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Receitas animadoras, lucros nem tanto 
Com o crescimento do PIB e da inflação, empresas conseguiram repassar os custos; o juro alto, porém, não deu trégua
Evandro Buccini
Evandro Buccini, é sócio e diretor de Renda Fixa e Multimercado da Rio Bravo Investimentos | Ilustração: Julia Padula

As empresas listadas na B3 divulgaram seus resultados do segundo trimestre deste ano nas últimas semanas. As surpresas positivas se concentraram especialmente na receita, devido ao repasse da inflação alta. O trimestre teve preços de commodities em patamar elevado, crescimento do PIB acima do esperado e a taxa Selic subindo e afetando as despesas financeiras. Com essa combinação, a maior parte das empresas apresentou lucro líquido abaixo do esperado e, em média, consideravelmente menor do que o mesmo período de 2021. 


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No Brasil, a taxa de juros média passou de 3,5% no segundo trimestre de 2021 para 12,6% no mesmo período de 2022. A subida foi uma resposta à elevação da inflação, que chegou a 11,8% no acumulado de 12 meses. A taxa de câmbio depreciou 11% em relação ao primeiro trimestre de 2022 e 5% em relação ao ano anterior. O crescimento do PIB foi de 1,2% na comparação trimestral e 3,2% na anual, sempre em termos reais. Os destaques positivos foram para as utilidades públicas, construção civil, transporte. As maiores contrações foram da indústria extrativa e da agropecuária. Lembrando que o PIB tenta excluir variações de preço do cálculo, olhando só a variação de quantidade. 


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Com o crescimento do PIB ainda impulsionado pela recuperação pós-Covid e com o aumento dos benefícios sociais e a inflação em dois dígitos, as empresas conseguiram repassar os custos. Considerando as empresas do índice Ibovespa, exceto Vale, Petrobras e as do setor financeiro, a receita líquida cresceu 19% em relação ao segundo trimestre de 2021 — e 56% delas superaram as expectativas dos analistas nesse quesito. O Ebitda permaneceu em patamar semelhante, considerando a mesma comparação. A margem Ebitda caiu de 21,8% para 19%. Já o lucro líquido caiu 42%, em um ano com redução da margem líquida de 13,3% para 6,5%.  

Mais de 54% das empresas decepcionaram as previsões dos analistas. A principal razão para a discrepância entre a receita e o lucro líquido é a piora dos resultados financeiros causada por uma elevação sem precedentes nas últimas décadas da taxa Selic — 900bp em 12 meses. A dívida das empresas tem três principais indexadores: 1) o principal, que representa a maior parte da dívida, é o CDI, que sofreu esse aumento diretamente; 2) o IPCA, outro importante indexador da dívida em reais das empresas, que apresentou a maior variação em décadas; 3) a dívida externa atrelada ao dólar, que teve um incremento de 5% na comparação anual e de 11% na comparação trimestral devido à desvalorização do real. O maior risco da dívida externa, no momento, é o do refinanciamento, já que o aumento das taxas de juros globais piorou consideravelmente as condições para novas operações de crédito. Estendendo a amostra para 162 empresas, encontramos um aumento de 11,6% na dívida bruta e de 8,7% na dívida líquida. A razão entre o endividamento líquido e o Ebitda caiu de 1,19 para 1,09. 

Entre os principais setores, vale destacar o de bens industriais. Registrou crescimento de receita de 33%, mas teve redução da margem líquida de 20% para 10% negativos devido à deterioração do resultado financeiro, que passou de um ganho de 2,3 bilhões de reais para uma perda de 6,8 bilhões de reais. A razão dívida líquida e Ebitda passou de 3 vezes para 3,6. Já o setor de consumo cíclico teve crescimento de receita de 18% e queda de margem líquida de 5,5% para 2,7%. O resultado financeiro piorou de um prejuízo de 1,3 bilhão de reais para perdas de 3,67 bilhões de reais. Por último, as utilidades públicas tiveram crescimento de 32,9% nas receitas e, em linha com os outros setores, redução de margem de 17,5% para 13,5%, dentro do padrão histórico recente. 

Voltando ao Ibovespa, considerando uma composição das expectativas de lucro futuro e já realizado, ambos de 12 meses, a relação preço e lucro está próxima a 6,5 — um dos menores números registrados nos últimos dez anos, consideravelmente abaixo da média. 

As empresas listadas na B3 são as maiores empresas do Brasil, líderes em seus setores de atuação. Conseguem ganhar market share em ambientes desafiadores, pois repassam a inflação com mais facilidade, e estão aptas a captar dívida com taxas de juros muito menores no mercado de capitais. Mesmo nessa bolha, as empresas viram seu lucro líquido contrair consideravelmente com o aumento das despesas financeiras.  

Essa realidade, contudo, não atrapalhou a performance das ações na bolsa. Os investidores deram mais peso ao bom desempenho operacional das empresas e parecem apostar que a lei da gravidade se aplica também à taxa de juros. Tudo que sobe, desce. 

*Evandro Buccini é sócio e diretor de Renda Fixa e Multimercado da Rio Bravo. O autor agradece Luca Mercadante e Francesco Pasino pela compilação dos dados utilizados neste artigo. 
  

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