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O risco de a trinca virar rachadura 
Pilar social ainda é a dimensão “esquecida” no ESG 
Ana Siqueira

Ana Siqueira é sócia fundadora da Artha Educação | Ilustração: Julia Padula

As dimensões ambiental, social e de governança (ESG) são indissociáveis nas organizações, sendo a governança o pilar central. Questões ambientais e sociais são comumente classificadas como “não financeiras”, mas precisam ser compreendidas como aspectos “pré-financeiros”, já que têm força para impactar os resultados e a avaliação da empresa. Isso sem falar em reputação: se ela for abalada, os efeitos deletérios são ainda mais abrangentes. 

Este texto abordará o pilar social, que hoje apresenta visíveis trincas — que, se não forem devidamente cuidadas, correm um sério risco de se transformarem em rachaduras, colocando toda a estrutura sob a ameaça de colapso. Na engenharia, dentre as principais funções dos pilares está a contribuição para a estabilidade global da estrutura. No contexto ESG, o pilar social representa o capital humano, absolutamente fundamental para conferir competitividade para empresas e países. Adicionalmente, engloba pontos morais e éticos e até a necessidade de cumprimento da Constituição. 

Capital humano 

As questões sociais influenciam as empresas de diferentes formas e intensidades, dependendo de nível de desenvolvimento, arcabouço regulatório, aspectos culturais, setores, regiões e países. Tendências demográficas e potenciais efeitos oriundos de automação, inteligência artificial, mudanças de hábitos (trabalho, lazer e educação) e direitos individuais precisam ser muito bem compreendidos, para a análise de sua materialidade e endereçamento de potenciais impactos sobre stakeholders internos e externos. 

Começando pelos stakeholders internos: a boa gestão do capital humano de uma companhia é fundamental para o fomento de uma cultura colaborativa, para a facilitação do desenvolvimento pessoal e profissional e para o aumento da competitividade. Direitos trabalhistas e humanos, saúde e segurança ganham crescente relevância. O tema saúde mental, até há bem pouco tempo um tabu, conquista a cada dia mais espaço nas agendas corporativas. 

 Stakeholders externos 

Quanto aos stakeholders externos, podem ser destacadas a relação com comunidades locais e as práticas de atuação junto a fornecedores e de proteção ao consumidor. Muita atenção deve ser dispensada a eventuais violações de direitos humanos nas cadeias de suprimentos. Particularmente em relação às comunidades, questões como acesso a educação, saúde, infraestrutura e segurança são bastante importantes.  

Atividades filantrópicas, de cunho assistencialista, por sua vez, são absolutamente necessárias em momentos de crise aguda, como o atual. Líderes empresariais e da sociedade civil têm demonstrado espírito de solidariedade e capacidade de engajamento, articulação e ação no combate à covid-19 e na mitigação de impactos para famílias vulneráveis. No entanto, é importante ressaltar que parte desses recursos foi redirecionada de ações sociais estratégicas que visam transformar realidades ao reduzir desigualdades e ampliar oportunidades. Foi uma perda, bem num momento tão dramático para o País. Há, ainda, o desafio de sobrevivência de muitas ongs que acumulam históricos de bons serviços prestados a comunidades locais — muitas tiveram redução expressiva de doações. 

Educação pública e financeira 

Em termos de educação, importante enfatizar duas dimensões: a educação financeira, tão relevante e desconhecida pelas famílias brasileiras, e a educação pública (ensinos fundamental e médio). 

A América Latina é uma das regiões do globo com menor mobilidade social entre gerações, em especial por conta da baixa qualidade da educação pública. A pandemia piorou essa realidade. Alunos enfrentaram um verdadeiro apagão de ensino: foram vítimas da exclusão digital, seja pela falta de acesso a equipamentos, pela indisponibilidade de internet de qualidade e/ou ausência de adulto que acompanhar os estudos. Muitos alunos de escolas públicas perderam o vínculo com a instituição, que não raramente representava um porto seguro. O mais trágico desse contexto é que os estudantes encaram, adicionalmente, o estresse provocado por redução de renda de pais e responsáveis, o aumento da violência doméstica, maior exposição à realidade de suas comunidades e a ausência do convívio com amigos — todos pontos que terão muitos reflexos negativos para suas vidas. Vale sempre lembrar que as crianças e adolescentes de hoje serão os adultos de amanhã, os futuros talentos e clientes das empresas. 

Esse cenário não é um desafio de responsabilidade apenas do Estado: são questões de nação. Por isso é urgente o engajamento da sociedade civil, das empresas e dos investidores para que as rachaduras sejam cobertas enquanto é tempo. A dimensão social exige ação imediata. 


Ana Siqueira, CFA ([email protected]) é sócia fundadora da Artha Educação 


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