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Cercado de patrões
RI ganha trânsito e prestígio nas empresas sem controlador, mas enfrenta uma dose de hora extra para dar conta do recado

No momento em que o mercado de capitais brasileiro começa a ensaiar um modelo de companhia sem controlador, surgem no horizonte novas perspectivas para o profissional que terá a missão de cuidar do relacionamento com os acionistas. Por enquanto, existem oito empresas cujo controle é pulverizado, sem contar as outras que aguardam a vez de colocar a maior parte das suas ações no mercado. É como se, da noite para o dia, o executivo de Relações com Investidores (RI) dessas companhias ganhasse um número expressivo de novos patrões — e, pior, sem a chance de bater na porta do controlador para reclamar.

“Nosso trabalho é muito intenso”, diz José Carlos Hruby, diretor financeiro e de RI da Lojas Renner, empresa que puxou a fila do processo de pulverização de controle. “Na falta do controlador, os investidores sentem a necessidade de olhar mais de perto a gestão, o que aumenta as solicitações à nossa equipe”, afirma. Outra diferença fundamental é a importância, ainda maior quando se é o RI de uma companhia sem controlador, de estar em sintonia com as diretrizes do conselho de administração e da diretoria. Afinal, são eles que teoricamente “mandam” na companhia.

Já uma vantagem do modelo pulverizado, continua Hruby, é o ganho de agilidade na comunicação do RI com a cúpula administrativa. E seria essa agilidade sinônimo de mais prestígio?, perguntamos ao diretor, que respondeu confirmando nossa expectativa. Segundo ele, os grandes investidores já perceberam que na Renner o gerente de RI tem o mesmo status que o diretor da área. Afinal é ele quem viaja com o CEO da companhia na ausência do chefe do departamento.

Numa empresa de controle pulverizado é preciso também entender as várias particularidades da estrutura societária. Poison pills, por exemplo — aqueles mecanismos de defesa contra tomadas de controle ou aquisições de parcelas expressivas do capital em mercado — não costumam estar no vocabulário de companhias cuja maior parte das ações está em poder de um único acionista, mas certamente marcam presença quando não há controlador.

Na Dasa, há uma cláusula no estatuto social que obriga o acionista que adquirir 15% ou mais do capital social a realizar uma oferta pública para levar todas as demais ações, de acordo com um cálculo que inclui o maior valor pago pelos papéis nos 12 meses anteriores. Típica poison pill criada para garantir a dispersão do capital e do controle acionário. Só para formular o tal limite máximo de 15%, Henrique Bastos, diretor de RI da rede de laboratórios, conta que foram necessários vários meses de leituras e consultas para, mais tarde, ser capaz de explicar ao investidor não só o significado da pílula venenosa, como também, as premissas da sua configuração. “O trabalho cresceu, o salário é que não.”

Levar o aumento das horas extras na esportiva também é a estratégia de José Rogerio Luiz, diretor de RI da Totvs. Sobretudo, porque, no seu caso, o desafio é ainda maior: ele acumula o cargo de vice-presidente financeiro. Luiz costuma brincar que sua primeira tarefa foi explicar ao mercado que o nome vem do latim e, portanto, lê-se tótus, com “u” — e não to-ti-vis. E, mantendo o bom humor, ele não dispensa a piada: “Achava que só tinha uma patroa em casa. Agora, todo mundo que me telefona é patrão”.

Questões relacionadas ao mercado investidor tendem a ser muito mais prioritárias numa companhia de controle disperso
Após a pulverização de controle na Perdigão, a procura dos investidores cresceu 68%

Do lado das vantagens, ele observa que as solicitações relacionadas ao mercado investidor tendem a ser muito mais prioritárias numa companhia de controle disperso. “Os diretores executivos e demais membros da gestão reconhecem nossa responsabilidade. O acionista é o dono da empresa e nós o representamos. Não temos o controlador para pegar na nossa mão e dizer o que deve ser feito”, avalia.

MÉTODOS NOVOS — Organizar uma assembléia na vida sem controlador é outro desafio e tanto. A Renner que o diga. Sua primeira experiência com uma assembléia de acionistas não reuniu o quórum mínimo para aprovação das deliberações. Em companhias desse tipo, resta ao RI buscar experiências internacionais, criar incentivos e usar uma boa dose de criatividade para fazer seus acionistas — nada acostumados com voto, assembléia ou empresa sem controlador (pelo menos quando se trata de Brasil) — darem as caras nesses eventos.

E, se a companhia tem controle pulverizado, é porque abriu seu capital ou realizou uma oferta de ações recentemente. Desta forma, aproveitou- se do excesso de liquidez internacional e, muito provavelmente, trouxe uma série de estrangeiros novos para a sua base de investidores. Lidar com todos eles e com os novos padrões de exigência será, portanto, mais uma missão para o profissional de RI.

“Antes, nossos investidores externos se concentravam nos Estados Unidos e na Europa”, conta Edina Biava, gerente de RI da Perdigão. “Agora, atendo gente de Hong Kong, Europa Oriental, América Latina. Ao todo, são 25 países diferentes”, conta Edina, que se desdobra para atender a todas as solicitações com rapidez, a despeito do fuso horário. Minuciosa às estatísticas, a gerente chegou a medir a evolução do número de demandas após a pulverização do controle na Perdigão: a procura dos investidores cresceu 68% desde então. Com mais trabalho, o RI ganha também responsabilidades, importância e bons argumentos para reivindicar um aumento no seu hollerith. Está aí um estímulo para os recém-formados que pensam em seguir a carreira.


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