Quando abriu o capital de sua empresa em 1990, Calisto Tanzi, fundador da Parmalat, deu um passo importante para demonstrar que grandes empresas conduzidas por empreendedores e famílias poderiam aderir a uma estratégia mais ousada de crescimento, adotando políticas de boa governança corporativa e driblando o velho fantasma da perda de controle. Contudo, com o processo de derrocada do grupo iniciado no final de 2003, o mercado voltou a questionar se empresas controladas por um empreendedor cercado de seus familiares podem ser profissionais o suficiente para que o mercado de capitais as adote como dignas de seus investimentos.
Independente deste ou de outros lapsos, acredito que investidores podem ter muito a ganhar se incentivarem grupos familiares a abrir o capital. Tal atitude traria à tona o que de melhor possuem as empresas familiares e o mercado de capitais. Ao adotar regras de governança corporativa como a responsabilidade pública dos gestores, transparência de informações e controles externos, empresas familiares terão a oportunidade de consolidar uma gestão profissional, dotada dos mais variados instrumentos de prestação de contas essenciais às companhias que se pretendam abertas. Ao mesmo tempo, por trazer consigo o melhor do empreendedorismo nacional e dos valores tradicionais, além de representar uma das mais importantes fontes geradoras de recursos produtivos (estima se que 80% das empresas são controladas por grupos familiares no Brasil e no mundo), contribuiriam para o desenvolvimento do mercado de capitais e proporcionariam novas e promissoras oportunidades de investimento.
Para que tudo isso ocorra, é fundamental uma profunda conscientização dos empreendedores brasileiros sobre os benefícios que o mercado de capitais pode oferecer, além de uma mudança de valores há muito enraizados. Penso que o principal não seria a adoção das boas práticas de governança corporativa, dado que muitas das empresas familiares já as praticam com sucesso, mas sim a aceitação de que sua exposição pública não lhes traria constrangimentos e nem responsabilidades além das que poderiam incorporar. Ao contrário, a negociação pública de suas ações simplificaria em muito a mensuração do patrimônio e, desta forma, as complexas negociações internas, muitas vezes entre gerações distintas, para alterações na composição societária da companhia.
Aos órgãos reguladores do mercado de capitais, também cabe um papel importante neste processo. É essencial uma adequação das regras ora existentes para que os excessos de controles multiplicadores de custos sejam flexibilizados, de forma a existir um incentivo para que novos grupos familiares busquem a parceria do mercado de capitais.
Por mais que, em teoria, todas essas idéias pareçam óbvias, o que vemos hoje é um restrito grupo de empresas familiares presente no mercado de capitais brasileiro e uma resistência dos representantes de órgãos reguladores para entender os aspectos próprios de gestão e cultura que permeiam as empresas familiares. Se faz indispensável, portanto, que empreendedores familiares de sucesso, cientes de suas boas praticas de gestão, e órgãos reguladores preocupados com a premente necessidade de abertura de capital de novas empresas se unam para encontrar uma forma de incentivar este processo.
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