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Valorização com qualidade
A real criação de valor foi o que diferenciou as companhias vencedoras do ranking num momento em que várias se saíram bem na Bolsa

Ser uma boa companhia para seus acionistas, nos moldes do ranking elaborado pela CAPITAL ABERTO, mais uma vez, foi tarefa de super-herói. Ainda sob os efeitos da crise financeira que assombrou a economia global em grande parte do ano passado, poucas empresas conseguiram efetivamente gerar valor aos seus acionistas, a despeito da sensível melhora observada na cotação dos papéis.

Não é de se estranhar, portanto, que o “fiel da balança” no ranking deste ano tenha sido a variação do valor econômico adicionado (EVA, na sigla em inglês) de 2008 para 2009. Esse indicador estima o lucro econômico descontado o custo de oportunidade do capital empregado, ou o mínimo que a empresa deve gerar de retorno ao acionista para compensar os riscos do investimento. Esse foi, de longe, o indicador em que as companhias mais penaram para somar pontos. O desempenho no EVA foi similar ao do ranking anterior, que abrangeu o período de eclosão da crise e registrou o pior desempenho das empresas nesse quesito, desde a primeira edição do ranking em 2006. Dentre a amostra de 92 empresas analisadas, apenas 22 registraram variação positiva do EVA — proporção praticamente igual ao do ranking de 2009, quando 20 companhias dentre 95 apresentaram valor econômico adicionado positivo. “Mesmo com os bons fundamentos econômicos e os incentivos do governo para o aquecimento do consumo interno, o ano de 2009 foi muito duro para as empresas”, recorda Renato Delgado, analista sênior da Stern Stewart.

Para se ter uma ideia de como um bom desempenho no EVA fez a diferença no ranking deste ano, vejamos o caso da Hypermarcas, uma das maiores companhias de bens de consumo com capital de origem brasileira. A empresa obteve performance muito boa em quase todos os quesitos, inclusive com a quinta melhor variação do total shareholder return (TSR): 106,6%, descontando-se o custo de capital próprio (Ke). Os pontos em governança, sustentabilidade e retorno financeiro ao acionista da Hypermarcas foram semelhantes aos da Gol, campeã de sua categoria — empresas com valor de mercado de R$ 5 bilhões a R$ 15 bilhões. No EVA, contudo, enquanto a empresa aérea variou o indicador positivamente em 10,6% de 2008 para 2009, a Hypermarcas obteve percentual negativo de 4,2%. Como resultado, acabou ficando fora da premiação.

“Nossa governança já deixou de ser nota zero, mas ainda está longe de ser considerada madura.”

INVESTIDORES OTIMISTAS — Se as empresas foram mal das pernas no que se refere à geração de valor, o retorno proporcionado por suas ações e os respectivos dividendos apresentou uma sensível melhora em relação ao ano anterior. No ranking de 2009, quase todas as companhias tiveram variação negativa do TSR (lembrando que a CAPITAL ABERTO subtrai desse valor o custo de capital próprio). Neste ano, apenas 20 viram esse indicador em tons de vermelho. Isso se deveu, em grande parte, à volta do otimismo dos investidores. “O pensamento predominante desde que a crise estourou no fim de 2008 foi o de que os sólidos fundamentos macroeconômicos do País o tornariam menos sensível ao terremoto financeiro. E o mercado acabou por incutir esse otimismo no valor das ações”, analisa Delgado. Mas o que explica o descompasso entre a variação dos EVAs e dos TSRs? “O mercado já havia incorporado no preço a percepção de que as empresas iriam se recuperar, porém essa recuperação não foi verificada dentro do período analisado”, observa o analista da Stern Stewart.

SUBINDO O SARRAFO — O ranking deste ano também trouxe novidades no questionário de governança corporativa, utilizado para mensurar a pontuação das companhias nesse âmbito. Nas questões sobre transparência, as empresas se depararam com a seguinte pergunta: a companhia adota um sistema eletrônico para a outorga de procuração de voto? A versão anterior do questionário verificava apenas se a empresa divulgava o manual de assembleia detalhado, com um modelo de procuração de voto e procuradores previamente designados para a representação do acionista.

