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Novos nichos
Reestruturação de empresas, securitização e IPOs são alguns dos mercados prospectados pelas corretoras para diversificação

 

Já faz parte do passado o tempo em que as corretoras de valores dedicavam-se exclusivamente à corretagem. Principalmente após as crises de liquidez vividas pelo mercado de ações, como a dos anos 2002 e 2003, as corretoras saíram em busca de novos negócios que agregassem valor e as tornassem menos dependentes do dinamismo do mercado de valores. Muitas diversificaram os produtos e serviços oferecidos aos clientes, criando novas áreas e contratando profissionais especializados. Hoje, já é possível encontrar Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), antes desenvolvidos por consultorias e bancos, totalmente estruturados, administrados e distribuídos por corretoras de valores. Departamentos especializados em finanças corporativas e reestruturação empresarial também viraram realidade, juntamente com o retorno dos corretores que estruturam as ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) e emissões de outros títulos como, por exemplo, os certificados de audiovisual.

Em alguns casos, os novos nichos foram explorados para atender a uma demanda já manifestada pelos clientes, mas acabaram ganhando importância estratégica dentro do negócio. Empresas de médio porte são o alvo principal das corretoras que buscam novas áreas de atuação. Elas são a brecha deixada pelos bancos, que dominam os serviços de finanças corporativas voltados a grandes companhias.

Desde o ano passado, a Planner Corretora conta com uma área de reestruturação empresarial. O setor começou a ser desenvolvido em dezembro de 2004, após sancionada a nova Lei de Falências. Em junho de 2005, quando a lei foi homologada, a corretora deu o pontapé inicial — e oficial — no novo ramo. No ano da estréia, teve apenas um cliente. Mas hoje já possui três reestruturações em andamento e a meta é encerrar 2006 com o total de seis empresas atendidas. Há três anos e meio, a Planner também atua no segmento de finanças corporativas, provendo financiamentos através de agência de crédito e empresas de leasing. A meta é fechar o ano com US$ 20 milhões em volume de crédito captado. “A idéia era diversificar os serviços financeiros oferecidos, visando um universo maior de clientes. Nosso foco é a empresa de médio porte”, afirma José Renato Fraguas, responsável pelas áreas de finanças corporativas e reestruturação empresarial.

A Petra também seguiu o caminho da diversificação. Atualmente, estrutura, administra e distribui FIDCs. São cinco fundos de recebíveis no mercado, que somam patrimônio de R$ 50 milhões. Até o final do ano, o montante poderá chegar a R$ 500 milhões, já que a corretora possui mandato para outros 18 fundos, todos em fase de estruturação. A corretagem de títulos e valores mobiliários representa cerca de 70% da receita da Petra. Outros 20% vêm da gestão e administração de fundos e cerca de 10%, dos FIDCs.

“O FIDC é uma forma de acessar diretamente o investidor, sem intermediação bancária”, explica Fernando de Marsillac Fontes, sócio da corretora, que projeta crescimento anual da área de FIDC de 30%, “com conforto”. Outro ponto positivo da atuação em segmentos variados é reduzir a parcela da receita operacional oriunda do mercado de ações. “A receita dos fundos de recebíveis é mais previsível. Ainda existe a cultura de só procurar a renda variável em momentos de alta. Deveria ser justamente o contrário”, diz.

A contratação de novos funcionários também parece acompanhar a busca das corretoras por produtos e serviços variados. Na Petra, Fontes conta com a ajuda de um gerente de projetos para desenvolver a estruturação dos fundos de recebíveis. Outros cinco profissionais — um diretor, um coordenador, um tesoureiro e encarregados da revisão de documentos e da contabilidade — estão diretamente envolvidos na área.

A Link Corretora, para atender à demanda dos próprios clientes, também estreou no mercado de fundos de recebíveis no final do ano passado. Através da LinkCorp, seu braço operacional voltado para o segmento pessoa jurídica, estruturou o primeiro FIDC. O fundo, multisetorial, tem 15 cedentes, entre empresas de pequeno e médio porte e totaliza R$ 10 milhões em carteira. Até o começo de agosto, com a entrada em operação de outro fundo, serão R$ 110 milhões e, no encerramento do ano, a meta é atingir R$ 300 milhões sob gestão.

“O foco inicial são as empresas de até médio porte. Identificamos que há carência de crédito neste mercado e, dentro de uma corretora, a única maneira de atender a esta demanda é através do FIDC”, afirma Carlos Lancellotti, gerente de negócios da Link Corp. O fundo em operação tem histórico de rentabilidade líquida de cerca de 130% do CDI, mas ainda não é parte significativa do faturamento da empresa. “A partir do próximo ano, os FIDCs passarão a ter maior participação. Projetamos crescimento de 25% ao ano para a área de fundos de recebíveis da corretora”, completa Lancellotti, que já conta com sete funcionários dedicados a esse produto.

