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Investidores veem desinformação como risco sistêmico
Fake news desequilibram setores e portfólios e chegam a ser propagadas pelas próprias empresas
Investidores já veem desinformação como risco sistêmico
Companhias líderes de seus mercados, como a Unilever e a P&G, por exemplo, chegaram a se comprometer publicamente a interromper a promoção de seus produtos em canais que divulguem conteúdos duvidosos | Imagem: freepik

Com seu caráter de salvação global diante da pandemia, as vacinas contra a covid-19 geralmente são vistas pelas sociedades como bens públicos, até pelo fato de serem distribuídas gratuitamente pelos governos. Muitos se esquecem, no entanto, de que se trata de fármacos em grande parte produzidos por empresas privadas — indústrias que investiram montanhas de dólares no desenvolvimento de projetos e na promoção de pesquisas científicas ao longo de muitos anos. Pfizer e Moderna, por exemplo, são listadas em bolsa de valores, o que significa que precisam prestar contas de suas atividades e de seus números para o mercado. Imagine-se, portanto, que tipo de efeito a disseminação de notícias falsas ou manipuladas sobre as vacinas na terra quase sem lei das redes sociais e dos aplicativos de mensagens tem sobre os negócios dessas empresas. Mas o setor farmacêutico está longe de ser o único exposto aos malefícios das fake news. A extensão desse problema é tão grande que, na visão de alguns investidores, tem potencial de risco sistêmico. Esse é o argumento que um grupo de acionistas americanos usa para pressionar a Fox e outras companhias de mídia a ratificarem, em assembleia, o propósito corporativo de que irão exercer “um jornalismo íntegro, baseado no entendimento preciso dos eventos atuais” — uma forma de assegurar que, pelo menos as empresas que representam o quarto poder, não irão contribuir para a disseminação de notícias falsas. 

Além das farmacêuticas, as empresas de telecomunicações também sofrem com as fake news. Por causa da implementação da tecnologia 5G, muitas se veem às voltas com teorias conspiratórias que põem em xeque seus negócios e que, sem reação apropriada, podem representar riscos financeiros e de reputação para essas companhias. 

O fenômeno da disseminação de informações falsas, por sinal, sempre foi um desafio para o setor bancário — e muito antes da era da internet. Não foram raros os casos em que bastou alguém soprar um boato sobre a saúde financeira de um banco para logo os correntistas fazerem fila na porta para pedir saques dos valores que têm depositados. Isso acontece há séculos e se repetiu recentemente: em 2019, o britânico Metro Bank teve que acalmar os agitados clientes que procuraram as agências depois de terem recebido informações dando conta de supostas dificuldades financeiras da instituição.  

Em particular no segmento dos bancos, mas também de forma geral entre outros setores, confiança pode ser o principal ativo das empresas. Nesse cenário, ficar parado diante de uma notícia falsa com potencial de prejudicar a credibilidade da organização não parece ser uma estratégia muito construtiva. Por isso, grandes empresas já têm adotado práticas para combater as fake news. Companhias líderes de seus mercados, como a Unilever e a P&G, por exemplo, chegaram a se comprometer publicamente a interromper a promoção de seus produtos em canais que divulguem conteúdos duvidosos — seria uma forma de cortar o financiamento a essas mídias que servem de plataforma para desinformação. 



Empresas suspeitas 

Em contrapartida, também tem sido registrada uma dinâmica inversa: há casos em que as próprias empresas são acusadas de propagar informações erradas, fantasiosas, manipuladas ou omissas. Neste mês de setembro, representantes democratas no Congresso americano, no âmbito de uma investigação sobre o envolvimento da indústria de combustíveis fósseis na divulgação de informações falsas em torno do efeito dessas atividades sobre as mudanças climáticas, decidiram convocar para depoimento altos executivos da ExxonMobil, da BP, da Chevron e da Shell, além dos lobistas American Petroleum Institute e US Chamber of Commerce. Os congressistas querem destrinchar uma espécie de campanha de longo prazo que essa indústria estaria promovendo para se desvincular da culpa pelo aquecimento global e para desacreditar as políticas públicas e as recomendações dos cientistas voltadas para o clima. Algo parecido com o que os negacionistas (por vezes sentados em cargos eletivos) fazem em relação às campanhas de vacinação. 

De acordo com levantamento da organização de defesa do clima Influence Map mencionado pelos congressistas, as cinco maiores empresas de óleo e gás listadas no mercado americano — Exxon, Shell, Chevron, BP e Total — destinaram, entre 2015 e 2018, cerca de 1 bilhão de dólares para promoção de desinformação e para lobbies relacionados às mudanças climáticas. A desconfiança, inclusive, é de que as companhias tenham agido de maneira coordenada. 

E a questão não está circunscrita às preocupações de representantes do Legislativo. Um trabalho de 2017 feito pelo PRI (Principles for Responsible Investment) detalhou um risco macro que envolve o chamado “universal ownership”. A ideia por trás desse conceito é simples: os grandes investidores institucionais (megagestoras de recursos e fundos de pensão, por exemplo), dada a enorme diversificação (entre ativos, mercados e regiões) de seus portfólios, têm particular interesse na manutenção de uma certa estabilidade global. Eles precisam, para garantir bons retornos para seus investidores, de manejo adequado da crise climática e de atenção especial à questão da desigualdade social. 

Ocorre que esse frágil equilíbrio pode ser rapidamente destroçado pelas fake news. A boa notícia é que, na qualidade de grandes detentores de ativos mundo afora, os universal owners podem, se quiserem e se organizarem para isso, agir para combater a ameaça que a desinformação representa. A guerra contra o risco sistêmico representado pelas notícias falsas, afinal, tem do outro lado um exército que despreza a ideia de perenidade da civilização, tendo, por isso, muito pouco a perder. 

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