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No radar dos analistas
Com a recuperação dos investimentos em bolsa, companhias reforçam iniciativas para ganhar exposição e ampliar a cobertura de seus papéis

Os departamentos de análise de bancos e corretoras sofreram uma verdadeira devastação desde 1997, ano que marcou o início da série de crises que abalaram os mercados emergentes. Muitos foram extintos com a saída de bancos estrangeiros que operavam no País. Outros sofreram cortes na carne após passarem por fusões e aquisições. Longe de afetar somente os profissionais da área, essa situação também deixou suas marcas nas companhias com ações de segunda linha, que se depararam com dificuldades ainda maiores para conseguir uma cobertura sistemática de seus papéis pelos analistas de investimentos. Agora, muitas delas arregaçam as mangas para reverter esse quadro.

Para sair do anonimato e entrar no radar dos analistas, o jeito foi partir para a linha de frente e adotar uma postura bem mais ativa que no passado. Se antes o comportamento mais comum em muitas das áreas de relações com investidores era o de esperar sentado até que os interessados batessem às portas, agora a ordem é levantar da cadeira e suar a camisa para se fazer presente. Nesta linha, o primeiro passo é convencer analistas de que a companhia está disposta a ser transparente e adotar boas práticas de governança corporativa e de que tem projetos promissores para a valorização de suas ações. É, portanto, mais do que nunca, reforçar os canais de comunicação e ganhar exposição.

Essa mudança de comportamento foi desencadeada pela melhora do mercado de capitais, dizem os especialistas. A alta das cotações, a expectativa de retomada do crescimento econômico e a relativa estabilidade dos juros em patamares menos severos que os do passado animaram as empresas. Captar recursos por meio da emissão de ações passou a ser uma alternativa considerada viável – ou pelo menos não descartada antes de estudos mais detalhados.

No entanto, a recuperação do mercado ainda não se refletiu de forma expressiva sobre os departamentos de análise como um todo. Ou seja, eles ainda continuam bastantes enxutos – o que demanda, por parte das empresas com ações de segunda linha, maiores esforços para fazer com que os analistas se disponham a ocupar o tempo estudando-as. “Temos notado sinais tímidos de retomada do mercado, mas a situação atual ainda é pior que a do passado, antes da crise asiática”, diz Humberto Casagrande Neto, presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec).

E são eles, os analistas, os elos que propagam informações sobre as empresas para os investidores. “Seria bom se mais analistas acompanhassem nossas ações, já que isso aumentaria o leque de potenciais investidores”, diz Adelmo Felizati, diretor de controladoria e de relações com investidores da Mangels. Esta é uma das companhias que têm adotado iniciativas para ser mais visível. Em março de 2003, aderiu ao Nível 1 da Bovespa e vem promovendo apresentações trimestrais na Apimec.

Atualmente, duas corretoras acompanham o papel – Geração e Lopes Filho. Felizati acredita que, quando o mercado tiver uma percepção mais realista da empresa e conhecê-la melhor, novos departamentos de análise se juntarão aos atuais. Um dos objetivos do trabalho conduzido por ele é mostrar que a companhia – hoje com faturamento em torno de R$ 900 milhões – tem uma atuação mais diversificada do que se supõe. Ela é conhecida como fabricante de rodas, apesar de esse não ser o negócio principal: mais da metade de sua receita vem da divisão de aços relaminados.

Exemplos de empresas que têm sido ativas para conquistar analistas e investidores não faltam. Braskem, Randon e Suzano, que iniciaram esse processo de divulgação para o mercado há mais tempo, se incluem nesse rol e já têm resultados para mostrar.

Desde que a Braskem foi criada, em agosto de 2002, procurou estreitar o contato com analistas e gestores de recursos, diz Luiz Valverde, da área de relações com investidores. Dentre as ações para aumentar a visibilidade da empresa, estão as reuniões trimestrais na Apimec de São Paulo e encontros com investidores e analistas no Rio de Janeiro. “Road shows” locais e internacionais, seminários organizados por grandes bancos e teleconferências com investidores e analistas também estiveram na agenda. “No passado, o esforço para atrair a atenção dos analistas era menor. A competição entre as empresas tem sido grande”, atesta Valverde. A Braskem é hoje acompanhada por quinze instituições locais e internacionais.

O DESAFIO DE SER O BOM “CASE” – Como se pode notar, as iniciativas dessas empresas incluem os analistas, mas não se limitam a eles. Divulgar a empresa para esses profissionais, por si só, pode ser um trabalho infrutífero se os investidores não se interessarem pela ação. “Conquistar analistas não deve ser uma ação isolada. É necessário virar um bom ‘case’ de investimento, pois daí a clientela vai passar a pedir que a área de análise acompanhe a ação”, diz João Pinheiro Nogueira, vice-presidente da Suzano Holding.

