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Negócios em ciclos
Jeffrey Leonard

, Negócios em ciclos, Capital AbertoPresidente e fundador da Global Environment Fund (GEF), o norte-americano Jeffrey Leonard assumiu neste ano a presidência do conselho de administração da Emerging Markets Private Equity Association (Empea). Ele traz um perfil diferente de seu antecessor à frente da organização que reúne gestores e investidores de venture capital e private equity de mercados emergentes. Enquanto Roger Leeds ajudou a constituir as bases da Empea e atua na academia, Leonard é um típico praticante da indústria, liderando uma empresa com cerca de US$ 1 bilhão espalhado pelo mundo. Sua missão na Empea, acredita, é ajudar na diversificação da entidade, promovendo o private equity onde ele não é tão forte ainda. Em outras palavras, crescer.
Crescer tem sido um dilema para os gestores de fundos de private equity em países emergentes. Se o aumento acelerado dos produtos internos brutos (PIBs) de algumas economias serviu como isca infalível para o capital estrangeiro, também trouxe problemas como inflação e valorização cambial, que deixam negócios mais difíceis de serem fechados e investidores ressabiados. Em entrevista à CAPITAL ABERTO, Leonard falou desses desafios e da sua especialidade: os setores de tecnologias “limpas”, energias renováveis e gestão sustentável de recursos naturais, sensação da temporada. No momento, a única participação mantida por um fundo da GEF em uma empresa brasileira é a da Neogás, distribuidora de gás natural sediada em São Paulo, na qual a GEF é acionista majoritária.

CAPITAL ABERTO: A Empea nasceu em 2004, numa época difícil para os fundos de private equity. Em 2003, os fundos dedicados a mercados emergentes haviam captado US$ 3,4 bilhões, a pior arrecadação desde 1993. Os últimos anos, 2009 e 2010, também foram ruins em termos de captação. O que, de fato, mudou em todo esse tempo nessa classe de ativos?

JEFFREY LEONARD: A maioria dos países importantes, especialmente o Brasil, estabilizou suas moedas, reduziu a dívida atrelada ao dólar em proporção ao PIB, acelerou suas economias e começou a absorver mais capital externo. Tudo isso mudou a atmosfera para o private equity. Antes, a maior parte dos participantes relevantes desse mercado atuava só nos Estados ou na Europa. Hoje, há uma proliferação de gestores de investimento fortes, os chamados general partners, em quase todas as regiões do planeta.

Mesmo com o desenvolvimento dessa modalidade de investimento e o reconhecimento de sua rentabilidade, as captações dos fundos ainda não se recuperaram desde a crise de 2008. Por que continua tão difícil captar?

Acho que o clima para captar não é propício. Não sei se é por alguma coisa que os gestores de fundos fizeram… Há uma demora para as coisas acontecerem. Investidores parecem estar com seus recursos já comprometidos com outras alocações. Além disso, depois da crise, as bolsas e valores de países emergentes foram muito bem. Quando os mercados líquidos oferecem e tornos de dois dígitos, consistentemente, eles naturalmente levam vantagem. Isso está ocorrendo também porque os preços nas bolsas de valores estavam extremamente baixos no ápice da crise. Mas logo os valores dos mercados acionários vão se normalizar, e o private equity voltará a competir com força por alocação. Não vejo isso como um grande problema. É uma questão de ciclo econômico.

Como o senhor está enfrentando o cenário de maior inflação, ativos caros e valorização cambial em alguns dos principais mercados emergentes?

Um bom gestor de fundo de private equity deve sempre comprar com uma margem de segurança, de maneira disciplinada. Certamente, não faltam exemplos de ativos que foram negociados por preços insustentáveis. Contudo, as firmas de private equity também aprendem uma lição nesses casos: há tempos em que se devem, sim, fazer mais aquisições, e outros em que se deve diminuir a atividade e cuidar dos investimentos feitos. Durante o período em que o real saiu de um patamar próximo ao dólar e chegou a perder boa parte de seu valor, no papel, também sofremos perdas. Mas o crescimento de empresas em que havíamos investido no Brasil acabou compensando o obstáculo da flutuação da moeda. A América Latina Logística (ALL), na qual entramos antes da abertura de capital de 2004, cresceu mais de 40% por ano por muito tempo e, consequentemente, seus ativos se valorizaram.

Dentre os vários países nos quais investe, quais apresentam as maiores vantagens?

O Brasil e a Índia estão entre os mais atraentes para nós. São grandes, dinâmicos e abertos, têm grandes empreendedores e um sistema legal que funciona para os investidores de private equity. Aprecio esse tipo de mercado com setor privado robusto, mas, ao mesmo tempo, não consolidado. O Brasil abriga muitas oportunidades nos nossos setores de atuação, como tecnologias “limpas”, energia e gestão sustentável de recursos naturais. Gostamos de usar o Brasil como plataforma para países latino-americanos, como fazemos na Neogás, que tem operações no Peru. Na Índia, a situação nunca foi melhor. Apesar de requerer cuidado com a super-avaliação de ativos, está se abrindo e crescendo cada vez mais. Existe lá uma demanda enorme por energia e por madeira de reflorestamento. No Brasil, aliás, também seremos investidores em madeira. A Indonésia, a Malásia e a África do Sul, que é uma plataforma para a África Subsaariana, também são convidativas.


O senhor planeja fazer investimentos no nosso país neste ano?

Pretendemos continuar na Neogás e fazer o negócio crescer. Pessoalmente, amo o Brasil. Porém, devemos fazer um outro investimento só mais para frentre, quando abrirmos um novo fundo. Hoje, já há bastante capital disponível para o País, muitos gestores e oportunidades mais bem servidas do que no passado.

A competição e os preços no Brasil têm sido um bloqueio?

Não há dúvida de que há um fluxo intenso de capital em direção a certos mercados. Mas o que boas firmas de private equity fazem? Gerenciam esse processo, são cautelosas com essas corridas e escolhem bem os ativos, mantendo sempre um “dry powder” (caixa para cobrir necessidades futuras). No fim das contas, os ciclos se repetem: haverá bolhas e, depois delas, oportunidades. A GEF tem sorte de trabalhar em um segmento em que é possível esperar até surgir o investimento certo, evitando colocar dinheiro sem pensar direito.

A GEF é uma das pioneiras de um grupo crescente de firmas de private equity que investem em negócios ligados às mudanças climáticas, mas cujo objetivo é o retorno financeiro. A que fatores o senhor atribui essa onda?

Certamente o tema da eficiência no consumo de energia elétrica se tornou muito mais prevalente na indústria de private equity nos últimos anos. As razões são as mesmas para a criação da GEF em 1990, creio eu. Há volatilidade na regulamentação e nos preços de energia, a demanda é crescente, não só pela iniciativa privada, mas também por políticas públicas. Assim, novas tecnologias que supram essa necessidade criam oportunidades de investimento. Os investidores têm anunciado a intenção de se expor mais a essa área. Os gestores que estão pensando em captar recursos, naturalmente, observam isso.

Podemos considerar esse movimento exagerado no setor de energia?

Há muitas oportunidades em vários países. A pergunta é se os fundos estão efetivamente distribuídos para aplicar o capital. Me lembro do início dos anos 2000, quando a euforia tomou conta dos setores de telecomunicações e internet, nos Estados Unidos, no Brasil, no mundo inteiro, e, depois, do estouro da bolha. Gestores e investidores de private equity perderam muito dinheiro. Sempre há risco quando há uma corrida muito agressiva em direção a um tipo de ativo.


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