Os sistemas eletrônicos de votação permitem que o investidor efetue seu voto pela internet, sem a necessidade de presença física nas assembleias. Apesar de facilitar o processo de votação, a plataforma atraiu poucas companhias até agora. Os investidores, por sua vez, também não se mostraram muito interessados em testá-la. A Natura, por exemplo, não computou um único voto virtual em seu encontro anual de acionistas. A Petrobras, com mais de 470 mil investidores, teve apenas 14 gatos pingados votando pela plataforma em sua AGO.

Alexandre Di Miceli da Silveira, professor da FEA-USP e coordenador executivo do Centro de Estudos em Governança (CEG) da Fipecafi, acredita que a baixa adesão aos sistemas é reflexo do estado de amadurecimento da governança corporativa brasileira. Segundo ele, o desinteresse dos acionistas não deve servir de justificativa para as companhias deixarem as plataformas eletrônicas de votação de lado. “É boa prática facilitar tanto a participação dos acionistas nas assembleias, como o exercício de voto. A empresa deve deixar essa alternativa à disposição, mesmo se a adesão for baixa”, alerta. Em 2010, tivemos a primeira temporada de assembleias sob a vigência da Instrução 481, que, dentre outras coisas, estimula o uso das ferramentas eletrônicas de votação.

Di Miceli entende que, aos poucos, as empresas compreenderão a necessidade dessa ferramenta. Para ele, tão importante quanto a adesão das companhias é a conscientização dos investidores sobre a importância de estar presente no processo de tomada de decisões. “A participação do acionista começará a crescer especialmente em momentos críticos, como naqueles em que os negócios da empresa estiverem indo mal”, avalia. “Se, depois de quatro ou cinco anos, a participação não melhorar, os acionistas não terão moral para reclamar de eventuais problemas de governança que a companhia apresentar”.

Outro ponto crítico detectado pelo questionário foi a falta de divulgação de dados sobre remuneração. Não descreveram os indicadores de desempenho 40 companhias que baseiam a remuneração variável de seus executivos e conselheiros no Formulário de Referência, conforme determina a Instrução 480 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), promulgada em dezembro de 2009. A obrigação de divulgar os valores mínimo, médio e máximo pagos aos administradores foi ignorada por 36 empresas. Enquanto algumas simplesmente omitiram essa informação, que deveria ser apresentada também no edital de convocação da assembleia-geral ordinária (AGO) na primeira quinzena de abril, outras não divulgaram esses dados usando a liminar da 5ª Vara da Justiça Federal do Rio de Janeiro concedida aos executivos associados à seccional do Rio de Janeiro do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef). “Esse é o tipo de pergunta que deveria ter 100% de respostas positivas. A empresa que não cumpre o que o regulador determina dá um péssimo exemplo de governança, ainda mais em um item que tem sido praticamente consensual no mundo”, critica Di Miceli.

FRAQUEZAS CRÔNICAS — Assim como a desobediência à regulação, o baixo número de empresas que adotaram políticas de gestão de riscos aprovada pelo conselho de administração também foi uma surpresa desagradável. Dentre as 92 companhias da amostra, apenas Banco do Brasil, Copel, Itaú Unibanco e Lojas Americanas mantêm essa política. “É uma pena. As empresas perderam uma ótima chance de discutir essa questão e implantar soluções”, lamenta Di Miceli.

Depois dos incidentes com Sadia e Aracruz, que registraram perdas bilionárias no fim de 2008 com operações de hedge especulativo, e da ação do xerife do mercado de capitais que passou a exigir, no Formulário de Referência, descrição da política de gerenciamento de riscos adotada pelo emissor, esperava-se que as empresas se preocupassem mais com a questão. “Ao não fazer isso, a companhia passa a mensagem de que não se importa em lidar com seus riscos de forma estruturada”, diz Di Miceli.

Para o pesquisador, o ranking ilustra bem o atual estágio de nossa governança, que desde o começo do milênio evoluiu em muitos aspectos, porém necessita ganhar mais corpo para ser tida como de ponta. “Nossa governança já deixou de ser nota zero, mas ainda está longe de ser considerada madura.” O docente cita as políticas de transações com partes relacionadas como um dos aspectos que necessitam de melhora urgente. “É um ponto crucial para a governança de uma empresa, mas que, no Brasil, é tratado sem a devida atenção.” Dentre as companhias analisadas, apenas Bradesco e BM&FBovespa apresentam esse tipo de política.

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