Arqui-inimigo do Superman, Lex Luthor, personagem “do mal” criado ainda nos anos 1940, tinha como obsessão dominar o mundo. Nos quadrinhos e nos filmes, evidentemente, o bilionário megalomaníaco sempre encontrava no super-herói uma barreira intransponível para a concretização de seus planos. Essa analogia com a cultura pop hoje pode ajudar a descrever a situação do Facebook, mas com várias figuras no lugar de um único oponente: reguladores, ex-funcionários que denunciam políticas internas nada ortodoxas ou éticas e, no limite, investidores. A história da empresa de Mark Zuckerberg tem até trapalhadas e falta de sorte, motivos por trás do blecaute simultâneo de Facebook, Instagram e Whatsapp, que no início da semana passada deixou usuários no escuro por cerca de oito horas.
As recentes notícias envolvendo o grupo levantaram — ou intensificaram —, no mundo todo, duas discussões principais. A primeira trata da pertinência de um reforço na regulação das atividades de empresas que, como o Facebook e seus tentáculos, têm tanta penetração e relevância para a vida cotidiana de indivíduos e empresas globalmente. A segunda implica os investidores, jogando luz sobre seu papel de financiadores dessas atividades. Nesse caso específico, cresce a importância de reflexões sobre a sustentabilidade de negócios nos quais aportam seus recursos.
O ponto da regulação de empresas como o Facebook constantemente volta ao noticiário. Na semana passada, a novela ganhou novos capítulos com os documentos internos apresentados por Frances Haugen, ex-funcionária da rede. Falando ao programa 60 Minutes e ao Congresso, ela mostrou como a companhia reiteradamente coloca seu objetivo de lucrar cada vez mais (e com poucos escrúpulos) acima das externalidades do negócio — indo na contramão do que pregam as contemporâneas demandas por ações que levem em conta também os interesses do entorno (clientes, colaboradores, fornecedores e sociedade como um todo). Os procedimentos questionáveis vão desde manipulação proposital de dados até desdém pelos efeitos do formato dos serviços do grupo sobre a saúde mental dos mais jovens. Ela inclusive acusou o Facebook de descasamento entre atividades reportadas aos investidores e práticas internas reais.
Como observou o colunista da Bloomberg Matt Levine, nem todas as coisas horríveis que o Facebook faz são ilegais. Mas talvez seja necessário criar leis para criminalizar essas ações deletérias.
Cabe aos investidores, na outra ponta, analisar se vale a pena continuar financiando um negócio que, embora lucrativo, vive se equilibrando numa corda bamba. É mais do que pensar nos aspectos ESG: trata-se da própria sustentabilidade dessas carteiras. Afinal, dar as costas para as atitudes do Facebook hoje pode significar ficar sem dividendos mais adiante — e, talvez, num futuro bem próximo.
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