OLHO NAS OFERTAS — O crescimento da base de investidores em ações, tanto pessoas físicas do mercado doméstico como institucionais estrangeiros, também promete render frutos para as corretoras. Em 2004, a Natura inaugurou a retomada das ofertas públicas iniciais de ações e, desde então, a estruturação destas operações vem sendo dominada pelos bancos. Mas as corretoras anseiam abocanhar as ofertas das empresas de menor porte, caso elas venham mesmo a ocorrer. A primeira experiência foi a colocação dos papéis da Renar Maçãs, em janeiro de 2005, em oferta coordenada pela Elite Corretora, que contou com a Gradual como formador de mercado. O resultado pós-operação não foi dos mais animadores — as ações da Renar foram lançadas a R$ 1,60 e, no último dia 24, estavam cotadas a R$ 0,71 —, mas as corretoras acreditam que outras ofertas de empresas de porte semelhante são esperadas para o início do próximo ano.

Enquanto esse plano não se concretiza, as corretoras têm participado do movimento de ofertas públicas de ações por meio da distribuição para pessoas físicas residentes no País. Segundo Afrânio Barbosa de Souza, diretor da Elite, e José Carlos Batelli Corrêa, da Gradual, o grupo que participou da oferta da Renar (Elite, Gradual, Fator, Isoldi, Sagres e Spinelli) já estuda novos projetos focados nas empresas de médio porte — o mesmo público-alvo do Bovespa Mais, mercado de acesso idealizado pela Bovespa e, por enquanto, sem adeptos. “Existem duas operações em estudo, mas as condições deste semestre mostram-se desfavoráveis”, diz Corrêa.

O mercado de capitais para empresas de médio porte é incipiente, como comprova a falta de interesse pelo Bovespa Mais. “Temos mais recursos disponíveis do que empresas preparadas para captá-los, portanto o papel das corretoras é justamente preparar estas companhias. Sabemos que isso leva tempo, mas acreditamos que será como o Novo Mercado, que ficou vários meses sem adesões, até que explodiu”, afirma Souza.

O objetivo principal da união entre as corretoras é explorar a fatia do mercado que não é alvo dos bancos. As grandes captações exigem uma estrutura dispendiosa, que não é compensada em operações de menor porte. No entanto, abrir mão dos investidores internacionais não faz parte dos planos. A meta é atrair compradores estrangeiros, em especial o público que não tem acesso às grandes colocações. “Estamos fazendo contato com pequenas e médias corretoras independentes dos Estados Unidos. Não teremos road show, mas esses investidores serão devidamente convidados a aplicar diretamente no Brasil”, completa Souza.

Incentivar a entrada de empresas de médio porte no mercado é um caminho para diversificar receitas

VARIEDADE DE PRODUTOS — Já a Geração Futuro escolheu um outro caminho para diversificar suas receitas. Além da gestão de clubes de investimento, atividade pela qual é mais conhecida, a corretora atua na estruturação de certificados de audiovisual. Atualmente, a participação dessa operação no seu faturamento é de apenas 0,5%, mas a expectativa é de crescimento. Para Mauro Mello, diretor da corretora, o mais importante é incentivar a entrada de segmentos variados no mercado de capitais. “A Lei do Audiovisual deve ser vista como um investimento e não apenas como uma renúncia fiscal”, afirma. Neste ano, seis eventos culturais captaram recursos através da Geração Futuro e mais um está em análise na CVM. Segundo Mello, entre 60% e 70% das propostas costumam ser rejeitadas, mas o nível das produções melhorou bastante nos últimos anos. “O setor chegou a ficar desacreditado, mas agora tudo está mudando.”

Historicamente, a diversificação foi pensada há algumas décadas. Mais especificamente em 1966, quando a resolução 39 do Conselho Monetário Nacional, primeira regulamentação das corretoras após a sua transformação em sociedades civis, previu que elas pudessem exercer atividades como custódia de valores, administração de carteiras ou coordenação de emissões de ações, conta Luiz Eduardo Martins Ferreira, consultor jurídico da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Em 1984, a resolução 39 foi substituída pela 922, uma versão aperfeiçoada da norma original.

Mas será que em algum momento os novos negócios serão mais importantes para as corretoras que sua atividade mais tradicional? Não é o que parece, pelo menos aos olhos de Cláudio Pracownik, diretor-superintendente da Ágora. Líder em volume de negócios da Bovespa, a corretora planeja manter os esforços direcionados à atividade de corretagem, que representa mais de 90% do faturamento. Pracownik não chega a descartar a possibilidade de rever as prioridades do negócio caso cresça a participação de outros produtos: “Se isso acontecer, será por demanda”, afirma. “Mas não é o cenário que antevemos.”


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