Em 9 de junho de 1989, um cheque sem fundos de 38 milhões de cruzados novos (cerca de US$ 12,5 milhões) encerrou a maior farsa vivida pelo mercado de capitais no Brasil. E legou como consequência a destruição da Bolsa do Rio, que já foi a mais importante do País.
O cheque deveria pagar operações de Naji Nahas, tratado pela imprensa como megaespeculador, apesar de nunca ter ostentado essa característica. Muito ao contrário, ele agira sempre como um manipulador de preços e tendências dos ativos em que operava.
Sua trajetória foi uma sucessão de desastres. Entre 1979 e 1980, associou-se a americanos e árabes em negócios futuros com prata. A participação redundou em saldo devedor de US$ 51 milhões numa corretora e rumoroso processo movido pela CFTC, organismo americano de supervisão de commodities.
Em 1982, Nahas comprou grande quantidade de ações de Petrobras e Banco do Brasil. Sem lastro para arcar com os compromissos, socorreu-se de um empréstimo de emergência, mediante a caução dos títulos, no banco francês Societé Genérale, ao qual era vinculado no Brasil. O fim dessa associação se daria em termos nebulosos, em maio de 1985.
Em agosto de 1984, Nahas assumiu o controle da Companhia Internacional de Seguros, quarta em volume de prêmios entre as seguradoras brasileiras naquele ano. Em 1987, ela havia caído para o 13o lugar.
Usando as mesmas táticas de açambarcamento praticadas no mercado de prata e na Petrobras, Nahas iniciou nova bola de neve em 1988, comprando opções de ações da Vale do Rio Doce. A Bovespa rapidamente se deu conta dos riscos incorridos e criou restrições à concentração pretendida. Mas a Bolsa do Rio caminhou em sentido oposto: recebeu o manipulador de braços abertos, sob o olhar complacente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
No vencimento das opções, em fevereiro de 1989, Nahas comprou alguns milhões de ações da Vale do Rio Doce. Começava o fim de sua marcha da insensatez. Sem recursos próprios para bancar os títulos, recorreu a um expediente conhecido como D-0, método de financiamento diário voltado a pequenos especuladores, incapaz de sustentar uma carteira de valores elevadíssimos. O processo demandava alta constante dos papéis, de modo a incorporar, permanentemente, as despesas à quantia financiada.
Era uma autêntica operação suicida, que atingiu o clímax em 9 de junho, com a quebra do manipulador e das várias corretoras que agenciavam sua ciranda. Assim se deu o melancólico fim da Bolsa do Rio.
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