Na Suzano Papel e Celulose, a reestruturação da área de relações com investidores e a melhoria da estrutura de governança corporativa foram algumas das iniciativas para ampliar a inserção da companhia no mercado. Outra ação levada a cabo foi a realização de apresentações que não estavam relacionadas a ofertas. Essas apresentações – chamadas de “non-deal road shows” – são uma espécie de prestação de contas e denotam o interesse e a consideração da empresa pelo mercado. A última que a Suzano promoveu foi no início de 2003. Em novembro próximo, deve repetir a dose. Dezesseis analistas atualmente cobrem os papéis da empresa. Agora, o mesmo trabalho está sendo iniciado na Suzano Petroquímica.

A Randon também vem trilhando esse caminho há algum tempo. “Nossa empresa está longe de ser ignorada por analistas locais e internacionais”, assegura Astor Schmidt, diretor de relações com investidores da Randon Participações. Ele está satisfeito com a cobertura dos analistas, mas afirma que essa situação só foi possível graças ao bom histórico de desempenho do grupo e à melhora das práticas de governança corporativa. Eventos na Apimec, “road shows” para investidores e analistas fazem parte da rotina da empresa.


REPRESENTATIVIDADE SETORIAL E TRANSPARÊNCIA – Que as empresas que querem crescer via mercado de capitais estão bem mais atuantes do que no passado, não há dúvidas. Mas será que, nos departamentos de análise, os critérios para acompanhar determinada empresa também mudaram ao longo do tempo?

Eles permanecem fundamentalmente os mesmos, atesta Sergio Goldman, diretor de pesquisa do Unibanco, com mais de 12 anos de experiência em análise de empresas. “Quem define é o cliente”, resume. Como as áreas de pesquisa são prestadoras de serviços, atendem à demanda dos clientes por informações sobre empresas e suas ações. Por clientes entenda-se principalmente os institucionais, que movimentam mais recursos. E, no foco desses investidores, estão as ações mais líquidas. Ou seja, daí vem a dificuldade das empresas que têm papéis de segunda linha para obter cobertura. A área de análise do Unibanco conta hoje com 11 analistas, que acompanham 55 empresas.

Além de buscarem papéis com liquidez elevada, os profissionais que pilotam os departamentos chamados de “research” olham para a representatividade das empresas em seus setores de atuação e, também, para sua disposição em se mostrarem abertas e comprometidas com o mercado de capitais, explica Mônica Araújo, que comanda a área de pesquisa da BES Securities – agora com a cobertura de mais de 50 empresas.

Supondo que a recuperação do mercado de capitais venha para ficar, esse movimento deve gerar um processo de abertura de novas áreas ou mesmo a expansão das existentes, acreditam os profissionais. Neste ano, empresas de setores sem tradição no mercado chegaram à bolsa de valores, como foi o caso de Natura, ALL e Gol. Esta última, inclusive, ressuscitou um setor que estava em extinção no pregão e que praticamente já não era mais acompanhado por analistas, com exceção das ações de Embraer.

Para as que estão chegando ao mercado, os próprios bancos que estruturam as operações dão o empurrão inicial. A cobertura, feita pela corretora que pertence a essas instituições, costuma entrar no pacote de negociação da coordenação da oferta pública. A ALL, por exemplo, que fez a sua oferta pública inicial de ações em junho deste ano, já conta com o acompanhamento de seis instituições diferentes. Destas, duas participaram da estruturação do lançamento das ações – Pactual e Merrill Lynch. “O interesse pelo papel é um reflexo do interesse dos investidores”, diz Rodrigo Campos, coordenador de relações com investidores da empresa.

A ALL se preocupa em ter uma base de analistas representativa porque, além de eles serem uma ponte de ligação com os investidores, conseguem entender com profundidade o setor de atuação e a empresa, coisa que os investidores não conseguiriam fazer individualmente. Outro fator positivo em ter um grande número de analistas cobrindo o papel é que o poder de indicar a compra ou a venda da ação não fica concentrado nas mãos de poucos. Passado o esforço para o lançamento inicial de ações, a ALL deve prosseguir na tarefa de divulgação de informações do dia-a-dia, de resultados e em apresentações para o mercado.

Small caps entram no alvo de grandes corretoras

Uma tendência identificada pelos profissionais do mercado é o aumento da cobertura das “small caps”, ou empresas de baixa capitalização de mercado. Enquanto as maiores corretoras se focam nas ações mais líquidas, esse tipo de papel é analisado principalmente pelas regionais. Mas isso pode mudar, se a expansão do mercado de capitais permanecer. Aliás, as grandes corretoras já começam a olhar com mais interesse para papéis de segunda linha.

No ano passado, um analista sênior dedicado às “small caps” juntou-se ao time de 13 profissionais da Itaú Corretora. O objetivo, diz Roberto Nishikawa, presidente da corretora, foi garimpar valor em empresas promissoras e apresentar boas oportunidades de investimento para os clientes institucionais. “A demanda desses investidores por ações de segunda linha vem aumentando, mas a maioria das corretoras não acompanha esses papéis”, diz.

No Santander, outro analista foi contratado recentemente para cobrir “small caps”. Existe um grande interesse por parte de investidores institucionais em encontrar boas empresas que ainda não foram descobertas pelo mercado, diz André Lóes, economista-chefe do Santander. “As empresas estão mais próativas porque perceberam que as condições macroeconômicas do país abriram espaço para uma oportunidade de usar o mercado acionário”, diz.


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