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Equipe reforçada
No rastro da retomada dos IPOs, corretoras expandem áreas de pesquisa para dar conta do trabalho extra

 

Um ano depois do fatídico 11 de setembro, o mercado acionário brasileiro viveu um período de instabilidade agravado pelas incertezas das eleições presidenciais. Em 2003 a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) recuperou parte da desvalorização e, em 2004, teve um momento excelente, impulsionado pela chegada de novas companhias ao mercado de capitais. Entre as várias mudanças que decorreram dessa retomada, uma delas passou pelas áreas de pesquisa das corretoras. Afinal, para dar conta de acompanhar o desempenho de todas as companhias novatas, seria preciso ampliar o número de analistas. E foi o que aconteceu. Desde a volta das ofertas públicas iniciais de ações (IPOs), essas equipes vêm crescendo consideravelmente e a tendência para os próximos meses é de uma expansão ainda maior.

Na Itaú Corretora, em 2003 o setor contava com 12 analistas. Hoje, são 20, voltados à cobertura de 80 empresas dos mais diversos setores. “Nunca tivemos uma equipe de pesquisa tão grande quanto agora”, diz Marcos De Callis, diretor vice-presidente da corretora. E a previsão é de continuidade. “Os IPOs trouxeram empresas que não tinham outras da mesma área na Bolsa. Passamos a acompanhar novos setores e temos planos de começar a cobrir mais empresas”, afirma De Callis. A estratégia do Itaú é criar um centro de conhecimento voltado a ações de companhias brasileiras. “Nosso compromisso é investir cada vez mais na área de pesquisa para poder garantir uma posição de liderança no mercado e para sermos reconhecidos como especialistas em Brasil”, completa.

Em pouco tempo a equipe do Banco Pactual, liderada por Ricardo Kobayashi, também mudou de tamanho. Saltou de 12 para 18 analistas. “Os setores se diversificaram, alguns ficaram mais densos e outros voltaram a ser relevantes na Bolsa. Entraram algumas small caps (empresas de menor capitalização), que passamos a cobrir com igual interesse”, salienta Kobayashi.

As small caps, aliás, foram umas das grandes beneficiadas por esse movimento. Depois de muito tempo fora das planilhas dos analistas, elas voltaram na forma de novatas como Dasa, Porto Seguro e Localiza. Na maioria dos casos, a clássica distribuição setorial que as equipes de pesquisa tinham até então não serviu para receber as novas empresas. E a solução foi criar uma divisão de análise chamada simplesmente de small caps, sob a qual foram reunidas empresas de menor valorização, dos mais diversos setores. Assim foi feito, por exemplo, no Pactual e no Itaú.

Em outras situações, novos setores entraram para a lista das equipes. A área de cosméticos, embora representada apenas pela Natura por enquanto, ganhou uma vaga no amplo guarda-chuva em que o Pactual engloba os setores de varejo, bebidas, alimentos, fumo, eletrodomésticos, têxteis e calçados. O mesmo aconteceu com o segmento de logística. Levado para dentro das equipes de análise pela empresa de ferrovias ALL, ele ganhou um lugar ao lado do setor de transportes em algumas corretoras.

CONJUNTURA FAVORÁVEL — Mas não é só a entrada de empresas novas na bolsa que vem levando as corretoras a investir pesado em suas áreas de análise. A conjuntura econômica contribui para apostas de mais longo prazo nestas equipes. “Com as taxas de juros caindo, a tendência é que aumente a quantidade de recursos alocados em renda variável, o que também favorece o crescimento das áreas de análise”, atesta Felipe Cunha, analista do Banco Brascan.

A perspectiva de obtenção do selo grau de investimento pelo País também dá uma força para esse movimento. “Hoje o investimento em renda variável no Brasil é restrito para investidores estrangeiros pelo fato de o País não ser uma economia classificada como investment grade. Ao receber essa classificação, o mercado pode atrair uma série de investidores e novas oportunidades para as áreas de análise”, diz Cunha. Segundo ele, o objetivo do “research” do Banco Brascan é voltar a cobrir todos os setores do mercado “num horizonte de curto e médio prazo”. Para tanto, a equipe passa por uma reformulação e deve somar novos profissionais nos próximos meses.

Há ainda um outro fator que contribuiu para a expansão dos times de análise. A maior atividade dos bancos de investimento na estruturação de IPOs gerou uma demanda adicional para as áreas de pesquisa dessas instituições, que passaram a dedicar profissionais para o acompanhamento dos clientes do banco que abriram o capital. Um procedimento que esbarra na independência obrigatória (chinese wall) entre as áreas de pesquisa e os bancos de investimento mas que, na prática, ampliou o número de empresas cobertas pelas áreas de pesquisa.

Em resposta à demanda do mercado, o número de analistas em busca de uma formação diferenciada também aumentou

Em resposta a toda essa demanda, o número de analistas investindo em educação de ponta para aprimorar qualificações também aumentou. A procura de profissionais brasileiros por um dos programas de formação mais prestigiados do mundo, o Chartered Financial Analyst (CFA), reflete o ótimo desempenho deste mercado.

Em 2005, 390 pessoas se inscreveram para tentar obter o renomado certificado. Este ano são 470 profissionais inscritos no programa internacionalmente conhecido pela excelência profissional.

REFLEXO DOS EMERGENTES — A movimentação nas áreas de pesquisa não foi um efeito isolado no Brasil. Pelo contrário, foi uma reação mais abrangente ao aumento da liquidez internacional e ao interesse dos fundos voltados a mercados emergentes por investimentos em ações nesses países. Há poucas semanas, o jornal inglês Financial Times noticiou que o Citigroup, o maior conglomerado de serviços financeiros do mundo, anunciou que planeja contratar por volta de 35 analistas ainda este ano. O plano é ampliar as áreas de pesquisa no Brasil, Rússia e outros emergentes. O mercado asiático, por sua vez, já começou o ano com 20 novos analistas.

A continuidade desse crescimento mundial, porém, ainda dependerá da capacidade de os bancos e as corretoras superarem a crise de credibilidade que sofreram após o episódio da Enron.

A chinese wall ruiu e se mostrou tão vulnerável quanto uma Ligne Maginot, a moderna linha de defesa criada pelos franceses que sucumbiu aos ataques alemães em 1940. O sistema começou a evidenciar suas fragilidades quando irrompeu em 2002 o escândalo envolvendo analistas como o então conceituado Henry Blodget, da Merrill Lynch. Especialista na cobertura de empresas de internet, ele foi flagrado falsificando relatórios. Publicamente, recomendava o investimento em empresas para as quais, reservadamente, dizia exatamente o contrário. Resultado: descoberta a farsa, a Merrill Lynch pagou uma multa de US$ 200 milhões por relatórios fraudulentos e Blodget foi punido com uma multa de US$ 4 milhões, além de ter sido banido do mercado financeiro.

O fato é que, embora a regulamentação no Brasil e no mundo tente traçar uma inexorável “muralha da China” entre os analistas e os bancos de investimento, essa barreira está longe de ser intransponível. “Sempre existe um perigo de contaminação dos analistas. Basta ver o que aconteceu lá fora, nos Estados Unidos, com os processos que algumas grandes corretoras sofreram e que deram origem a legislações que procuraram separar o máximo possível o research do investment bank”, lembra De Callis. Mais do que nunca, portanto, é fundamental que os bancos e corretoras cuidem bem dessa muralha. O risco seria pôr a perder o tão esperado reflorescimento das equipes de pesquisa vivenciado nos últimos meses.


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