Num passado não tão distante, a maior preocupação do mercado quanto à Embraer era a capacidade da empresa em gerar caixa, diante das dificuldades impostas pela pandemia, o que fez com que toda a indústria aérea fechasse a operação.  

A dúvida do mercado era saber por quanto tempo a companhia aguentaria queimando dinheiro, já que naquele momento havia empresas mais sólidas, como Airbus e Boeing.

Mesmo com a saúde financeira posta em xeque, a Embraer conseguiu virar o jogo, após reduzir a produção e postergar os lançamentos. Apesar de ter saído da pandemia com uma alavancagem muita alta, a volta do mercado aéreo dos Estados Unidos, maior mercado consumidor de aeronaves, deu o start para os novos pedidos de aviões da empresa.

“A Embraer foi bem-sucedida em repassar o preço em todas as cadeias de produção, desde turbinas até semicondutores”, explica o gerente de renda variável da SulAmérica Investimentos, Rodrigo Faria.

O executivo ressalta que uma conjuntura de fatores, como a inflação em toda a cadeia de suprimentos, ajudou na recuperação das margens da indústria de aviões. “As companhias aéreas estão precisando renovar a frota. Existe um boom nos segmentos de lazer e executivo, mas não tem aeronaves. Ficou valioso ter o nome em fila de espera de aviões, o que faz o preço subir e um fluxo de caixa para a Embraer nos próximos dois anos”. 

Nem mesmo a volta atrás da Boeing, no início de 2020, pela compra da divisão comercial da Embraer foi capaz de azedar o humor do mercado sobre a fabricante. Em março daquele ano, a ação da companhia estava valendo R$ 7,74. Agora, o preço de tela, levando em consideração o fechamento do dia 16 de abril deste ano, é de R$ 31,76, uma valorização de mais de quatro vezes. Só neste ano, em termos percentuais, a ação ordinária sobe mais de 42%, liderando os ganhos do Ibovespa, principal índice da B3.  

Mas o que explica essa alta das ações?

Além da volta da demanda no setor aéreo, os bons resultados dos negócios em 2023 e a valorização do dólar em relação ao real também contribuem para esse otimismo. No ano passado, por exemplo, a empresa teve lucro líquido de R$ 333 milhões, uma alta de 94,73% em relação ao ano anterior.

“Com o câmbio favorável, a receita da Embraer melhora muito, já que a companhia está exposta ao dólar”, explica Faria.

A favor da fabricante brasileira de aeronaves, além da demanda dos super-ricos e da volta do consumo nas empresas, que gerou um aumento na procura global por jatos, principalmente nos EUA, está a sua divisão de Defesa, que promete ser muito promissora daqui para frente.

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Atualmente, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) não consegue ver no Hércules, fabricado pela Lockheed, o melhor produto de Defesa para avião de grande porte.

Com isso, a porta está aberta para o C-390 Millennium, da Embraer, ganhar a dianteira e melhorar ainda mais o fluxo de caixa da companhia. “Com a forte demanda e a guerra acontecendo, a sinalização da compra do C-390 pela OTAN, que não é um comprador atual, é positivo”, analisa Faria.

Segundo ele, colocando toda a conjuntura da indústria no modelo, mais o C-390 e a arbitragem com a Boeing, pelo desfazimento do negócio, faz da Embraer uma forte geradora de caixa, o que agrada o mercado. “Se fala entre US$ 300 milhões a US$ 400 milhões a favor da Embraer no caso Boeing, como forma de multa, além de juros e inflação. Isso daria mais ou menos 5% a 6% a mais no valor da ação, o que daria uns R$ 2 ou R$ 3 no preço”.

Ainda vale a pena entrar no papel?

Com o preço da ação sendo negociada no topo quando se comparado aos anos anteriores, a pergunta que fica é se ainda vale a pena comprar o papel, uma vez que, diante do cenário favorável, a tendência é de uma forte geração de caixa nos próximos anos.

“A gente não tem o papel. Estudamos, mas decidimos não entrar. A ação subiu muito e muito rápido”, disse uma grande gestora à Capital Aberto, que preferiu não se identificar.

Embora o cenário positivo já esteja totalmente precificado, fazendo com o que a ação já tenha chegado no topo para muitos analistas, uma divisão de negócio ainda não está na conta, de acordo com o gerente de renda variável da SulAmérica Investimentos. 

A EVE, companhia de carro voador elétrico da Embraer, é uma divisão que tem muito potencial, não apenas na Embraer, mas na indústria em geral. A nova empresa da fabricante brasileira aeronaves já recebeu quase 3 mil pedidos de intenções para aviões elétricos, mas que não são firmes.

“Se a EVE entregar todo do backlog de pedidos, poderia adicionar quase 30% a 50% de upside no papel”, afirmou um analista que acompanha o papel, mas que preferiu não se identificar.

Para o analista, ainda não dá para colocar a EVE no preço, uma vez que a entrega só deve começar em 2026, num cenário otimista. “A ação está a R$ 33. Na visão mais pessimista, eu (gestor) tenho que ganhar, mas eu tenho medo do preço da ação está muito valorizada”.

O nome da segurança

É importante frisar que, em momentos de dificuldades, o mercado sempre procura os papéis mais resilientes para investir por enxergarem certa “proteção”, como é o caso do setor elétrico, que paga bons dividendos.

E a Embraer, por estar exposta ao dólar, também deve acabar entrando nesse balaio. “Se o mercado estiver ruim, como nos últimos dias, a Embraer é o nome da segurança, da resiliência. Fora isso, é uma ação brasileira com exposição ao dólar, boa proteção para quem precisa alocar o equity”, salienta o gestor.