Setembro de 2001. A Bovespa vivia um intenso combate para isentar as operações de bolsa da famigerada Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), que travava e encarecia fazer negócios no Brasil.
Um dos objetivos era conquistar a opinião pública e, assim, influenciar o posicionamento dos políticos no Congresso Nacional em favor de sua causa. Surgiu então a ideia de fazer uma greve na Bolsa, evento de repercussão garantida na imprensa. O comandante do processo era o presidente da instituição, Raymundo Magliano Filho. Sabiamente, ele resolveu consultar quem entendia de greves: Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical. Ele o convenceu a fazer uma paralisação simbólica de apenas uma hora, que teria o mesmo efeito midiático de uma ação maior, e prometeu todo o apoio de sua central à manifestação. No dia 4 pela manhã, a porta da Bovespa, na Rua XV de Novembro, centro velho de São Paulo, presenciou uma agitada assembleia de operadores e dirigentes — com direito a carro de som da Força Sindical e discursos inflamados dos participantes. Ficou decidida a paralisação para dois dias depois, entre meio-dia e 13 horas.
No momento aprazado, havia cerca de 1.300 pessoas na sala do pregão da Bolsa. Magliano e Paulinho adentraram o recinto portando uma bandeira do Brasil e, imediatamente, os presentes começaram a cantar o Hino Nacional. Foi um acontecimento eclético. Além do presidente da Bovespa e do diretor da Força, estavam presentes e fizeram pronunciamentos enfáticos representantes de outras facções sindicais. Foram os casos do deputado petista Ricardo Berzoini, então na oposição, e de líderes empresariais como Horácio Lafer Piva e Abram Szajman, presidentes, respectivamente, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e da Federação do Comércio de São Paulo (Fecomercio-SP).
Ao meio-dia em ponto, desligaram-se as máquinas de negociação eletrônica e silenciou-se o ainda existente pregão a viva voz. A cobertura na mídia, nacional e internacional, foi extraordinária. No dia seguinte, feriado de 7 de setembro, a notícia estava na primeira página de todos os jornais; as redes de televisão aberta dedicaram 1 hora, 52 minutos e 16 segundos àquele acontecimento.
Nove meses depois, como numa gestação, o Congresso promulgou solenemente a Emenda Constitucional número 37, que isentava as operações em bolsa do ônus da CPMF. Era 12 de junho de 2002, e os ventos políticos haviam mudado. O mercado ganhara uma batalha fundamental.
Montagem com fotos do site Wikimedia Commons.
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