A produção de gás não convencional no Brasil
Recentes rodadas de licitações da ANP colocam foco na produção de gás não convencional, especialmente o de folhelho (shale gas), cujas reservas indicam um enorme potencial

Com o sucesso da 11ª rodada de licitações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e a crescente expectativa para a 12ª rodada de licitações, com foco em reservatórios chamados não convencionais, diversos investidores começam a avaliar as reais oportunidades para a exploração e produção de gás no Brasil, assim como os desafios inerentes ao setor.

Nos últimos anos, o mercado acompanhou a revolução do shale nos Estados Unidos. O país deverá superar a Arábia Saudita como maior produtor mundial de petróleo até 2017 e se tornar autossuficiente em energia em 2035. Os números impressionam. Em seis anos, os Estados Unidos aumentaram a sua produção de gás de 100 milhões de m3/dia para quase 1 bilhão de m3/dia, gerando uma queda dramática no preço do gás Henry Hub.

No Brasil, a produção de gás é definitivamente o foco da produção de reservatórios não convencionais. Mais especificamente, a ANP vem apostando na produção de shale gas (ou gás de folhelho, na tradução correta da expressão, que por algum tempo foi erroneamente traduzida como gás de xisto). A Agência Internacional de Energia (EIA) estima — e a ANP endossa — haver reservas potenciais desse tipo de gás de 124 trilhões de pés cúbicos (TCF) na Bacia de Parecis, 64 TCF na Bacia do Parnaíba e 20 TCF na Bacia do Recôncavo. O tamanho das reservas indica um enorme potencial, capaz de alterar a matriz energética brasileira. No entanto, cabe analisarmos algumas especificidades do mercado brasileiro no caminho para a monetização dessas reservas.

Em primeiro lugar, as bacias de não convencional estão distantes dos maiores centros de demanda energética, o que torna a distribuição um tema crítico para a viabilidade dos negócios no setor. Devido à escassa rede de gasodutos, o transporte do gás produzido até os grandes centros urbanos exigiria significativos investimentos em infraestrutura.

A ANP vem se manifestando no sentido de que a solução para a viabilidade dos investimentos na exploração e produção de gás não convencional como o de folhelho estaria não na construção de gasodutos, mas no uso do gás para geração de energia elétrica. Essa estratégia prevê a alocação de usinas termoelétricas próximas dos poços produtores, com a utilização de linhas de transmissão já existentes ou, alternativamente, a realização de investimentos em novas linhas de transmissão.

A visão da ANP certamente não é nova para a indústria, que já explora essa solução para viabilizar seus projetos de gás há mais de uma década. Atualmente, um dos maiores desafios, além da iminente necessidade de construção de novas usinas termoelétricas, consiste na natureza dos contratos de fornecimento de gás para essas usinas.

Para o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a prioridade na geração de energia é dada às usinas hidroelétricas. As térmicas são, em geral, chamadas a gerar energia por ordem de mérito econômico e de forma intermitente, dependendo de uma combinação de fatores, tais como demanda, restrições de transmissão, e volume dos reservatórios hidroelétricos.

Os contratos de fornecimento de para as térmicas podem carregar, portanto, o mesmo elemento de incerteza, em que a demanda não é estável. Nesse sentido, se a venda e a distribuição do gás são, em alguma medida, incertos, a mesma lógica tende a permear a análise de retorno de investimentos no setor.

As reservas podem mudar a matriz energética brasileira, mas ainda existem desafios de infraestrutura

O sucesso do gás não convencional no Brasil, portanto, deve passar necessariamente por propostas concretas para a venda e distribuição do gás descoberto nas bacias ofertadas na 12ª rodada de licitações. A morosidade em investimentos que permitam o escoamento desse produto pode resultar na própria inviabilidade econômica dos projetos de não convencionais — recursos estratégicos no mundo de hoje.


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