conta da expansão que ambas vêm promovendo em suas redes. O Submarino também segue a mesma expectativa de crescimento e, segundo o analista, ainda tem espaço para aumentar as vendas. Já o Pão de Açúcar e as Lojas Americanas estariam numa situação menos favorável devido à forte concorrência com redes de menor porte, logo, com custo reduzido. Quem também enfrenta problemas com o estreitamento das margens é a Ambev que sofre, principalmente, com uma alta carga tributária e um gasto elevado com marketing e logística, afirma o analista.

RUÍDOS NA COMUNICAÇÃO — Por fim, chegamos ao setor que desperta as maiores dúvidas entre os analistas. Ninguém sabe exatamente o que pode acontecer com as telecomunicações do País. “As empresas aguardam pela nova regulamentação, já que as leis atuais foram criadas num ambiente que nada se assemelha ao mercado de hoje”, avalia Daniel Gorayeb, analista da Spinelli.

Com a chegada da tecnologia digital, a telefonia fixa quer entrar no segmento de TV por assinatura. A NET, por sua vez, luta para não ver o seu nicho ameaçado pela potencial concorrência. Já a Telemar promoveu uma reestruturação societária que desagradou inúmeros investidores. Na TIM, há uma expectativa de venda das atividades de telefonia móvel pela controladora ainda não confirmada. Sem contar a briga das operadoras para a exploração dos serviços de internet sem fio no Brasil.

Para o economista Istvan Kasznar, da FGV-RJ, a resposta do mercado — diante de desafios nacionais e externos — foi agir com prudência. Ele se refere ao fato de a bolsa ainda não ter batido os tais 40 mil pontos projetados para 2006. “É lógico que gostaríamos de ter ido mais longe”, diz. “É como querer ganhar a Copa do Mundo com a seleção jogando daquele jeito. Essas conquistas só virão numa economia com fundamentos sólidos”, sentencia. O espetáculo do crescimento, por enquanto, ainda não passou de um ensaio.


Para continuar lendo, cadastre-se!
E ganhe acesso gratuito
a 3 conteúdos mensalmente.


Ou assine a partir de R$ 34,40/mês!
Você terá acesso permanente
e ilimitado ao portal, além de descontos
especiais em cursos e webinars.


Você está lendo {{count_online}} de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês

Você atingiu o limite de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês.

Faça agora uma assinatura e tenha acesso ao melhor conteúdo sobre mercado de capitais


Ja é assinante? Clique aqui

mais
conteúdos

APROVEITE!

Adquira a Assinatura Superior por apenas R$ 0,90 no primeiro mês e tenha acesso ilimitado aos conteúdos no portal e no App.

Use o cupom 90centavos no carrinho.

A partir do 2º mês a parcela será de R$ 48,00.
Você pode cancelar a sua assinatura a qualquer momento.