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No embalo dos juros
Redução da Selic aguça a criatividade dos gestores e promete novidades nos cardápios dos fundos

 

ed38_p020-022_pag_3_img_001Há cerca de um ano, o Banco Central deu início ao tão esperado processo de redução das taxas de juros no Brasil. Em setembro de 2005, a Selic saía dos 19,75% ao ano para seguir ladeira abaixo até o patamar atual de 14,25%, com projeção de chegar a 13,75% no final de 2006. O movimento — esperado há algum tempo, mas sempre com certo ceticismo — acionou um sinal de alerta entre os gestores de produtos financeiros. Diante do menor apelo dos populares fundos DI, é hora de ter na prateleira produtos adaptados aos novos anseios do investidor, que tende a abrir espaço em suas poupanças para uma pitada a mais de risco. Das onze instituições ouvidas pela Capital Aberto, entre administradoras de recursos independentes e ligadas a bancos, dez lançaram recentemente — ou estão prestes a criar — novas opções de investimentos à espera desse público.

Algumas preferiram reciclar produtos já existentes e outras optaram por versões totalmente novas. Entre essas últimas está a Neo Investimentos, que planeja o Mezanino, um fundo que mistura dívida e capital. A proposta é investir em debêntures conversíveis de empresas não listadas na bolsa e, quando a troca for realizada, usufruir dos dividendos distribuídos ou do ganho obtido com as ações em uma eventual oferta pública secundária. “Se a empresa não tiver uma performance esperada, os investidores têm uma boa perspectiva de recuperar o capital acrescido do juros”, explica Augusto Lange, gestor da Neo.

O Mezanino deve ser lançado no ano que vem. Para isso, a asset vem reforçando seu time de analistas. Nos últimos seis meses, três novas pessoas foram contratadas para prospectar companhias de médio porte com bom potencial de crescimento e interesse em emitir debêntures. “É um FIP como outro qualquer, mas com a característica de ter renda fixa e variável”, afirma. Outra iniciativa é focar alguns ativos internacionais. “Esperamos que o arcabouço legal brasileiro nos permita essa iniciativa”, completa Lange.

A aposta da Franklin Templeton na indústria de fundos também não é pequena. A gestora, que se separou do Bradesco recentemente, planeja começar, até o final do ano, a operar fundos de investimentos abertos, voltados tanto para investidores institucionais como para o varejo — este último por meio de bancos que aceitem distribuir esses produtos. “Acreditamos que, cada vez mais, os bancos vão abrir mão de plataformas próprias com o objetivo de oferecer mais variedade”, afirma Heitor de Souza Lima, diretor da asset. Em 2007, a Templeton pretende entrar, também, no universo dos multimercados.

Já Robert van Dijk, diretor-superintendente do Bradesco Asset Management (BRAM), pretende ampliar sua família de produtos para investidores qualificados direcionando parte dos recursos dos seus próprios fundos para carteiras de terceiros. “Queremos que nossos gestores tenham mais flexibilidade para buscar uma performance diferenciada”, explica. As novidades incluem ainda uma estrutura exclusiva para a gestão dos multimercados. “Antes esse segmento ficava subordinado à diretoria de renda variável. Agora deslocamos parte das pessoas que trabalhavam na renda fixa para uma equipe com dedicação exclusiva a esses ativos”, esclarece o diretor.

PESSOA FÍSICA VEM AÍ — Por enquanto, estamos falando de carteiras que focam, principalmente, o investidor institucional ou de alta renda. Mas a pessoa física menos afortunada, que nunca aplicou em fundos de ações, também aparece como alvo de alguns gestores. É esse o caso de Pedro Bastos, responsável pela área de renda variável no Unibanco Asset Management. No início deste ano, ele disponibilizou ao varejo dois modelos de carteiras que antes só eram oferecidos aos clientes do segmento private.

Um deles é o fundo setorial de ações com papéis de companhias que venham a se beneficiar do aumento do crédito — bancos, seguradoras, prestadoras de serviço no segmento de cartão de crédito e empresas do ramo imobiliário. Já o segundo é uma carteira só com ações que pagam dividendos. “Esse fundo atende exatamente às necessidades de quem está deixando o mundo do DI. Por se tratar de boas pagadoras de dividendos, nos momentos em que o mercado vai mal, elas tendem a cair menos”, acredita Bastos. Segundo ele, isso garantiria uma certa “proteção psicológica” para quem ainda estranha os cenários de grande volatilidade na bolsa.

Poupar os investidores de primeira viagem de quedas bruscas no pregão também é a estratégia da Máxima Asset Management. Lá, eles decidiram reestruturar o Máxima High Yield colocan do uma trava de perda até o limite do capital nominal investido. Assim, evitam que o cotista se depare com um saldo inferior ao valor aplicado no início do plano. “Sabemos que esse público é mais conservador”, lembra o diretor da Máxima, Saul Sabbá.

Fica claro que a migração do fundo DI para produtos com maior risco só alcançará o êxito almejado se houver um trabalho de conscientização do investidor. É preciso convencê-lo de que, confirmada a tendência de redução da Selic, ele entrará numa outra realidade. Para o diretor de gestão de recursos do Banco Espírito Santo, Marco Aurélio Grillo de Brito, o maior desafio será ensinar o cotista a enxergar as vantagens de um investimento que visa o médio e longo prazo. “A gente tem um problema sério que é o do investidor acostumado com uma liquidez diária”, lembra. Segundo ele, sem essa mudança de paradigma, fica difícil montar uma carteira com oportunidades diferenciadas, avessas aos saques a qualquer tempo.

No HSBC Investment, o executivo-sênior Leonardo Calixto fez questão de lançar o FI Multimercado Smart ao lado de uma campanha repleta de material explicativo com gráficos, folders de perguntas e respostas, tudo para enfatizar por que o fundo exige um prazo de 14 meses para o resgate. “Aos poucos, o investidor vai entendendo que isso é para o bem dele”, avalia Calixto. Em contrapartida, seu produto oferece a esse público uma rentabilidade fixa de 22% nesses 14 meses se, em pelo menos um dia desse período, o fundo render, no mínimo, 35% mais que o Ibovespa. Ou seja: se a carteira valorizar apenas 34,9% mais do que o índice, os cotistas levam o retorno acumulado no período. Mas, se bater os 35%, eles têm 22% garantido.

COQUELUCHE DO MERCADO — Entre as iniciativas dos bancos e administradoras independentes que contam com uma educação financeira focada no médio e longo prazo, a mais citada é, sem dúvida, a criação de fundos de dívidas do setor privado. Dos 11 entrevistados, cinco contaram que está previsto o lançamento de uma carteira com esse perfil ou que pensam seriamente em adotá-la. Na Polo Capital, essa estratégia foi a melhor solução para inovar o mix de produtos sem comprometer a sua estrutura operacional, que ainda não comporta um novo fundo de ações.

No início deste ano, o Polo Capital Privado abriu para captação uma carteira que já conta com doze ativos privados diferentes, a maioria debêntures. “Com a queda do juro nominal, vai chegar um momento em que fará mais sentido para as companhias ampliar os seus negócios emitindo dívida do que aumentando o capital”, raciocina o gestor Marcos Duarte. Ele acredita que a proliferação dos instrumentos de dívida privada (FIDCs, CRIs, debêntures etc.) vai trazer mais liquidez a esses mercados e facilitar o trabalho dos gestores.

William Trosman, da Mauá Investimentos, lembra que a migração de investidores dos fundos DI não ficará restrita aos novos produtos criados pelas gestoras. “Também vai acontecer muita realocação dos recursos para fundos que já existem”, prevê o gestor. Sua administradora acaba de lançar um novo fundo multimercado, o Mauá Top, cujas posições serão direcionadas a oportunidades mais precisas e diferenciadas.

Para Roberto Apelfeld, chefe das operações da Western Asset, a subsidiária da Legg Mason no Brasil, apesar das movimentações dos gestores, os fundos de risco só vão emplacar mesmo quando o Brasil experimentar uma convivência mais estável com juros menores. “Não é a primeira vez que a gente vê essas taxas caindo. Elas podem voltar a subir se houver uma crise. Não somos diferentes de outros mercados emergentes”, pondera. Para quem vem esperando esse grande acontecimento há quatro anos, como Edvaldo Morata, diretor-executivo do Santander Asset Management, resta cruzar os dedos e torcer: “É difícil prever se a tendência de queda, desta vez, será interrompida. Mas é certo que devemos estar preparados.”

Segundo o boletim da Associação Nacional de Bancos de Investimento (Anbid) referente ao mês de agosto, cerca de 20% do dinheiro aplicado em fundos no Brasil estão referenciados diretamente ao CDI, e outros 40% estão alocados em renda fixa. As carteiras de ações (7,01%) e as de multimercados (19,15%) ainda seguem atrás das categorias de investimentos consideradas mais conservadoras. Contudo, o mesmo documento revela que, nesse período, a fatia dos multimercados foi a que apresentou a maior captação líquida do mês, com R$ 1,02 bilhão, contra R$ 0,01 bilhão da renda fixa. Pode ser pouco, mas já é uma luz no fim do túnel.


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